Resenha: “Reassemblage”, Visible Cloaks

/ Por: Cleber Facchi 24/02/2017

Artista: Visible Cloaks
Gênero: Experimental, Electronic, Ambient
Acesse: http://www.visiblecloaks.com/

 

Imagine tudo que foi produzido em termos de experimentação com a música eletrônica na última década. Da chillwave de Neon Indian e Ford & Lopatin ao som torto explorado por Oneohtrix Point Never e Laurel Halo. Da vaporwave de 2 8 1 4, Macintosh Plus e Blank Banshee ao detalhamento atmosférico que escapa das composições de artistas como Julianna Barwick, Emeralds e Fennesz. Ideias, reciclagens e possibilidades que se agrupam de forma propositadamente instável em Reassemblage (2017, RVNG INTL), segundo registro de inéditas da dupla Visible Cloaks.

Inicialmente pensado como um trabalho solo do produtor Spencer Doran e batizado apenas como Cloaks, o projeto ganhou novos contornos com a chegada do músico e parceiro de estúdio Ryan Carlile. Do encontro, veio o primeiro álbum homônimo como Visible Clocks, um curioso ensaio para as canções que assumem nova formatação dentro do presente registro. Músicas essencialmente curtas, dinâmicas, porém, compostas por camadas de melodias eletrônicas, quebras e ritmos diferentes.

Obra de incertezas, Reassemblage parece mudar de direção a cada novo fragmento musical. Basta uma audição da atmosférica Screen, faixa de abertura do disco, para mergulhar no universo produzido pela dupla de Portland. Em um intervalo de apenas três minutos, tempo de duração da música, sintetizadores etéreos, pinceladas minimalistas e ruídos delicadamente se espalham ao fundo da canção, resultando em uma improvável encontro entre Killing Time de Nicolas Jaar e a trilha sonora de Vangelis para Blade Runner (1982).

Na contramão de outros projetos do gênero, em sua maioria centrados na força das batidas, o álbum de 11 canções – 15 na versão digital –, encontra nas melodias e bases eletrônicas o ponto de partida para grande parte das canções. Terceira faixa do disco, Bloodstream reflete com naturalidade esse conceito. Sintetizadores e entalhes minimalistas que se espalham durante toda a formação da faixa. Uma fina tapeçaria que cresce e ocupa todo a composição, completa pelo uso de vozes eletrônicas à la Daft Punk em The Game of Love.

Marcado pela forte similaridade com o trabalho de outros artistas, como Fatima Al Qadiri e James Ferraro, Reassemblage surge como uma coletânea de esboços, recortes e pequenos fragmentos instrumentais. De fato, veio da reprodução do material produzido por diferentes produtores e coletâneas como Fairlights, Mallets and Bamboo, de 2010, que Doran encontrou a base para o presente álbum. Uma rica sobreposição de ideias que dialoga de forma natural com a colorida e abstrata imagem de capa do trabalho.

Completo pela participação de um time de produtores, entre eles, a japonesa Miyako Koda, o músico Matt Carlson e o nova-iorquino Motion Graphics, Reassemblage é uma trabalho que cresce à medida que o ouvinte se perde dentro dele. Sem necessariamente aportar em um gênero ou território musical específico, faixa após faixa, Spencer Doran e o parceiro Ryan Carlile lentamente expandem o próprio domínio criativo, indo da musicalidade doce de Mimesis ao ambiente etéreo de Circle.

 

Reassemblage (2017, RVNG INTL)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never, Motion Graphics e Emeralds
Ouça: Valve, Mimesis e Neume

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.