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Críticas

Maglore

: "Todas As Bandeiras"

Ano: 2017

Selo: Deck Disc

Gênero: Pop Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: O Terno e Dingo Bells

Ouça: Aquela Força, Todas as Bandeiras e Calma

8.5
8.5

Resenha: “Todas As Bandeiras”, Maglore

Ano: 2017

Selo: Deck Disc

Gênero: Pop Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: O Terno e Dingo Bells

Ouça: Aquela Força, Todas as Bandeiras e Calma

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2017

Poucos artistas nacionais recentes parecem ter compreendido tão bem a própria obra e evoluído mesmo em um curto espaço de tempo quanto a banda baiana Maglore. Do pop-rock inofensivo que marca o inaugural Veroz (2011), passando pela mistura de ritmos em Vamos Pra Rua (2013), até o flerte com a música psicodélica e o rock dos anos 1970 no maduro III (2015), cada novo álbum do grupo de Salvador evidencia um rico salto criativo, cuidado evidente no quarto e mais novo álbum de inéditas da banda, Todas as Bandeiras (2017, Deck Disc).

Salpicado por referências políticas e debates sociais, como indicado logo na faixa-título do disco – “O tempo passa e o herói fica sozinho / Mas em qual herói vamos confiar” –, o sucessor de músicas como Dança Diferente e Café Com Pão mostra o esforço do grupo – hoje formado por Teago Oliveira, Lelo Brandão, Felipe Dieder e Lucas Oliveira –, em dialogar com o presente, se reinventando dentro de estúdio. Trata-se de uma clara continuação do trabalho apresentado há dois anos, porém, ampliando a visão do eu lírico, cada vez mais distante de temas pessoais, centrado em aspectos recentes da nossa sociedade.

De essência libertária, vide a poesia explorada na inaugural Aquela Força – “Uma busca forte pra se libertar / Aí ela foi crescendo / Os seus medos foi vencendo” –, Todas as Bandeiras sustenta no jogo rápido de palavras o principal estímulo para a construção dos arranjos. Do momento em que tem início até a derradeira Valeu, Valeu, cada fragmento do álbum serve de base para a canção seguinte. Um registro feito para ser ouvido em uma só tacada, como se uma imensa composição de 37 minutos fosse quebrada em pequenos atos, garantindo dinamismo e força ao trabalho.

Um bom exemplo desse resultado está na enérgica Hoje Eu Vou Sair, sexta composição do disco. Entre guitarras sobrepostas, emulando o mesmo rock psicodélico testado no trabalho anterior, versos angustiados explodem de forma catártica e raivosa – “Essa armadura não me cabe mais / Já foi bem mais forte do que cocaína / Já abriu ferida no mesmo lugar“. O mesmo acabamento ecoa mesmo na pop Clonazepam 2 mg ou na dançante Jogue Tudo Fora, música que mais se aproxima dos primeiros trabalhos do grupo baiano, principalmente o colorido Vamos Pra Rua.

Com a chegada de Quando Chove No Varal, um respiro leve, como uma fuga dos excessos e quebras bruscas que marcam o primeiro ato do registro. Guitarras enevoadas e sintetizadores que dançam de forma a complementar a voz serena de Oliveira. Um verdadeiro preparativo para o material que chega logo em sequência com a nostálgica Calma. Produto direto das principais referências do grupo baiano, principalmente The Beatles, a faixa que passeia pelos anos 1960/1970 carrega nos versos uma poesia harmoniosa, melódica, feita para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição – “Calma / O tempo é o seu melhor amigo / Eu sei que isso não faz sentido agora“.

Sorridente, mesmo na angústia sóbria que invade os versos e serve de ponte para o presente cenário brasileiro, Todas as Bandeiras mostra o esforço da Maglore em amadurecer conceitualmente, porém, preservando a mesma jovialidade e força dos primeiros experimentos dentro de estúdio. Um cuidado que se reflete em cada fragmento de voz, arranjo ensolarado ou mínima fração instrumental do disco, esforço que passa pela produção atenta de Rafael Ramos e Leonardo Marques, mas que cresce, principalmente, na atuação em conjunto e interferência de cada integrante da banda.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.