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Crítica

Papôla

: "Esperando Sentado, Pagando Pra Ver"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Tagua Tagua e Guma

Ouça: Luzes da Cidade, Canga e Coitadolândia

7.7
7.7

Papôla: “Esperando Sentado, Pagando Pra Ver”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Tagua Tagua e Guma

Ouça: Luzes da Cidade, Canga e Coitadolândia

/ Por: Cleber Facchi 04/11/2025

Estreia do grupo pernambucano Papôla, Esperando Sentado, Pagando Pra Ver (2025, Independente) é uma obra de temperatura elevada. E isso fica bastante evidente logo na introdutória Contramão, faixa que revela o uso de guitarras ensolaradas, sintetizadores veranis e batidas que se espalham aos poucos, detalhando a atmosfera nostálgica que vai do pop rock dos anos 1980 à doce psicodelia de projetos como Tame Impala.

Esse mesmo olhar curioso para o passado fica ainda mais evidente em Baby Mistério, faixa de acabamento funkeado, ampliando os horizontes de possibilidades do quinteto formado por Pedro Bettin, Matheus Dalia, Beró, Guilherme Calado e Saulo Nogueira. É como um ensaio para o que se revela de maneira ainda mais interessante em Coitadolândia, composição que soa como um encontro entre Luiz Caldas e Talking Heads.

Inaugurada pela densa combinação entre a linha de baixo e o uso sempre calculado da percussão, Jardim das Delícias Terrenas leva o trabalho para um novo território, agora soturno, lembrando as canções de Rita Lee no início da década de 1980. É partindo dessa mesma proposta que o quinteto abre passagem para a posterior Canga. Enquanto os versos celebram o prazer e a conexão natural entre duas pessoas, guitarras se revelam aos poucos, sem pressa, como uma tradução sonora do lirismo sensorial que se projeta na voz.

Tudo é trabalhado com tamanha fluidez que Agosto Sempre Termina, vinda em sequência, acaba engolida, efeito direto do andamento moroso que destaca apenas o solo de sintetizador nos instantes finais. O mesmo acontece com a composição seguinte, O Farol, faixa de incontestável refinamento técnico e uso apurado das vozes, mas que custa a avançar, rompendo com o dinamismo explícita logo nos momentos iniciais do disco.

Nada que Luzes Da Cidade não dê conta de solucionar. Da letra que surge como um chamado irrecusável à vida noturna (“No céu desponta a noite / Eu sinto me chamar”), passando pela caprichada elaboração dos arranjos, cada mínimo fragmento da composição destaca o domínio do grupo em estúdio. A própria Pé de Coelho, minutos à frente, é outra que chama a atenção pelos detalhes e o uso primoroso dos instrumentos.

Escolhida para o encerramento do disco, Quintal talvez seja a canção que mais se distancia do restante da obra. Completa pela participação de Benks, a música deixa de lado a atmosfera neon dos anos 1980 para mergulhar no rock da década de 1990. É como um curioso exercício de transição. Instantes em que o grupo preserva parte dos elementos testados ao longo do trabalho, porém deixa o caminho aberto para o futuro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.