Duda Beat
: "Sinto Muito"Ano: 2018
Selo: Independente
Gênero: Pop, Alternativa, Indie
Para quem gosta de: Letrux e Alice Caymmi
Ouça: Bixinho, Bédi Beat e Parece Pouco
Ano: 2018
Selo: Independente
Gênero: Pop, Alternativa, Indie
Para quem gosta de: Letrux e Alice Caymmi
Ouça: Bixinho, Bédi Beat e Parece Pouco
Os sentimentos escorrem por entre as brechas de Sinto Muito (2018, Independente). Do momento em que tem início, na confessional Bédi Beat (“E eu vivia à flor da pele nem percebia / Que das vezes que eu ria era vontade de chorar“), passando pela construção de músicas como Back To Bad (“Eu nunca fui tão humilhada nessa vida por você, meu amor / A vida toda eu quis me dar inteira / Mas você só queria a metade“), cada fragmento do trabalho de 11 faixas reflete não apenas a alma de sua realizadora, a cantora e compositora pernambucana Duda Beat, como, principalmente, os conflitos e desilusões de qualquer indivíduo apaixonado.
Doloroso e deliciosamente romântico, o registro que conta com produção do amigo de infância da cantora, o músico Tomás Tróia (ex-R. Sigma), e versos assinados pela própria Beat, parece jogar com os pequenos contrastes, se espalhando em meio a memórias recentes, relacionamentos fracassados e a permanente busca do eu lírico — talvez a própria Eduarda Bittencourt, verdadeiro nome da cantora — em encontrar um novo amor. Um precioso ato de desconstrução e reconstrução sentimental.
“Ei, meu bem / Com esse sotaque cê me deixa louca / Cheira meu cabelo, aperta minha coxa / Que com esse beijo cê me deixa doida”, se desmancha em Bixinho, um dos instantes de maior leveza da obra, contraponto ao material entregue logo na faixa seguinte, a amarga Pro Mundo Ouvir (“Se tu diz que não me aguenta pra que veio? / Você não me merece / Por favor vê se me esquece / Se não quer não me dá like / Nem fica com esse disfarce“). Frações poéticas que refletem a completa vulnerabilidade da cantora/protagonista, conceito reforçado na melancolia doce de Parece Pouco (“Eu vi que você não ligou / Mas andou perguntando como é que eu tô / Me diga muito honestamente / Que tipo é o seu amor?“).
É dentro desse ziguezaguear de ideias e recordações tão intimistas que Sinto Muito prende a atenção do ouvinte. Difícil não se deixar levar pela poesia honesta de Beat, sempre inclinada a compartilhar as próprias experiências. Uma fina representação da alma feminina, seus medos e desejos, conceito que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Todo Carinho, uma das canções mais sensíveis do trabalho — “Beijei ontem à noite / Mas acordei sozinha / Difícil de falar dessas relações / Eu sou de outro tempo / Amor que é pra sempre / E tanto sentimento guardado pra nós dois“.
Curioso notar que mesmo doloroso na formação dos versos, Sinto Muito está longe de parecer uma obra melancólica em excesso, talvez arrastada. Pelo contrário, poucas cantoras brasileiras parecem capazes de confessar os próprios sentimentos com tamanha naturalidade, dentro de uma linguagem tão pop e acessível quanto Beat. Parte dessa fuga do óbvio está na rica base instrumental montada para o disco. Sem necessariamente se fixar em um gênero ou conceito específico, a cantora e o parceiro de produção vão do R&B ao brega, do trap ao axé em uma montagem colorida, por vezes dançante, como se cada faixa servisse de passagem para um novo universo criativo.
Peça fundamental em uma sequência de obras que vêm revolucionando o pop brasileiro nos últimos meses, como Letrux Em Noite de Climão (2017), da parceira Letícia Novaes, e Alice (2018), terceiro e mais recente álbum de Alice Caymmi, Sinto Muito, mais do que um registro de estreia, se projeta como uma consolidação do trabalho de Duda Beat, colaboradora em diferentes projetos da cena carioca. São canções produzidas sem pressa, em um intervalo de dois anos e “com muito carinho“, como explicou em entrevista ao Scream & Yell. Frações sentimentais tão íntimas da cantora quanto do próprio ouvinte.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.