Sónar São Paulo 2015: Os erros e acertos do festival

/ Por: Cleber Facchi 01/12/2015

000000miojo01Créditos: Eduardo Magalhães 

No último sábado (28), a cidade de São Paulo recebeu o festival catalão Sónar, evento que nasceu em Barcelona e teve sua terceira edição em terras paulistanas. Depois de trazer sua versão menor, o Sonar Sound, em 2004, veio com sua versão ampliada em 2012, evento que aconteceu durante dois dias e trouxe nomes como Justice, James Blake, Kraftwerk, MF Doom, Flying Lotus, Totally Enormous Extinct Dinosaurs e mais uma variedade de artistas gringos e nacionais. Já a edição 2015 do evento passou longe do resultado apresentado há três anos – praticamente ou showcase ou festinha descompromissada.

Desde o anúncio das atrações, em 2014, já havia algo errado, afinal, depois de tanto alvoroço em cima da programação, a produção do evento acabou divulgando apenas sete atrações. Era o Sónar mesmo ou um festival evento no Sesc? Como headliners, a dupla The Chemical Brothers e o coletivo Hot Chip – ambos responsáveis por dois registros de peso lançados em 2015. O destaque também ficou por conta dos produtores Evian Christ e Pional, talvez os únicos que se caracterizam como música avançada. Completaram o line-up o francês Brodinski, a produtora chilena Valesuchi e o brasileiro Zopelar.

000000miojonosonarCréditos: Eduardo Magalhães 

Enfim chegou o grande dia do evento, que na verdade ocorreu durante toda a semana, com exibições de filmes, palestras e oficinas, mas o principal que era o dia dos shows, que foi apenas no sábado. O festival aconteceu no Espaço das Américas, casa de show famosa por shows de sertanejo e pagode, mas que por incrível que pareça, foi uma bela escolha para o festival – claro, isso de acordo com a proposta que foi oferecida pelo Sonar São Paulo. Bem localizado, ao lado de uma estação de metro e trem, táxis e ônibus espalhados pela região. Mesmo o som da casa também parecia adequado, atendimento e a limpeza foram bem feitos. Tudo organizado.

Já as apresentações, todas pontuais, mostram que os pouquíssimos artistas escalados, foram bem escolhidos, todos com sets e show incríveis. Destaque para o jovem Evian Christ, que fez um set impecável, cheio de graves e texturas. Sorte que o Evian é talentoso e segurou bem o público que ainda estava chegando ao evento. Na sequência o francês Brodinski começou animar o público que começava a encher o evento e disparou uma sequência de techno e house europeu, caindo por vezes nas batidas mais urbanas, como o trap.

Em seguida o grande nome da noite, a dupla Chemical Brothers, fazendo um show sem igual, pouco encontrado na música eletrônica atual. Tom Rowlands e Ed Simons subiram ao palco com seus sintetizadores analógicos, um monte de equipamento e fios, que foram “todos” usados e controlados durante de cerca de 90 minutos de puro êxtase. Houve boatos que Ed Simons não se apresentaria no festival, já que o produtor estava afastado dos palcos, interessado apenas produzir e dar aulas. Para a felicidade do público, lá estava ele em cima do palco.

O show começou com o clássico Hey Boy, Hey Girl, daí em diante, caiu uma chuva de clássicos e hits da dupla, misturado com faixas de seu novo disco, Born in the Echoes (2015). Todas as faixas foram tocadas ao vivo, muitas delas com versões um pouca mais rápidas e até mashups entre suas músicas, com acapella de uma e instrumental de outra. A cada introdução, assim que o público ouvia versos dos hits, uma verdadeira festa era montada. Com charme de rave Londrina e muita alegria por ambas as partes, eles encerraram uma das apresentações mais grandiosas que o público viu em São Paulo. E não podemos esquecer a  grande participação especial de dois robôs gigantes no fundo do palco, que tornou tudo ainda mais divertido.

O brasileiro Zopelar fez um esquenta para a próxima atração, os britânicos do Hot Chip. Uns gostaram, outros estavam com sono e tédio, mas logo o palco começou a ser montado e a pista indie dançante se formou. A banda subiu ao palco e já começou com a linda canção Huarache Lights, depois seguiu com One Life Stand e Night and Day. O hit Ready For The Floor e a ótima Need You Now, tornaram o show ainda melhor. Comparado com outras apresentações da banda, posso dizer que apesar de meio tímidos no palco do Sónar, foi o melhor show da banda em São Paulo. Rolou até uma pitada de All My Friends, do LCD Sounsystem.

Para fechar a noite, o produtor Pional fez um bom trabalho, mas o público já exausto, começavam a ir embora, enquanto os festeiros partiram para after party que rolava em um clube na mesma região.

000000miojo02Créditos: Eduardo Magalhães 

Por fim, o evento teve sim boas atrações, o lugar atendeu bem o público e a energia de festival sobressaiu, deixando tudo mais legal, apenas energia e não “experiência” de festival. Porém foi a pior edição do evento em São Paulo e talvez de toda sua história. Poucas atrações, enquanto suas edições irmãs na América do Sul tem quatro palcos. Ingressos superfaturados – 550 reais inteira e R$ 275 meia-entrada – ainda contavam com taxas abusivas nas compras pela internet.

Enquanto a cerveja e o energético saíram baratos, a água acabou custando seis reais, fora que a comida gourmetizada custava quase o valor dos ingressos oferecidos pelos cambista. Também não havia lugar para descanso e faltou ar-condicionado. Difícil aceitar que o festival contou com a mesma produção da edição anterior do evento.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.