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Crítica

Turnstile

: "Glow On"

Ano: 2021

Selo: Roadrunner

Gênero: Rock, Pós-Hardcore

Para quem gosta de: Dogleg e Cloud Nothings

Ouça: Mystery e Blackout

8.0
8.0

Turnstile: “Glow On”

Ano: 2021

Selo: Roadrunner

Gênero: Rock, Pós-Hardcore

Para quem gosta de: Dogleg e Cloud Nothings

Ouça: Mystery e Blackout

/ Por: Cleber Facchi 15/09/2021

Você não precisa ter escutado qualquer outro trabalho produzido pelo Turnstile para se sentir atraído pelas canções de Glow On (2021, Roadrunner). Terceiro e mais recente álbum de estúdio da banda original de Baltimore, Maryland, o sucessor de Time & Space (2018), lançado há três anos, mostra o completo amadurecimento e busca por novas possibilidades do grupo formado por Brendan Yates, Franz Lyons, Daniel Fang, Brady Ebert e Pat McCrory. São composições que preservam a essência dos antigos registros do quinteto estadunidense, com suas quebras rítmicas e linhas de vozes deliciosamente melódicas, porém, adornadas pela inserção de diferentes gêneros e saídas criativas totalmente inusitadas.

Inaugurado em meio a camadas de sintetizadores e melodias cósmicas, marca da introdutória Mystery, o trabalho rapidamente desemboca em uma colisão de vozes berradas, guitarras e batidas fortes, lembrando as criações de artistas apresentados pela Epitah Records no final dos anos 1990. O mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo na música seguinte, Blackout, composição que ora aponta para as criações de veteranos como Refused e Millencolin, ora faz lembrar do som produzido por outros nomes recentes do pós-hardcore, como Touché Amoré e Joyce Manor. Um permanente cruzamento de informações que combina mais de três décadas de referências de forma sempre urgente.

Entretanto, é com a chegada de Don’t Play, terceira faixa do disco, que Glow On realmente diz a que veio. Inicialmente marcada pela crueza das batidas e guitarras, a faixa assume um rumo totalmente inesperado. São elementos de samba e baião, indicativo da pluralidade de ideias que pouco a pouco são incorporadas pelo quinteto ao longo do trabalho. E isso fica bastante evidente em Underwater Boi, composição que evoca as guitarras de Prince em Purple Rain (1984), porém, preservando a identidade do grupo de Baltimore. Esse mesmo tratamento nostálgico volta a se repetir minutos à frente, em New Heart Design, música que parece saída de algum exemplar da New Wave.

São ecos de R&B, música eletrônica, funk, shoegaze e pop punk, estrutura que poderia facilmente se perder nas mãos de outros artistas, mas que parece bem-resolvida na interferência criativa do experiente Mike Elizondo (Fiona Apple, Mastodon), multi-instrumentista e produtor que acompanhou o quinteto durante toda a execução da obra. E isso fica bastante evidente na criação de faixas como Alien Love Call e Lonely Dezires, composições que se completam pela inusitada participação de Blood Orange, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o restante do álbum, indicativo do completo esmero e domínio da banda durante toda a execução do trabalho.

Interessante notar que mesmo marcado pelas possibilidades e criativa colagem de elementos, Glow On em nenhum momento deixa de dialogar com o ouvinte tradicional. Como indicado logo nos primeiros minutos da obra, na dobradinha composta por Mystery e Blackout, o registro mantém firme a essência de outros exemplares do gênero, revelando ao público uma seleção de faixas marcadas pela intensidade dos elementos. Canções como Fly Again, Dance-Off e todo um fino repertório em que os integrantes se revezam na construção dos arranjos e vozes berradas, como uma interpretação ainda mais urgente de tudo aquilo que o grupo havia testado durante o lançamento de Time & Space.

Mesmo a construção dos versos, sempre consumidos pela força dos sentimentos, parece melhor explorada em relação aos antigos trabalhos da banda. “O cérebro está nas nuvens / Abatido toda vez que dou uma volta e tento tirá-lo do chão / Seguindo um sentimento em meu coração / Mesmo que tudo desmorone“, cresce a letra de Endless, música que sintetiza parte da visceralidade e entrega explícita durante toda a execução da obra. São tormentos existencialistas, desilusões amorosas, medos e conflitos pessoais, estrutura que naturalmente estreita a relação com o ouvinte, porém, rompe com qualquer traço de previsibilidade frente ao turbulento exercício instrumental que orienta a construção do álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.