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Crítica

Tobias Jesso Jr.

: "Shine"

Ano: 2025

Selo: R&R

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Bon Iver e Blake Mills

Ouça: I Love You, Waiting Around e Lullaby

6.8
6.8

Tobias Jesso Jr.: “Shine”

Ano: 2025

Selo: R&R

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Bon Iver e Blake Mills

Ouça: I Love You, Waiting Around e Lullaby

/ Por: Cleber Facchi 01/12/2025

Os últimos dez anos foram bastante movimentados para o cantor e compositor Tobias Jesso Jr. Ainda que não tenha lançado nenhum outro registro em carreira solo desde o introdutório Goon (2015), o canadense radicado em Los Angeles fez história ao colaborar com nomes como Adele, Harry Styles, FKA Twigs, Omar Apollo e King Princess, vencendo na categoria de Compositor do Ano durante o prêmio Grammy de 2023.

Entretanto, a conquista veio em um período bastante delicado para o compositor, que havia acabado de se separar da cantora australiana Emma Louise, com quem teve um filho. Vem justamente desse período tão delicado o estímulo para o repertório de Shine (2025, R&R), trabalho que não apenas marca o retorno do músico após um intervalo de dez anos, como destaca a sensibilidade poética e inquietações do canadense.

Deveria ter percebido antes / Agora me pergunto por que você foi embora”, canta o artista na introdutória Waiting Around. Síntese poética do restante do álbum, a faixa escancara a visceralidade e o uso de versos sempre descritivos, intimistas e documentais, como uma narração poética de todos os acontecimentos que movimentaram a vida de Tobias desde que Tell the Truth encerrou o trabalho do compositor há dez anos.

São composições que, para além do romantismo amargo, se aprofundam nas incertezas que consomem o artista. “Eu simplesmente não me reconheço mais”, confessa em Bridges. Mesmo o fechamento consciente, por vezes esperançoso, de Lullaby, evidencia o lirismo agridoce que embala os versos. “Você não sabe que precisa se despedaçar / Para realmente brilhar?”, questiona o compositor em meio a pianos reducionistas.

Esse avanço econômico de Shine, em contraste com a riqueza instrumental de Goon, é tanto uma alavanca para os versos confessionais de Tobias, como um problema estrutural para o disco. Mesmo completo pela presença pontual de colaboradores como Justin Vernon e Danielle Haim, o minimalismo excessivo gera a sensação de uma obra incompleta, como a versão demo ou um ensaio de algo que poderia ser, mas não é.

Exemplo disso fica ainda mais evidente quando somos confrontados com a brutalidade de I Love You. Do uso destacado das vozes à inesperada inserção de batidas dissonantes, poucas vezes antes Tobias pareceu tão violento e ao mesmo tempo frágil em uma mesma canção. Pena que toda essa potência se resuma a um instante, com o compositor regressando a um repertório que convence, mas parece tristemente desbotado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.