Image
Críticas

Adorável Clichê

: "O Que Existe Dentro De Mim"

Ano: 2018

Selo: Nuzzy Records

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Cora e My Magical Glowing Lens

Ouça: Crescer, Traços e Compressa

8.5
8.5

Resenha: “O Que Existe Dentro De Mim”, Adorável Clichê

Ano: 2018

Selo: Nuzzy Records

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Cora e My Magical Glowing Lens

Ouça: Crescer, Traços e Compressa

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2018

É difícil não se identificar com as canções de O Que Existe Dentro De Mim (2018, Nuzzy Records). Do momento em que tem início, em Traços (“A rotina envelhece mais que todos os cigarros / E a minha vida passa mais rápido que os carros se vão“), até alcançar a derradeira Artificial (“Eu não sei se você já percebeu / A gente já não se importa mais“), cada fragmento do primeiro álbum de estúdio da banda catarinense Adorável Clichê parece pensado para dialogar com os sentimentos mais profundos de todo e qualquer ouvinte.

São versos existencialistas, romances fracassados e conflitos pessoais típicos de jovens adulto. Canções que se projetam como um grito de angustiado do eu lírico, conceito reforçado com naturalidade em faixas como a amarga Eu Só Queria Que Tudo Tivesse um Fim. “Eu sempre entendo tanto do seu desespero / Eu sempre tento tanto te abraçar / Eu sempre perco o foco do meu desespero / Faz tempo que eu só me importo em te salvar“, cresce a poesia e voz de Gabrielle Philippi enquanto guitarras carregadas de efeito transportam o ouvinte para o início dos anos 1990.

Minucioso, como tudo aquilo que o grupo — completo pelos músicos Diogo Leal (bateria), Marlon Lopes da Silva (guitarra e voz) e Lucas Toledo Lugones (baixo) —, vem produzindo desde o EP São Tantos Anos Sem Dizer, de 2016, O Que Existe Dentro De Mim faz de cada composição um objeto precioso, sempre delicado, reflexo da completa entrega instrumental e poética de cada integrante da banda. Composições guiadas pela universalidade dos temas, como se Philippi cantasse sobre os principais tormentos na vida de qualquer indivíduo solitário.

Canções como Falsa Valsa (“Vai mas não esquece de voltar / Vai mas não esquece de ligar / Eu vou te esperar“), Compressa (“Eu tenho tanto pra pensar / E tanta coisa pra fazer / Que os carros passam buzinando / E o barulho que faz esquecer de tudo“) e Crescer (“Eu tenho medo, tenho os meus receios, meus segredos / Eu te entristeço, eu tiro o seu sossego, seu desejo / E eu vou te deixar agora“), em que a personagem central parece à beira de um colapso emocional. Versos que mesmo dolorosos, se revelam capazes de confortar o ouvinte, resultado da profunda honestidade que rege a poesia do disco.

A mesma força que embala os versos ecoa com naturalidade na fina tapeçaria instrumental tricotada pela banda para o trabalho. São batidas alinhadas e guitarras etéreas que passeiam pela obra de veteranos como Sonic Youth, Slowdive e Explosions In The Sky. Um som colorido, marcado pelas texturas e incontáveis camadas de distorção, cuidado que se reflete mesmo nas menores composições do disco, como na instrumental e curtinha Naquele Inverno. Composições que alternam de maneira expressiba entre a fúria e o parcial recolhimento, jogando com as emoções do ouvinte.

Produto das experiências e tormentos particulares de cada integrante da banda, O Que Existe Dentro De Mim avança criativamente em relação ao material entregue pelo grupo ha dois anos, nas canções de São Tantos Anos Sem Dizer. Perceba como cada composição do presente disco parece servir de passagem a faixa seguinte, resultando em uma obra tão concisa em seu aspecto lírico, quanto musicalmente. Melodias e vozes que se entrelaçam sem pressa, curiosas, fazendo da estreia do grupo catarinense uma das obras mais sensíveis da recente fase do rock nacional.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.