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Crítica

Lia de Itamaracá / Daúde

: "Pelos Olhos do Mar"

Ano: 2025

Selo: Sesc

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Alaíde Costa e Josyara

Ouça: As Negras e Pout-Pourri de Cocos

8.0
8.0

Lia de Itamaracá & Daúde: “Pelos Olhos Do Mar”

Ano: 2025

Selo: Sesc

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Alaíde Costa e Josyara

Ouça: As Negras e Pout-Pourri de Cocos

/ Por: Cleber Facchi 12/12/2025

Amigas desde a década de 1990 e colaboradoras eventuais em cima dos palcos, Lia de Itamaracá e Daúde se encontram pela primeira vez em estúdio com Pelos Olhos do Mar (2025, Selo Sesc). E elas não perdem tempo. Produzido por Pupillo e Marcus Pretto, o trabalho mostra toda sua grandeza logo na inaugural As Negras, composição de Chico César que escancara as potencialidades e a força ancestral das suas artistas.

Já em Santo Antônio da Boa Fortuna, composta por Emicida, os versos se projetam como uma reza, com as duas cantoras se revezando na construção das vozes que combinam jogos de palavras, cenários e emoções de forma quase transcendental. Um exercício contemplativo que antecede a sonoridade festiva da colorida Florestania, uma celebração à natureza e aos povos originários com assinatura de Céu e Russo Passapusso.

Em casa, Lia brilha em Pout-Pourri De Cocos, com composições de Dona Celia e Dona Selma do Coco que não apenas destacam a fluidez da artista pernambucana, como a produção de Pupillo, resgatando a boa forma e a percussão de quando integrava a banda Nação Zumbi. Nada que prepare o ouvinte para aquilo que Daúde apresenta na delicada A Galeria do Amor, composição de Agnaldo Timóteo (1936 – 2021) em que homenageia a Galeria Alaska, importante espaço para a comunidade LGBTQIAPN+ no Rio de Janeiro.

Seguindo essa mesma abordagem empoeirada, Lia hipnotiza com Quem É?, sucesso de Maurilio Lopes e Silvinho na década de 1960. A canção antecede a brusca mudança de direção em Eu Vou Pegar o Metrô, música de Catia de França, Lourival Lemes e Tania Alves que, mesmo bem executada, parece destoar do restante da obra, com percussão destacada e guitarras que quase apagam a voz da artista pernambucana.

Passado esse momento de maior euforia, o bolero que dá nome ao disco, uma composição de Otto, traz o material de volta aos eixos, destacando a fluidez das vozes mais uma vez assumidas com equilíbrio pelas duas artistas. É como um preparativo para o que se revela de maneira ainda mais sensível em Bordado, faixa de Karina Buhr, baiana crescida em Pernambuco, que acaba reforçando a relação entre Lia e Daúde.

Menos impressionante, mas, ainda assim, consistente com o restante do álbum, Se Meu Amor Não Chegar Nesse São João pontua o trabalho de maneira segura. Composta por Mestre Baracho (1907 – 1988), a faixa mais uma vez destaca a presença de Lia, com Daúde ocupando os espaços ao longo da canção. São trocas sutis que evidenciam o respeito e a admiração mútua das duas artistas durante toda a execução da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.