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Críticas

Cat Power

: "Wanderer"

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: Indie, Folk, Sadcore

Para quem gosta de: Feist e Sharon Van Etten

Ouça: Woman, Stay e Horizon

7.0
7.0

Resenha: “Wanderer”, Cat Power

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: Indie, Folk, Sadcore

Para quem gosta de: Feist e Sharon Van Etten

Ouça: Woman, Stay e Horizon

/ Por: Cleber Facchi 09/10/2018

Se você ouvir alguns dos trabalhos mais dolorosos produzidos na última década, vai perceber em cada um deles a essência de Cat Power. De Are We There (2014), obra-prima de Sharon Van Etten, passando pelo canto enevoado de Lana Del Rey, em Ultraviolence (2014) e Lust For Life (2017), cada fragmento poético ou melodia embriagada parece apontar para a extensa discografia compartilhada pela cantora e compositora norte-americana. Um permanente estágio de reverência, conceito que se reflete mesmo em Wanderer (2018, Domino), claro exercício da artista em revisitar a própria obra.

Do momento em que tem início, na dobradinha composta pela faixa-título e In Your Face, até alcançar a derradeira Wanderer/Exit, cada elemento do presente disco parece apontar para a boa fase da Chan Marshall em dois de seus principais trabalhos de estúdio, You Are Free (2003) e The Greatest (2006). Composições que transitam entre o folk, o blues e cancioneiro norte-americano, como uma fuga propositada dos temas eletrônicos e melodias sintéticas sutilmente exploradas pela durante o lançamento do álbum anterior, Sun (2012).

Exemplo disso ecoa com naturalidade em You Get, terceira faixa do disco. Incialmente guiada pela voz e guitarras arrastadas de Marshall, lentamente a canção se abre para a inserção de batidas complementares, vozes carregadas de efeitos e melodias detalhistas, lembrando parte do material entregue na coletânea de versões Jukebox (2008). Em Nothing Really Matters, nona composição do álbum, uma clara tentativa da cantora em emular os instantes de maior recolhimento em obras como Myra Lee (1996) e What Would the Community Think (1996), sufocando em meio a versos e pianos melancólicos.

Claro que nem tudo pode ser encarado como um permanente resgate da própria obra de Cat Power. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade em Horizon, quinta música do álbum. Inaugurada em meio a pianos e guitarras introspectivas, a faixa ganha fôlego aos poucos, convidando o ouvinte a mergulhar em camadas de fina distorção e colagens eletrônicas, lembrando uma versão ainda mais polida do som explorado por Bon Iver no homônimo disco de 2011.

A própria tentativa de Marshall em dialogar com novos representantes da música norte-americana funciona como um claro indicativo da força criativa de Wanderer. São nomes como a cantora Lana Del Rey, com quem divide a crescente Woman, síntese conceitual do som explorado no decorrer da registro, além, claro, da breve interferência do saxofonista Nico Segal, principal parceiro de Chance The Rapper no coletivo Donnie Trumpet and The Social Experiment. Mesmo a delicada adaptação de Stay, música originalmente composta por Mikky Ekko para o álbum Unapologetic (2012), de Rihanna, mostra o esforço da artista em se reinventar dentro de estúdio, porém, preservando a própria identidade.

Primeiro registro de Cat Power longe da Matador Records – Marshall trocou de selo alegando que a gravadora estava em busca de um som mais próximo do trabalho produzido pela cantora Adele –, Wanderer nasce como um reflexo da presente fase da artista, hoje mãe e cada vez mais distante dos antigos problemas com álcool. Canções ainda entristecidas, marcadas pela dor da separação e inevitável distanciamento entre os indivíduos, porém, esperançosas, como um breve respiro criativo na carreira da artista.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.