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Crítica

Nourished By Time

: "The Passionate Ones"

Ano: 2025

Selo: XL Recordings

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Dijon e Blood Orange

Ouça: 9 2 5, Max Potential e The Passionate Ones

8.2
8.2

Nourished By Time: “The Passionate Ones”

Ano: 2025

Selo: XL Recordings

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Dijon e Blood Orange

Ouça: 9 2 5, Max Potential e The Passionate Ones

/ Por: Cleber Facchi 03/09/2025

Marcus Brown tem um jeito bastante particular de pensar música. Munido apenas de parcos sintetizadores e batidas sempre reducionistas, o cantor e compositor utiliza dessa abordagem econômica como estímulo para a elaboração de obras emocionalmente grandiosas, direcionamento reforçado em Erotic Probiotic 2 (2023), estreia do Nourished By Time, mas que ganha ainda mais destaque em The Passionate Ones (2025).

Segundo e mais recente trabalho de estúdio do norte-americano, o álbum destaca o esforço do artista em ampliar os próprios domínios, porém, preservando a essência dos registros que o antecedem, incluindo o EP Catching Chickens (2024). Entre ecos de Arthur Russell e elementos que vão do R&B ao pop minimalista, Brown utiliza dessa base calculada como estímulo para a elaboração de versos cada vez mais complexos.

Uma das primeiras músicas do disco a serem reveladas ao público, em junho deste ano, 9 2 5 sintetiza isso de forma bastante eficiente. Enquanto os sintetizadores, batidas e vozes destacam o lado mais acessível do músico, versos que tratam sobre a vida de um trabalhador preso à rotina exaustiva levam o repertório de Nourished By Time para outras direções. Um exercício político, mas que nunca perde o caráter dançante.

Essa mesma abordagem pode ser percebida em outros momentos ao longo do trabalho. São músicas como Max Potential e Jojo, colaboração com Tony Bontana, que partem de uma perspectiva bastante pessoal, por vezes intimista, mas em nenhum momento ignoram o entorno. Instantes em que o cantor busca por afeto e humanidade em um cenário de decadência social e emocional consumido por efeitos do capitalismo tardio.

É como se Marcus partisse do mesmo R&B incorporado por diferentes nomes comerciais do gênero, porém, utilizando de uma abordagem tão acessível quanto liricamente contestadora e provocativa. Exemplo disso é o que acontece em Baby Baby, faixa que contrapõe desejo e obsessão pessoal com críticas sociais e temas políticos, conceito também explorado em When The War Is Over e na homônima música de encerramento.

Apesar do avanço claro na elaboração dos versos, The Passionate Ones se revela como um registro pouco ambicioso musicalmente. Essa opção, embora coerente com a estética minimalista de Marcus, limita a força de composições que poderiam soar ainda mais impactantes, evidenciando um artista em plena maturação criativa, mas que parece evitar riscos na dimensão instrumental de um álbum que nasceu para ser grande.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.