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Crítica

Lento, Distante

: "Tecendo Ficções"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Adorável Clichê e terraplana

Ouça: Quase-Lembranças e Sou Só Solidão

7.8
7.8

Lento, Distante: “Tecendo Ficções”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Adorável Clichê e terraplana

Ouça: Quase-Lembranças e Sou Só Solidão

/ Por: Cleber Facchi 25/09/2025

Só sou solidão”, confessa a vocalista Sandy Iketani logo nos primeiros minutos de Tecendo Ficções (2025, Independente). Estreia do grupo paraense Lento, Distante, o álbum de nove composições avança em uma medida particular de tempo, por vezes arrastada e sem pressa, mas fascinante em cada mínimo fragmento poético e instrumental do trabalho. Um delicado jogo de sensações que lentamente se conecta ao ouvinte.

Próximo e ao mesmo tempo distante de outros nomes recentes da cena brasileira, Tecendo Ficções deixa de lado as texturas e ambientações ruidosas de artistas como terraplana e Adorável Clichê para destacar a suavidade dos arranjos, melodias e o uso das vozes. É como uma interpretação ainda mais polida e serena do dream pop/shoegaze, direcionamento que valoriza a construção dos versos do início ao fim do trabalho.

Exemplo disso fica bastante na própria faixa-título do disco. Enquanto guitarras minimalistas e uma linha de baixo discreta se projetam de forma paisagística, vozes enevoadas se dividem entre o real e o onírico. “Sempre começo a sonhar / Só depois de acordar / Quando o meu coração / Sofre de distâncias”, canta Iketani em um delicado exercício de exposição emocional que destaca o completo encantamento da obra.

Embora parta de uma abordagem contemplativa, o que torna a primeira metade do trabalho talvez difícil de ser absorvida pelo ouvinte mais apressado, Tecendo Ficções reserva ao público uma série de faixas que destacam o lado mais acessível e urgência da obra. Do flerte com o pós-punk em Quando Tudo Me Lembra Você, passando pela atmosfera crescente de Trevo, impossível não se deixar conduzir pelo grupo paraense.

Entretanto, é quando alcança um ponto de equilíbrio entre esses dois extremos da obra, alternando entre a calmaria e a excitação, que o grupo garante ao público algumas de suas melhores composições. É o caso de Quase-Lembranças. Com vozes alternadas entre Iketani e o guitarrista Henri Monteiro, bateria destacada e instrumentação primorosa, a faixa que tende ao midwest emo amplia os horizontes do grupo em estúdio.

Nesse sentido, Tecendo Ficções convence mais pelas possibilidades que o grupo revela do que pela fluidez e consistência da obra. Completo pelos músicos Vinícius Lobato (guitarra), André Menino (bateria) e Lucas Parijós (baixo), o registro transita com curiosidade por diferentes estilos e propostas criativas, entretanto estabelece na força dos sentimentos e versos sempre confessionais um precioso componente de amarra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.