A música de JPEGMAFIA tem ficado cada vez mais inexata e consequentemente fascinante. Em I Lay Down My Life For You (2024, Awal), mais recente trabalho de estúdio do rapper norte-americano, fragmentos de ideias são constantemente arremessados contra o ouvinte, indicando uma abordagem impulsiva, mas que em nenhum momento rompe com o que parece ser um limite preestabelecido pelo artista que já acumula mais de uma década de atuação e obras sempre marcadas pelo delirante atravessamento de informações.

Com um interesse cada vez maior pela produção eletrônica, Barrington DeVaughn Hendricks, verdadeiro nome do artista que nasceu na região do Brooklyn, em Nova Iorque, e hoje reside na cidade de Los Angeles, na Califórnia, faz de cada faixa um campo aberto às possibilidades. São músicas essencialmente curtas, em sua maioria resolvidas em um intervalo de dois minutos, porém sempre pontuadas pelo insano cruzamento de vozes, batidas e samples de JPEGMAFIA que concedem ao repertório do disco uma profundidade única.

A própria sequência de abertura, formada por I Scream This in The Mirror Before I Interact With Anyone e Sin Miedo, funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos são arremessados contra o ouvinte, retalhos de vozes, solos de guitarra e sintetizadores criam um turbulento pano de fundo instrumental. São pequenas rupturas estéticas e quebras ocasionais, conceito reforçado com a chegada de It’s Dark and Hell is Hot, criação que se completa pela inusitada interferência do brasileiro DJ Ramemes.

Claro que isso está longe de ser encarado como uma novidade para quem há tempos acompanha a obra de JPEGMAFIA ou acabou impactado pelo ainda recente Scaring The Hoes (2024), registro assinado em parceria com o rapper Danny Brown. De fato, muitas das ideias e conceitos aplicados em I Lay Down My Life For You parecem resgatados de outros trabalhos do artista, sejam eles assinados individualmente ou feitos sob encomenda para nomes como Kanye West e Ty Dolla $ign, com quem colaborou recentemente.

Outro aspecto bastante problemático de I Lay Down My Life For You diz respeito à construção das rimas, muitas vezes deixadas em segundo plano, como se o interesse do artista estivesse unicamente voltado à produção do material. E o próprio JPEGMAFIA parece entender isso, afinal, sobrevive no encontro com Vince Staples, em New Black History, e Denzel Curry, na crescente JPEGULTRA, o estímulo para algumas das composições mais interessantes e liricamente apuradas de todo o repertório montado pelo rapper.

Mesmo quando estreita laços com artistas alheios ao gênero, como a cantora Buzzy Lee, na atmosférica Don’t Put Anything On the Bible, JPEGMAFIA demonstra um fascínio muito maior sobre a própria criação. São pequenos traços de desgaste criativo, proposta que evidencia as rachaduras em torno do trabalho de Hendricks quanto rapper, mas que, ao menos por enquanto, parecem brilhantemente disfarçados pela produção arrebatadora que orienta de maneira incerta a experiência do ouvinte até os momentos finais.

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