Ano: 2024
Selo: Warner Music Japan
Gênero: Art Rock, Música Ambiente
Para quem gosta de: Brian Eno e Oren Ambarchi
Ouça: Step Into Exovera e Forbidden Apple
Ano: 2024
Selo: Warner Music Japan
Gênero: Art Rock, Música Ambiente
Para quem gosta de: Brian Eno e Oren Ambarchi
Ouça: Step Into Exovera e Forbidden Apple
Mesmo vindo de um trabalho ainda recente, o bom Dream In Dream (2023), Keigo Oyamada, o Cornelius, passou os últimos meses revirando os próprios arquivos e investindo na produção de faixas marcadas pelo forte aspecto contemplativo. O resultado desse processo de imersão, que ainda estreita laços com o mundo espiritual, está na apresentação de Ethereal Essence (2024, Warner Music Japan), um misto de coletânea e álbum de inéditas que mais uma vez destaca o meticuloso processo de criação do instrumentista japonês.
Feito para ser absorvido aos poucos, Ethereal Essence estabelece na introdutória Quantum Ghost parte dos elementos que serão explorados pelo artista ao longo da obra. São incontáveis camadas de sintetizadores e ambientações eletrônicas que partem de uma abordagem sutil, porém, lentamente convidam o ouvinte a se perder em um mundo mágico. Nada que pareça diminuir a inserção das sempre mutáveis guitarras que há tempos acompanham o músico, conceito reforçado em canções como Sketch For Spring e Melting Moment.
Entretanto, é quando todos esses elementos se organizam que Cornelius abre passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso de Step Into Exovera. São pouco mais de seis minutos em que o instrumentista se aventura na construção de um material que encanta pelo uso de pequenos acréscimos e sobreposições que culminam em um fechamento totalmente catártico. São elementos percussivos, cordas, vozes carregadas de efeitos, ruídos e ambientações cósmicas que hipnotizam pela precisão dos detalhes.
Esse mesmo capricho no processo de composição acaba se refletindo mesmo nos momentos em que usa de uma abordagem mais pop, como na doce psicodelia de Too Much Love For Sauna (Falling Deep), faixa em que rompe com o caráter instrumental do registro para destacar a construção dos versos. Outra que chama a atenção pela inserção das vozes é Koko. Parte de uma instalação artística da qual foi colaborador, a criação aos poucos converte a voz do poeta Shuntaro Tanikawa em música, ampliando os limites da obra.
O mais interessante dentro dessa jornada sensorial proposta por Cornelius talvez seja perceber o cuidado do artista em amarrar canções lançadas em momentos completamente diferentes no decorrer da carreira. Forbidden Apple, por exemplo, foi originalmente apresentada há três anos, como parte de uma plataforma de áudio 360 desenvolvida pela Sony. Já a releitura para Thatness and Thereness, de Ryuichi Sakamoto (1952 – 2023), fez parte da coletânea To the Moon and Back (2022), em homenagem ao compositor japonês.
Toda essa combinação de elementos resulta na entrega de um material essencialmente amplo, ainda que coerente, como peças espalhadas de um imenso quebra-cabeça, mas que só agora, ao serem organizadas pelo próprio criador, revelam sua verdadeira imagem. Nesse sentido, mesmo a ausência de surpresa que poderia comprometer a experiência do ouvinte parece solucionada, efeito da capacidade do compositor em garantir novo significado a um repertório parcialmente interpretado em seus múltiplos fragmentos.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.