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Críticas

Hatchie

: "Sugar & Spice"

Ano: 2018

Selo: Double Double Whammy

Gênero: Dream Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Sky Ferreira e Cocteau Twins

Ouça: Sure e Sugar & Spice

8.0
8.0

Resenha: “Sugar & Spice”, Hatchie

Ano: 2018

Selo: Double Double Whammy

Gênero: Dream Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Sky Ferreira e Cocteau Twins

Ouça: Sure e Sugar & Spice

/ Por: Cleber Facchi 30/05/2018

Guitarras carregadas de efeitos, sintetizadores cuidadosamente bem-posicionados e pequenos respiros instrumentais que se abrem para a chegada dos versos, sempre melancólicos, honestos: “Você diz que quer que acabe / Mas isso realmente acabou? / E se nunca acabar“. Basta uma rápida audição de Sure, faixa de abertura de Sugar & Spice (2018, Double Double Whammy), para que o ouvinte seja rapidamente transportado para dentro do universo particular de Harriette Pillbeam.

Mais conhecida pelo trabalho como colaboradora em bandas como Go Violets e Babaganouj, a cantora e compositora australiana estreia em carreira solo sob o título de Hatchie, fazendo das próprias desilusões e romances o principal componente criativo para cada uma das cinco faixas do registro. Exemplo disso está em Sleep, música em que confessa sentimentos (“Apenas venha me ver em meus sonhos / Não é de admirar que eu esteja sorrindo enquanto durmo“) enquanto guitarras e sintetizadores etéreos convidam o ouvinte a flutuar.

Sem necessariamente buscar referência em um conceito ou década específica, Pillbeam vai do dream pop produzido pelo Cocteau Twins no início dos anos 1990 ao pop nostálgico de nomes recentes como Sky Ferreira e Rina Sawayama. Difícil ouvir a faixa-título do disco e não perceber nos som empoeirado das batidas e vozes um claro diálogo com Emotion (2015), de Carly Rae Jepsen. Similaridade reforçada desde a inaugural Sure, música que ainda dialoga com o bem-sucedido debute do The Pains of Being Pure at Heart.

São três ou mais décadas de referências que se revelam ao público em pequenas doses, cuidado evidente na quarta faixa do disco, Try. Em um intervalo de poucos minutos, Pillbeam não apenas resgata a essência melódica de veteranos como Sixpence None the Richer e The Cranberries, como ainda se entrega ao mesmo pop lo-fi de artistas como Alvvays, mudando de direção a todo instante. Mesmo o romantismo agridoce da canção partilha das desilusões típicas de jovens adultos.

Menos enérgica, mas não menos expressiva que o restante da obra, a derradeira Bad Guy delicadamente amplia a essência melancólica que vem sendo explorada pela cantora desde a faixa de abertura do EP. “Talvez da próxima vez possamos resolver isso / Mas minha cabeça e meu coração estão emaranhados por enquanto“, canta enquanto camadas de ruídos ganham forma aos poucos, ampliando os limites da obra e reforçando a essência intimista que embala o registro.

Grandioso mesmo na curta duração de seus atos, Sugar & Spice reflete o claro amadurecimento de Pillbeam quando próxima de toda a sequência de obras produzidas em diferentes projetos nos últimos anos. Do momento em que tem início, em Sure, até alcançar o último verso de Bad Guy, perceba como a artista, em parceria com o produtor John Castle, se esquiva de possíveis excessos, fazendo de cada fragmento do disco, mesmo o mais inexpressivo, um vívido elemento de destaque.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.