Ano: 2025
Selo: Guano
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Bruno Berle e Nina Maia
Ouça: Repouso, Ilha Úmida e Cartografias
Ano: 2025
Selo: Guano
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Bruno Berle e Nina Maia
Ouça: Repouso, Ilha Úmida e Cartografias
Se em Descese (2023) as composições de Tori pareciam brotar da terra, em Areia e Voz (2025, Guano) elas chegam pelo ar. Segundo e mais recente trabalho de estúdio da cantora e compositora sergipana, o registro de dez faixas se revela em pequenas doses, como partículas emocionais sopradas pelo vento. Canções que, mesmo atmosféricas e contemplativas, expressam movimento, ampliando o campo de atuação da artista.
Parte desse resultado vem do próprio processo de composição do disco. Hoje radicada no Rio de Janeiro e circulando por diferentes cidades para se apresentar, Tori fez dessas viagens e das relações construídas ao longo dos anos o estímulo para a elaboração das faixas. São canções que partem das experiências vividas pela própria cantora, porém crescem nos encontros líricos e instrumentais que complementam o trabalho.
Não por acaso, quase metade das canções se abre para a chegada de diferentes vozes. A própria música-título do disco conta com o complemento de Nina Maia, reforçando a densidade da canção. Já em O Som de Quem Dorme Bem, é Guilherme Lirio quem desfila com leveza pela composição. Quem também dá as caras é Francisca Barreto, em Discreta Paz, dona das cordas que sutilmente invadem a faixa de base minimalista.
Nada que prepare o ouvinte para Repouso. Completa pela participação de Bernardo Bauer, a música não apenas encanta pela presença do artista mineiro, como cresce na fluidez rítmica, camadas de guitarras e sopros que delicadamente invadem a canção. Claro que isso não interfere na entrega de faixas em que a voz de Tori desfila solitária, como em Ilha Úmida, reforçando o caráter intimista que orienta a compositora.
Entretanto, quanto mais se afasta desse resultado e, consequentemente, dos temas e estruturas testadas em Descese, mais a música de Tori se eleva e surpreende o ouvinte. Da psicodelia árida que invade Trastejo, passando pelo som ruidoso de Harmonia é Do Mundo, sobram momentos em que a artista joga com as possibilidades em estúdio, direcionamento que segue até a crescente rítmica da derradeira Cartografias.
Mesmo que Areia e Voz pareça menos coeso do que Descese, o trabalho se destaca pela originalidade com que Tori reorganiza o repertório. A própria transição do disco, que parte de uma abertura minimalista para um fechamento encorpado, evidencia o esforço da artista e do parceiro de produção, o músico Domenico Lancellotti, em trilhar novos caminhos. É como um sutil processo de transformação, proposta que preserva uma série de elementos originalmente testados no registro anterior, mas em nenhum momento se repete.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.