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Crítica

Carrier

: "Rhythm Immortal"

Ano: 2025

Selo: Modern Love

Gênero: Eletrônica, Dub Techno

Para quem gosta de: Andy Stott e Barker

Ouça: A Point Most Crucial e That Veil of Yours

8.1
8.1

Carrier: “Rhythm Immortal”

Ano: 2025

Selo: Modern Love

Gênero: Eletrônica, Dub Techno

Para quem gosta de: Andy Stott e Barker

Ouça: A Point Most Crucial e That Veil of Yours

/ Por: Cleber Facchi 23/12/2025

Longe dos excessos que conduzem as pistas de dança, Guy Brewer parece ter encontrado nas canções de Rhythm Immortal (2025, Modern Love) a passagem para um novo território criativo. Estreia do artista como Carrier, o álbum destaca a capacidade do produtor, que já integrou projetos como Commix, em lidar com os instantes, brincando com a lenta construção das batidas, uso das texturas, ruídos e espaços sensoriais.

A própria escolha de Brewer em inaugurar o disco com A Point Most Crucial torna isso bastante evidente. Em um intervalo de quase seis minutos de duração, o produtor se articula na labiríntica sobreposição dos elementos. São batidas orgânicas, ambientações e meticulosas costuras instrumentais que rompem com a artificialidade típica de outros exemplares do gênero para destacar o forte aspecto humano do trabalho.

Exemplo disso fica ainda mais evidente em Carbon Works. Enquanto as batidas se projetam de forma quase ritualística, o uso desfigurado das vozes e a manipulação de partículas sonoras caem sobre o ouvinte como um desabamento sinestésico. É como se Brewer partisse de uma proposta essencialmente minimalista, mas nunca econômica, detalhando um universo de pequenas camadas que ampliam os horizontes do material.

Não se trata de algo exatamente novo, afinal, muitos dos elementos incorporados ao longo da obra parecem dialogar com as criações do companheiro de selo Andy Stott. Entretanto, tudo é organizado de maneira tão detalhista por Brewer que é impossível não ceder aos encantos de Rhythm Immortal. Um lento desvendar de sensações, ritmos e ambientações que torna o processo de audição do trabalho totalmente imprevisível.

Embora parta das explorações solitárias de Brewer, vez ou outra Rhythm Immortal se abre para a chegada de diferentes colaboradores. É o caso de That Veil of Yours, música que deixa as batidas em segundo plano para destacar a presença etérea de Voice Actor. Já em Offshore, no fechamento da obra, é Memotone quem auxilia o produtor britânico na lenta elaboração da faixa que, mais uma vez, trilha percursos pouco usuais.

Ainda que ancorado em referências claras, Rhythm Immortal nunca soa como um exercício derivativo. Pelo contrário, Brewer transforma cada fragmento herdado do techno e outros campos da música eletrônica em matéria viva, algo que respira, reage e se move de maneira imprevisível. O resultado desse processo é um registro que não apenas expande os limites do gênero de forma bastante sensível, mas introduz um senso quase físico de presença. Um trabalho profundamente inquietante, denso, mas, acima de tudo, humano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.