Críticas

Kevin Morby

: "Singing Saw "

Ano: 2016

Selo: Dead Oceans

Gênero: Folk Rock, Indie,

Para quem gosta de: Woods, Cass McCombs

Ouça: I Have Been to the Mountain, Black Flowers

8.5
8.5

Resenha: “Singing Saw”, Kevin Morby

Ano: 2016

Selo: Dead Oceans

Gênero: Folk Rock, Indie,

Para quem gosta de: Woods, Cass McCombs

Ouça: I Have Been to the Mountain, Black Flowers

/ Por: Cleber Facchi 25/04/2016

Kevin Morby está longe de parecer um iniciante. São quatro registros de peso como baixista do Woods – Songs of Shame (2009), At Echo Lake (2010), Sun and Shade (2011) e Bend Beyond (2012); dois trabalhos em parceria com Cassie Ramone (ex-Vivian Girls) pelo The Babies – The Babies (2011) e Our House on the Hill (2012) –, além de uma sequência de obras em carreira solo – Harlem River (2013) e Still Life (2014). Ainda assim, é com o recente Singing Saw  (2016, Dead Oceans) que o cantor e compositor norte-americano oficialmente se apresenta ao “grande público”.

Obra mais acessível e madura de toda a discografia de Morby – pelo menos em carreira solo –, o registro que conta com produção de Sam Cohen – músico que já trabalhou com artistas como Norah Jones e Shakira – dá um salto em relação ao material apresentado nos dois primeiros discos de inéditas do cantor. O mesmo folk rock nostálgico inaugurado em Harlem River, porém, encorpado por uma série de novas referências, grande parte delas ancoradas em elementos vindos dos anos 1960 e 1970.

Da relação com a música negra que cresce no canto gospel de Black Flowers e I Have Been to the Mountain, passando pelas guitarras e temas psicodélicos da extensa faixa-título, até alcançar o som intimista de Ferris Wheel, durante toda a construção da obra, Morby e o imenso time de colaboradores brincam com a música lançada há mais de quatro décadas. Um catálogo de ideias que esbarra na obra de Bob Dylan – Blood on the Tracks (1975) – e Neil Young – After the Gold Rush (1970) e Harvest (1972) –, porém, preservando a identidade musical do artista.

Com nove músicas e pouco mais de 40 minutos de duração, Singing Saw é uma obra marcada pelos instantes. Trata-se de um disco essencialmente dinâmico, típico do período que inspira Morby. O canto melancólico em Drunk and On a Star, arranjos e versos comerciais em Destroyer e Dorothy, e pequenos atos de experimento. A diferença está na riqueza dos detalhes – vozes, batidas, guitarras e sintetizadores – que se espalham ao fundo do trabalho e, principalmente, na forma como os versos dialogam com o presente.

Aquele homem viveu nesta cidade / Até que aquele porco o levou para baixo / Você já ouviu o som da respiração humana parar, implorando?”, canta Morby em I Have Been to the Mountain, uma homenagem ao vendedor de cigarros Eric Garner, estrangulado e morto durante uma abordagem policial, em julho de 2014. De fato, da abertura, com Cut Me Down, passando por faixas como como Destroyer e Water, Singing Saw flerta com a morte a todo instante, dialogando com elementos que vão além do universo particular do cantor.

Tamanha sobriedade em nenhum momento interfere na leveza que sustenta e movimenta grande parte da obra. Diferente dos antecessores Harlem River e Still Life, em Singing Saw, Kevin Morby finaliza um trabalho que sutilmente acolha o ouvinte durante a execução da cada composição. São vozes em coro que se espalham ao fundo do registro, guitarras marcadas pelo uso de arranjos nostálgicos e versos que se aproximam do ouvinte de forma sempre descomplicada, honesta.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.