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Crítica

Kathryn Mohr

: "Waiting Room"

Ano: 2025

Selo: The Flesner

Gênero: Indie, Slowcore

Para quem gosta de: Midwife e Grouper

Ouça: Driven, Elevator e Take It

8.1
8.1

Kathryn Mohr: “Waiting Room”

Ano: 2025

Selo: The Flesner

Gênero: Indie, Slowcore

Para quem gosta de: Midwife e Grouper

Ouça: Driven, Elevator e Take It

/ Por: Cleber Facchi 20/02/2025

A trilha de lâmpadas apagadas que ilustra a imagem de capa de Waiting Room (2024, The Flesner), estreia da cantora e compositora Kathryn Mohr, sintetiza de forma bastante eficiente tudo aquilo que a artista de Oakland busca desenvolver ao longo do disco. São canções que, embora coloridas, encaminham o ouvinte para um território cada vez mais sombrio e pessoal, conceito que vai dos arranjos à construção dos versos.

Nesta cama deserta eu espero por você / Segurando meu esqueleto como uma fruta”, confessa em Take It, músicas que não apenas evidencia a crueza dos versos, como revela algumas das principais referências da cantora. Do uso instrumental das vozes à captação enevoada, tudo faz lembrar de Midwife e outros nomes recentes lançados pelo selo que apresenta a artista. Entretanto, é possível ir além. São ecos de PJ Harvey e, principalmente, Cat Power, efeito da visceralidade lírica e aceno sonoro para obras como Moon Pix (1998).

Nada que pareça prejudicar a identidade criativa de Mohr. Como indicado logo na sequência de abertura do trabalho, formada por Diver e Rated, cada nova composição em Waiting Room transporta o ouvinte para um território diferente. Enquanto a atmosférica canção que inaugura o disco parece saída de alguma obra produzida por Grouper, minutos à frente, são versos declamadas, ruídos e bases sujas que ditam as regras.

Sobrevive justamente nessa capacidade da compositora em saltar de um estilo para outro uma importante dinâmica para o desenvolvimento do disco. Por se tratar de uma obra ausente de elementos percussivos, Mohr utiliza de canções menores e acústicas, como Petrified, para ganhar impulso e saltar para músicas maiores e ainda mais ruidosas, como a já citada Take It, criação que destaca a força da artista em estúdio.

Claro que essas dinâmicas nem sempre são mantidas pela musicista, fazendo desses momentos de maior ruptura a passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso de Elevator, faixa em que se permite crescer para além dos limites autoimpostos, deixando transbordar o uso das guitarras e vozes. Outra que chama a atenção é Driven, música que segue a trilha atmosférica apontada em canções como a introdutória Diver, porém, estabelece nos efeitos e bases etéreas um acabamento totalmente psicodélico.

Ainda que essa mesma riqueza de ideias seja mantida até os minutos finais do registro, Waiting Room peca pela ausência de ritmo quando avançamos para a segunda metade do trabalho. São canções como Prove It e Cornered que, embora fascinantes, custam a avançar, rompendo com a fluidez explícita nos momentos iniciais. Entretanto, como indicado ao longo do material, prevalece em Mohr o desejo por um repertório puramente exploratório, direcionamento que rege a experiência do ouvinte até o último acorde do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.