Resenha: “Rimming Compilation”, Cadu Tenório

/ Por: Cleber Facchi 15/09/2016

Artista: Cadu Tenório
Gênero: Experimental, Ambient, Eletrônica
Acesse: http://cadutenorio.bandcamp.com/

 

Every fucking piece of art is incomplete”. A frase que inaugura Liquid Sky, uma das metades do duplo Rimming Compilation (2016, Brava / Sinewave), parece dizer muito sobre o som produzido pelo carioca Cadu Tenório. Em mais de uma década de atuação, o produtor que já colaborou com nomes como Juçara Marçal — no caótico Anganga (2015) — e esteve à frente do coletivo Sobre a Máquina, acabou encontrando no uso de pequenos fragmentos experimentais, ruídos e texturas abstratas a base para uma das discografias mais complexas da presente safra da música brasileira.

Primeiro registro solo de Tenório após uma sequência de obras colaborativas — caso do elogiado Banquete (2014), com Márcio Bulk —, o sucessor do atmosférico Vozes —12º lugar na nossa lista dos 50 Melhores Discos Nacionais de 2014 —, mostra o esforço do artista carioca em se reinventar. Duas metades completamente distintas de uma mesma obra, como se o produtor testasse diferentes fórmulas e possibilidades a cada nova composição.

Em Liquid Sky, Tenório apresenta ao público uma verdadeira colcha de retalhos e atos soltos. São fragmentos de vozes, ambientações serenas e todo um conjunto de peças avulsas. Uma seleção de 12 faixas que transportam o ouvinte para um universo de temas marcados pela ausência de sentido. O coro de vozes em Nozsa Wars, ruídos atmosféricos captados por Mallu Laet em Enter The Void, sons de objetos que se espalham ao fundo de 2300 AD.

De forma propositadamente irregular, Tenório brinca com a manipulação dos vocais — em 玄野 計 —, explora diferentes melodias de forma sempre contida — vide Star —, e ainda cria pequenos conexões com o trabalho de gigantes da ambient music — Death In Midsummer. Instantes que vão da calmaria (Enter The Void) ao caos (Nozsa Wars), fazendo do registro uma extensão alucinada e curiosamente colorida de tudo aquilo que o produtor vem desenvolvendo nos últimos dez anos.

A mesma pluralidade de temas acaba se repetindo na segunda metade do projeto, Phantom Pain. São cinco composições extensas, independentes, como bolsões de pura experimentação. A principal diferença em relação ao som produzido em Liquid Sky está na forma como Tenório parece brincar com a interpretação do ouvinte a todo instante. Um jogo contrastado de experiências que vão do sexo em Goodness Is Only Some Kind Of Reflection Upon Evil – música que utiliza de samples extraídos de filmes pornô –, ao mais completo detalhamento das serenas I Am A Sinner e Music For Airports (Airplanes, Hope And Sadness) – esta última, uma clara homenagem ao trabalho de Brian Eno.

Cercado por um time de colaboradores, entre eles o velho parceiro de banda, Emygdio Costa (Fábrica), durante toda a construção de Rimming Compilation, Tenório parece longe de uma possível zona de conforto. No interior de cada composição, fragmentos extraídos de diferentes produtos audiovisuais, vozes e arranjos que dançam de forma esquizofrênica na cabeça do ouvinte. Delírios instrumentais, batidas e colagens que dialogam de forma explícita com a imagem produzida para a capa do disco, trabalho que conta com a assinatura do artista gráfico Lucas Pires.

 

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Rimming Compilation (2016, Brava/Sinewave)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Ceticências, Cássio Figueiredo e Sentidor
Ouça: Enter The Void, I Am A Sinner e Music For Airports (Airplanes, Hope And Sadness)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.