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Crítica

Carla Boregas / Anelena Toku

: "Fronte Violeta"

Ano: 2025

Selo: Other People

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Nicolas Jaar e Grouper

Ouça: Antes eu Não Sabia Como Dizer... e Una

7.7
7.7

Carla Boregas & Anelena Toku: “Fronte Violeta”

Ano: 2025

Selo: Other People

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Nicolas Jaar e Grouper

Ouça: Antes eu Não Sabia Como Dizer... e Una

/ Por: Cleber Facchi 05/08/2025

Fronte Violeta (2025, Other People) é um trabalho marcado pelas sensações. Produto da parceria entre a artista multidisciplinar Anelena Toku e a compositora, musicista e produtora Carla Boregas, o álbum, que ainda conta com mixagem adicional de Nicolas Jaar, avança aos poucos, porém surpreende a cada nova canção. São paisagens instrumentais, texturas e captações de campo que destacam a minúcia da dupla.

Concebido durante a pandemia de Covid-19, quando Boregas passou a registrar ambientações e sons da natureza em Massaguaçu, no litoral de São Paulo, o material foi gestado aos poucos, fazendo dos encontros com Toku o estímulo para uma obra multissensorial. É como um lento desvendar de informações, ruídos e vozes que se projetam de maneira tão acolhedora quanto capazes de tensionar a experiência do ouvinte.

Exemplo disso pode ser percebido em Estilhaço. São pouco menos de três minutos em que as duas artistas se aprofundam na elaboração de texturas percussivas, harpas ocasionais, cantos de pássaros e vozes que surgem e desaparecem a todo instante, sempre de forma animalesca. A própria faixa de abertura do disco, a imersiva A Orelha do Mundo, sintetiza parte dos elementos que serão incorporados ao longo do trabalho.

O mais fascinante talvez seja perceber como todas essas informações, diferentes camadas e sobreposições são trabalhadas em um curto intervalo de tempo. Canções de um a dois minutos que condensam inúmeras texturas e sons de objetos amplificados com uma profundidade única. Do som mineral de Falando, eu me lembro ao canto da cigarra em Patrimonium, tudo se transforma em instrumento para as duas musicistas.

Entretanto, é quando a dupla se permite ir além, extendendo a duração das canções e incorporando ainda mais elementos, que Fronte Violeta revela ao público algumas das melhores composições do trabalho. É o caso da derradeira Una, com seus mais de seis minutos de ambientações acinzentadas, ou mesmo Antes eu Não Sabia Como Dizer Tudo Que eu Digo Agora, com captações que oscilam entre o orgânico e o abstrato.

Ainda assim, em meio a momentos tão inventivos, Fronte Violeta por vezes se entrega a um minimalismo quase excessivo, reduzindo o impacto de determinadas canções. Em Lebrina, por exemplo, a economia de sons e gestos parece esvaziar a atmosfera que o restante do disco se esforça para construir. São desvios pontuais em uma obra que, mesmo nos instantes mais contidos, pulsa com nítida estranheza e intensidade. Ruídos, silêncios e fragmentos sonoros operam entre o delírio sensorial e a lucidez de um gesto calculado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.