Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Indie Pop
Para quem gosta de: Pluma e Viratempo
Ouça: Jornada do Usuário e Arquivo Corrente
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Indie Pop
Para quem gosta de: Pluma e Viratempo
Ouça: Jornada do Usuário e Arquivo Corrente
A colorida imagem de capa de Era Normal (2024, Independente), uma criação da artista plástica Larissa Laban, ajuda a entender parte do estranho universo criativo proposto pelos integrantes da banda O Nó com o segundo álbum de estúdio da carreira. Sequência ao material entregue no introdutório Resquícios Cromáticos (2020), o registro segue de onde o grupo paulistano parou há quatro anos, destacando o uso dos sintetizadores e bases nostálgicas, porém estabelece nos versos a principal ferramenta de trabalho.
Com Jornada do Usuário como música de abertura, o quarteto formado por Alexandre Drobac, Rodolfo Almeida, Matheus Perelmutter e Mateus Bentivegna apresenta parte dos elementos que serão explorados ao longo do material. São melodias cantaroláveis, como se saídas de algum disco pop da década de 1980, mas que se completam pela letra que discute o universo corporativo, o consumo midiático e as máscaras sociais, conceito que ganha ainda mais destaque na ironia fina que invade a posterior Uma Nova Pessoa.
Assim como as imagens enevoadas de Laban buscam interpretar elementos reais, o grupo tenta encontrar algum senso de normalidade em uma sociedade capitalista cada vez mais desigual e surrealista. É como se uma sufocante sensação de descontrole tomasse conta dos versos, movimentando com incerteza os rumos da obra. Mesmo quando reforça o aspecto sentimental do disco, como em Bifurcações, esse estranho senso de perturbação continua a orientar a experiência do ouvinte. “Essa é sua situação / Sem paz”, resume a letra de Viagem Inaugural, criação que ainda se engrandece pelo saxofone complementar de João Barisbe.
Dos poucos momentos em que rompe com esse ritmo frenético, o grupo reforça com delicadeza o aspecto emocional do trabalho. É o caso de Tangerina, composição de instrumental contido, mas que convence na construção dos versos. “Porta aberta, vento a soprar / Meu corpo cindirá / Me espera do lado de lá”, detalha a letra da canção. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na posterior Dragão Branco de Olhos Azuis (Dragão Negro de Olhos Vermelhos), faixa que avança aos poucos, porém cresce nos minutos finais.
Embora essenciais para o desenvolvimento do disco, como uma resposta ao som impulsivo que marca os momentos iniciais do trabalho, esses instantes de maior calmaria custam a impressionar o ouvinte. Do uso sinuoso das vozes ao tratamento dado aos arranjos, tudo se projeta de maneira excessivamente arrastada, comprometendo o ritmo do material. Nada que Fata Morgana, com seus sintetizadores cósmicos e batidas aceleradas, não dê conta de solucionar, restabelecendo a fluidez e doce equilíbrio que orienta o registro.
É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais interessante na derradeira Arquivo Corrente. Espécie de canção-síntese do trabalho, a faixa marcada pelo capricho das vozes e arranjos trata sobre os mesmos temas que abastecem o restante do material, como as rotinas cíclicas e a falta de conexão com a realidade, porém partindo de uma abordagem essencialmente sóbria e consciente. “Se dar conta de que o mundo se move / Que tudo que existe veio e virá”, cresce a letra da faixa que tanto soa como uma resposta a muitas das questões levantadas pelo quarteto como um convite a revisitar o repertório de Era Normal.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.