Image
Críticas

Luê

: "Ponto de Mira"

Ano: 2017

Selo: Pomm_elo / Natura Musical

Gênero: Pop, Soul, Trip-Hop

Para quem gosta de: Céu e Curumin

Ouça: Esse Amor e Declive

7.6
7.6

Resenha: “Ponto de Mira”, Luê

Ano: 2017

Selo: Pomm_elo / Natura Musical

Gênero: Pop, Soul, Trip-Hop

Para quem gosta de: Céu e Curumin

Ouça: Esse Amor e Declive

/ Por: Cleber Facchi 14/11/2017

Em 2012, quando foi apresentada ao público com A Fim de Onda, Luê Soares era apenas mais um nome na colorida explosão de artistas paraenses que consolidou o trabalho de Felipe Cordeiro, Jaloo e, principalmente, da cantora Gaby Amarantos. De lá para cá, a jovem original de Belém foi conquistando territórios, estreitando a relação com personagens influentes como Curumin e Matheus Brant, além, claro, de preparar o terreno para o segundo registro de inéditas da carreira, o recém-lançado Ponto de Mira (2017, Pomm_elo / Natura Musical).

Aventureiro quando próximo do material apresentado há cinco anos, o trabalho de dez faixas e produção assinada por Zé Nigro (Anelis Assumpção, Russo Passapusso) concentra nas batidas e temas eletrônicos um evidente ponto de transformação para a obra de cantora. Ambientações eletroacústicas que passeiam por entre ritmos como carimbó, soul, trip-hop, guitarrada, reggae e pop de forma sempre curiosa, como se Luê deliciosamente testasse os próprios limites, fazendo de cada composição um precioso objeto a ser desvendado pelo ouvinte.

Uma vez dentro desse rico cercado instrumental, Luê utiliza dos próprios sentimentos e pequenas confissões românticas como um poderoso elemento de conexão entre as faixas. Da abertura do disco, em Esse Amor (“Esse amor / Eu já sei como é / Eu já estive aqui / Já banhei nesse mar … Onda que bate forte / Melhor deixar levar / Senão afoga Engole, mata“), passando pela construção de músicas como Cheiro da Saudade e É Cedo, sobram emoções e temas que parecem pensados para fisgar o ouvinte logo em uma primeira audição.

Exemplo disso está em Chega Logo. Entre batidas e sintetizadores levemente dançantes, por vezes íntimos da obra de Rihanna e outros nomes do pop atual, Luê transforma os próprios sentimentos no componente central da canção. “Meu bem, não tire os olhos de mim / Enquanto eu danço, nada mais interessa / Se esse som te faz lembrar daqui / Arruma um jeito e vem pra cá depressa“, canta enquanto prepara o terreno para o refrão pegajoso: “Chega logo, chega logo, chega logo / Chega perto, chega perto, chega perto“.

Mesmo quando desacelera, como no brega sintetizado de É Cedo, nas batidas e versos de Calma (N’Soul) ou na derradeira Declive, difícil escapar da trama poética que se espalha de forma envolvente pelo interior do trabalho. Versos que assentam com delicadeza no fundo do ouvido, como se Luê fosse capaz de traduzir o que há de mais doloroso, provocante e intimista nas relações de qualquer ouvinte. Um som agridoce, feito para ser ouvido sem pressa, um minucioso jogo da cantora paraense com os instantes, crescendo de forma hipnótica a cada nova composição.

Produto direto da mudança de Luê para a cidade de São Paulo, Ponto de Mira nasce como uma obra de essência plural, urbana, reflexo da profunda interferência de um time seleto de convidados como Saulo Duarte, Curumin, Dustan Gallas, Fernando Catatau, Manoel Cordeiro, Bruno Buarque e Regis Damasceno. Canções que passeiam por diferentes cenários, gêneros e sentimentos, como se a cada fragmento detalhado no interior do disco, público e obra fossem transportados para um novo cenário, reforçando a força instrumental e poética que toma conta do álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.