Bryan Müller passou os últimos três anos investindo em uma série de coletâneas com músicas que ficaram de fora de seus trabalhos como Skee Mask. Embora invejável e repleto de boas composições, o repertório que dificilmente seria descartado por outro produtor parece bastante aquém quando observamos o artista em um de seus cada vez mais raros lançamentos oficiais. É o caso de Resort (2024, Ilian Tape), registro que evidencia a riqueza de ideias e capacidade do germânico em transitar por diferentes propostas criativas.

Deliciosamente extenso, como grande parte dos registros de Skee Mask, Resort é um desses trabalhos que exigem tempo por parte do ouvinte, porém, tornam a jornada proposta pelo produtor bastante gratificante. São canções que ganham forma em uma medida particular de tempo, sem pressa, detalhando incontáveis camadas de sintetizadores, batidas e sobreposições eletrônicas que não apenas evidenciam a precisão de Müller, como parecem encaixadas pelo artista de maneira inteligente para capturar a atenção do público.

Exemplo disso pode ser percebido em Waldmeister. São pouco mais de quatro minutos em Müller destaca a inserção de ruídos sintéticos, mergulha em ambientações que flertam com o dub e estabelece no encaixe das batidas um precioso componente rítmico. Diferente de outros exemplares do produtor, como Compro (2018), que partilham de uma abordagem talvez emergencial, Resort encanta justamente pela ausência de pressa, direcionamento que acaba se refletindo em parte expressiva das canções que integram o registro.

A própria sequência de abertura, formada por Hedwig Transformation Group, Nostaglitch e Reminiscrmx, funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de 13 minutos em que Müller parte de uma abordagem profundamente contemplativa, lembrando as criações do conterrâneo Wolfgang Voigt no Gas, porém, aos poucos destaca a construção das batidas. É como se o produtor flertasse com as pistas, mas em nenhum momento fosse capaz de ultrapassar o que parece ser um limite conceitual autoimposto.

Claro que isso não interfere na entrega de canções como a imediata Daytime Gamer. Do momento em que tem início, na meticulosa sobreposição das batidas, passando pela inserção de sintetizadores melódicos, perceba como Müller se aventura na construção de uma faixa que dialoga de forma bastante direta com o ouvinte. E ela não é a única. A própria sequência de fechamento do disco, composta por 7AM At The Rodeo e Vitamin 313, funciona como uma criativa representação desse andamento rítmico adotado pelo produtor.

Partindo dessa abordagem equilibrada, Müller garante ao público um material que segue de onde parou no antecessor Pool (2021), porém de forma ainda mais concisa. Enquanto o registro anterior se estendia para muito além do necessário, em Resort, o produtor reduz o número de composições sem diminuir o capricho em torno do material. Não se trata de algo novo para quem há tempos acompanha as criações de Skee Mask, mas tão bem estruturado que é difícil escapar do labirinto sonoro desenvolvido pelo artista.

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