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Crítica

Hoovaranas

: "Três"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Math Rock

Para quem gosta de: Taco de Golfe e Boogarins

Ouça: Odisseia, Fuga e Frenesi

8.3
8.3

Hoovaranas: “Três”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Math Rock

Para quem gosta de: Taco de Golfe e Boogarins

Ouça: Odisseia, Fuga e Frenesi

/ Por: Cleber Facchi 23/07/2024

Sequência ao material entregue pelos paranaenses do Hoovaranas em Poluição Sonora (2019) e Alvorada (2022), Três (2024, Independente) é um desses discos que não oferecem qualquer chance de escapatória para o ouvinte. Do momento em que tem início, na trama de guitarras que Rehael Martins espalha em Fuga, cada mínimo componente do registro parece trabalhado com uma fluidez, ritmo e precisão poucas vezes antes percebida nas criações da banda que tem feito de cada novo álbum um preparativo para algo maior.

Não por acaso, após esse hipnotizante ato de abertura, a sempre destacada linha de baixo de Jorge Bahls convida o ouvinte a mergulhar na composição seguinte, Frenesi. Como o próprio título aponta, são pouco mais de dois minutos em que somos arremessados de um canto a outro do material que corrompe o tom contemplativo de outros exemplares do pós-rock/math rock para destacar a força do trio de Ponta Grossa, no interior do Paraná. Um insano atravessamento de informações, porém, sempre orquestrado pela bateria firme de Eric Santana, também responsável pela produção caprichada que amarra o registro de oito faixas.

Com o ouvinte ambientado e todos os elementos apresentados logo nos minutos iniciais do disco, é aí que a mágica realmente acontece. Terceira canção do álbum, Solitude pode até começar pequena, concedendo ao material uma sofisticada abordagem jazzística, porém, lentamente se transforma e leva o trabalho para outras direções. Do baixo sinuoso à bateria que muda de direção a todo instante, acompanhando a fluidez das guitarras, tudo salta aos ouvidos. É como um ensaio para o que se estabelece na posterior Odisseia.

Inaugurada de maneira contida, a composição de quase cinco minutos aos poucos se transforma e arrasta o ouvinte para um verdadeiro turbilhão instrumental. Enquanto a bateria de Santana mais uma vez busca trazer ordem ao caos, o baixo ritmado de Bahls luta para sobreviver no oceano de ruídos que escorre das guitarras Martins com uma força incontrolável. É somente com a chegada da canção seguinte, Êxtase, que somos autorizados a respirar por alguns segundos antes de um novo e sempre intenso avanço da banda.

Passado esse momento de maior comoção, Beco da Lua, revelada logo em sequência, até chama a atenção pelas diferentes variações rítmicas da banda, porém, esbarra em alguns repetições estruturais, timbres e padrões nos arranjos que diminuem a sensação de ineditismo, mas nunca a força do material. É como se a banda desacelerasse criativamente por alguns minutos, conceito reforçado na posterior Refazendo, música que originalmente integra a versão comemorativa do cultuado As Plantas Que Curam (2013), da Boogarins.

Depois de transitar por diferentes estilos e possibilidades ao longo do trabalho, Cura (Olhos D’água) chega para encerrar o material com parcial calmaria. Embora incapaz de replicar a mesma sensação de impacto percebida nos minutos iniciais do disco, onde cada movimento é desferido com uma precisão cirúrgica, a música concede ao registro o fechamento ideal. Com cada instrumento tendo seu momento de destaque, a faixa desacelera aos poucos, como um doce e prazeroso respiro após a intensa jornada proposta pelo trio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.