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Críticas

Gorduratrans

: "Paroxismos"

Ano: 2017

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock Alternativo, Shoegaze

Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Máquinas

Ouça: 7 Segundos e Linha Tênue

6.5
6.5

Resenha: “Paroxismos”, Gorduratrans

Ano: 2017

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock Alternativo, Shoegaze

Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Máquinas

Ouça: 7 Segundos e Linha Tênue

/ Por: Cleber Facchi 30/06/2017

Com o fim das atividades da gravadora Bichano Records, parte expressiva dos artistas relacionados ao selo começaram a migrar para outras plataformas de distribuição. É o caso da dupla carioca Gorduratrans, projeto comandado pelos músicos Felipe Aguiar (guitarra e voz) e Luiz Marinho (bateria e voz). Depois de um bom registro apresentado ao público há dois anos, Repertório Infindável de Dolorosas Piadas (2015), a banda passa a integrar o catálogo do selo paulistano Balaclava Records, casa do recém-lançado Paroxismos (2017).

Raivoso e denso, como tudo aquilo que a banda vem produzindo desde o começo da carreira, o trabalho de nove faixas e pouco menos de 40 minutos de duração encontra na força dos sentimentos e pequenas confissões intimistas a base para grande parte do registo. Uma coleção de versos sufocados pela saudade, reflexões existencialistas e delírios românticos, como uma necessário continuação do material explorado pela dupla carioca no álbum anterior.

Entre blocos de ruídos, a angústia escancarada nos versos. “Sete segundos pra eu acordar / E me deparar com o vazio / Que só não é maior que o vazio do meu peito, eu sei / Não é a solução“, explode a letra confessional logo nos primeiros minutos do disco, parte da inaugural 7 Segundos. Uma poesia angustiada que se repete em músicas como Quando boas lembranças se tornam uma tortura, quinta faixa do disco — “É melhor tentar esquecer você / Do que me torturar / Toda vez / Que a gente se encontrar“.

São versos centrados em diferentes desilusões e na autodepreciação de um mesmo personagem. “Eu sempre fui raso demais pra você / Tarde demais pr’eu entender / Você precisava de alguém que não fosse tão cru“, confessa o eu lírico em Raso Demais, um tortuoso exercício de pura exposição. Uma poesia pessimista, íntima de qualquer ouvinte apaixonado, base para músicas como Um Samba Sobre a Minha Cova (“De você não espero nada mais que / Seu desprezo / Sua desconsideração / Você vai me pisar / Você vai me trair / Todo mundo sabe / Todo mundo já sabe“).

Diferente do trabalho anterior, Paroxismos se distância de melodias complexas para se concentrar na formação de um som homogêneo, como fragmentos de uma imensa e ruidosa composição. São ambientações sujas, naturalmente íntimas do rock alternativo no começo dos anos 1990, conceito sutilmente rompido na semi-acústica Outra Vez, faixa de encerramento do trabalho. Um material propositadamente caótico, por vezes intransponível.

É justamente essa composição cerrada que prejudica a completa apreciação do trabalho. Faltam instantes de maior separação entre uma música e outra, proposta que acaba sufocando o ouvinte ao longo do álbum. Um direcionamento instrumental que dialoga de forma necessária com a poesia claustrofóbica de Felipe Aguira, porém, impede que o registro cresça para além do território anteriormente desbravado em Repertório Infindável de Dolorosas Piadas.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.