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Crítica

Feeo

: "Godness"

Ano: 2025

Selo: AD 93

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Tirzah e ML Buch

Ouça: Here, Requiem e The Hammer Strikes the Bell

8.0
8.0

Feeo: “Goodness”

Ano: 2025

Selo: AD 93

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Tirzah e ML Buch

Ouça: Here, Requiem e The Hammer Strikes the Bell

/ Por: Cleber Facchi 19/11/2025

Apesar do acabamento minimalista, Goodness (2025, AD 93), estreia de Theodora Laird como Feeo, é uma obra marcada pela imensidão. Utilizando sentimentos conflitantes, a produtora inglesa explora as relações entre a cidade e o indivíduo, o interior e o exterior com uma sensibilidade notável. Composições que mais parecem fragmentos, mas que, ao serem observadas em conjunto, revelam a complexidade da musicista.

Parte desse resultado vem do próprio processo de criação adotado pela artista nos últimos anos. Antes de investir no repertório de Goodness, Laird experimentou em uma série de registros menores, composições avulsas e trabalhos assinados em parceria com nomes como Loraine James e Caius Williams. É como se, aos poucos, a produtora estabelecesse a própria identidade, agora consolidada dentro do presente disco.

Passagem para um universo próprio, Goodness parte de uma abordagem pessimista, a partir de um texto lido pelo pai da produtora, o ator britânico Trevor Laird, porém inverte sua lógica quando o artista retorna minutos à frente, contrapondo a narrativa inicial. Partindo dessa abordagem contrastante, a cantora joga com os instantes, fazendo de cada nova composição do disco um campo sempre aberto às possibilidades.

Em Requiem, por exemplo, são ambientações enevoadas que se completam pelo uso calculado das batidas e vozes que evocam as criações de Tirzah. Já em There is No I, são estudos de guitarras e bases sutis que fazem lembrar das canções de ML Buch. Surgem ainda composições como a soturna The Mountain, faixa em que avança aos poucos, combinando elementos de drone com uma letra marcada pelos sentimentos.

Entretanto, é quando administra todos esses elementos dentro de uma mesma composição que a cantora mostra toda sua potência em estúdio. É o caso de Here. Com quase sete minutos de duração, a faixa parte de uma abordagem atmosférica, porém cresce no uso de pequenas sobreposições, ruídos e texturas que ainda se completam pelo uso das vozes que parecem apontar para a obra de Beth Gibbons no Portishead.

Naturalmente, por se tratar de uma obra marcada pelo forte aspecto contemplativo, Goodness é um disco que exige tempo até se revelar por completo. Ainda assim, o andamento moroso, principalmente na porção final do trabalho, torna o processo de apreciação do registro bastante arrastado. Entretanto, Feeo faz dessa morosidade sua força, revelando beleza e profunda complexidade mesmo naquilo que demora a florescer.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.