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Crítica

Gabre

: "Arquipélago de Ilhas Surdas"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Indie Pop, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Supervão

Ouça: Crime e Carinho e O Tempo é Delicado

8.0
8.0

Gabre: “Arquipélago de Ilhas Surdas”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Indie Pop, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Supervão

Ouça: Crime e Carinho e O Tempo é Delicado

/ Por: Cleber Facchi 07/07/2025

Terceiro e mais recente álbum de estúdio de Gabriel Fetzner, o Gabre, Arquipélago de Ilhas Surdas (2025, Independente) alcança um ponto de equilíbrio entre o experimentalismo e o pop melódico que há tempos embala as criações do músico gaúcho. São composições que continuam a confessar algumas das principais influências do multi-instrumentista radicado em Portugal, porém encantam pela vulnerabilidade dos temas.

Tendo no olhar atento para o cotidiano a principal fonte de inspiração para o registro, Fetzner se aprofunda em questões sentimentais e transforma cenas simples do dia a dia, como a rotina de trabalho e até mesmo o roubo de um computador, no estímulo para um doce repertório que encanta logo na primeira audição. É como um delicado exercício de exposição emocional, ainda que marcado pela poética quase documental.

A própria escolha de Lisboa Completamente Debaixo D’água como uma das primeiras músicas do trabalho torna isso bastante explícito. São fragmentos visuais, sempre descritivos, que ajudam a posicionar o ouvinte dentro do disco. Claro que isso não interfere na entrega de composições mais subjetivas e emocionalmente complexas. É o caso da já conhecida Crime e Carinho e a romântica Quando Vejo o Meu Amor, canção que chama a atenção pelos versos profundamente honestos, expositivos e livres de qualquer traço de cinismo.

Entretanto, para além do claro amadurecimento poético, a grande beleza de Arquipélago de Ilhas Surdas se sustenta na musicalidade de Gabre. Ainda que algumas canções utilizem o recurso do sample de maneira bastante previsível, como os trechos de Giving Up The Gun, do Vampire Weekend, em Jesus Is Not Around, prevalece durante toda a execução do material o esforço do músico gaúcho em testar os próprios limites.

Em Nós Vamos Te Amar Para Sempre, por exemplo, Gabre perverte a lógica eufórica do restante do álbum para destacar o uso dos pianos e melancolia dos versos de forma bastante sensível. Nada que prejudique a entrega de composições grandiosas. A própria Matter Is Divine And Light Is a Kiss, escolhida para fechar o trabalho, é uma que chama a atenção pela colorida combinação de estilos e percussão abrasileirada, forte.

Nesse sentido, Arquipélago de Ilhas Surdas não apenas sintetiza as experiências acumuladas por Fetzner desde o lançamento de Tocar Em Flores Pelado (2020), como aprofunda as soluções melódicas e poéticas testadas em Don’t Rush Greatness (2023). Em vez de repetir fórmulas, o músico transforma cada faixa em um território particular, intimista e capaz de dialogar com temas simples do cotidiano sem abrir mão do refinamento instrumental. Mesmo quando tropeça em escolhas óbvias, o artista gaúcho se reinventa com naturalidade, explorando a canção pop como um meio para ampliar o escopo narrativo da própria obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.