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Críticas

Lykke Li

: "So Sad So Sexy"

Ano: 2018

Selo: RCA

Gênero: Pop, R&B

Para quem gosta de: Robyn, Santigold e La Roux

Ouça: Hard Rain e Utopia

6.0
6.0

Resenha: “So Sad So Sexy”, Lykke Li

Ano: 2018

Selo: RCA

Gênero: Pop, R&B

Para quem gosta de: Robyn, Santigold e La Roux

Ouça: Hard Rain e Utopia

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2018

Lykke Li sempre lidou com os próprios sentimentos de forma bastante sensível. Seja no pop intimista de Youth Novels (2008) ou na profunda dramaticidade explicita nas canções de Wounded Rhymes (2011) e I Never Learn (2014), cada novo trabalho assinado pela cantora e compositora sueca parecia transportar o ouvinte para dentro de um território essencialmente particular, sempre doloroso e honesto, como uma fuga declarada do romantismo clichê, pequenos excessos e toda plasticidade evidente no pop comercial.

Talvez, por isso, mergulhar nas canções de So Sad So Sexy (2018, RCA), quarto e mais recente álbum de inéditas da cantora, se revele como uma experiência tão desconfortável quanto curiosa. Longe do som minucioso que vinha explorando desde o início da carreira, Li decidiu se entregar ao pop em sua forma mais acessível, provando de elementos do R&B, trap e hip-hop de maneira explícita. Da construção dos arranjos ao uso descomplicado das rimas e versos cíclicos, poucas vezes antes a artista sueca pareceu tão íntima do grande público quando no presente álbum.

Seja na lenta composição das batidas, em Deep End, música em que flerta com a boa fase de Beyoncé no homônimo álbum de 2013, passando pelos pianos marcados e beats de Two Nights, pareceria com Aminé que poderia facilmente ser encontrada em alguma mixtape de Drake, cada fragmento do disco parece distanciar a cantora dos antigos projetos. Uma propositada quebra de expectativa, visto que Li passou os últimos meses revisitando diferentes clássicos, como Unchained Melody e Time In a Bottle, além, claro, do LIV, projeto paralelo em que parecia dialogar com a obra do Fleetwood Mac.

Obviamente minhas influências mudaram e, depois de dez anos, espero ser uma cantora e compositora melhor, mas a abordagem sempre foi a mesma, capturando meus sentimentos da maneira mais honesta possível. Mentalmente, eu ainda sou a mesma perdedora“, disse em entrevista. De fato, mesmo incorporando uma nova sonoridade, seria um erro afirmar que a identidade da artista sueca foi corrompida. Basta voltar os ouvidos para o canto amargo que escorre por entre os versos de Better Alone ou na poesia intimista de Utopia, música composta em homenagem à mãe e ao filho recém-nascido. Indicativos do cuidado e profunda entrega da cantora.

Entretanto, o vívido esmero na composição dos versos está longe de garantir ao ouvinte uma obra verdadeiramente interessante. Despida de velhos conceitos, Li e os produtores do disco tropeçam a todo instante em pequenos clichês, repetições e faixas que pouco se distanciam umas das outras. Falta identidade. São poucos os momentos do disco, como na inaugural Hard Rain, colaboração com Rostam Batmanglij (Carly Rae Jepsen, HAIM), em que a cantora vai além da mera reciclagem de ideias.

Mesmo pensado como um exercício de estilo, So Sad So Sexy está longe de parecer uma decepção. Pelo contrário, boas composições ecoam a todo instante, vide a preciosa faixa-título e grande parte do material entregue à porção final do disco. Trata-se apenas de uma obra menor, ainda mais quando voltamos os ouvidos para outros trabalhos recentes que partilham da mesma identidade musical. Um claro emular de sensações e experiências, como se Lykke Li fosse capaz apenas raspar a superfície dos antigos projetos.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.