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Crítica

Adele

: "30"

Ano: 2021

Selo: Columbia

Gênero: Pop, Soul, R&B

Para quem gosta de: Whitney Houston e Amy Winehouse

Ouça: To Be Loved e Love Is a Game

8.0
8.0

Adele: “30”

Ano: 2021

Selo: Columbia

Gênero: Pop, Soul, R&B

Para quem gosta de: Whitney Houston e Amy Winehouse

Ouça: To Be Loved e Love Is a Game

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2021

Poucas vezes antes Adele pareceu tão exposta quanto nas canções de 30 (2021, Columbia). Quarto e mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora britânica, o trabalho de essência confessional parte do recente divórcio vivido pela artista e Simon Konecki, porém, consegue ir além de um previsível registro de separação. Trata-se de uma obra sobre solidão. “Acho que hoje é o primeiro dia desde que o deixei que me sinto sozinha. E eu nunca me sinto sozinha. Eu amo estar sozinha“, detalha em meio a lágrimas na dolorosa My Little Love, composição em que utiliza de mensagens de voz trocadas com amigos e diálogos o próprio filho, Angelo, para sintetizar a melancolia e permanente sensação de abandono que consome o disco.

Entretanto, assim como o registro que o antecede, 25 (2015), de onde vieram músicas como When We Were Young e Send My Love (To Your New Lover), 30 está longe de parecer uma obra excessivamente melodramática. De fato, poucas vezes antes a artista inglesa pareceu tão liberta criativamente quanto nas canções do presente álbum. E isso fica bastante evidente na sequência composta por Oh My God e Can I Get It. São pouco mais de sete minutos em que a cantora preserva o lirismo confessional, porém, se permite transitar por entre estilos e fórmulas pouco usuais, proporcionando maior dinamismo e força ao trabalho.

Nada que se compare ao material entregue na derradeira Love Is a Game. Enquanto os versos refletem o completo romantismo de Adele – “Meu coração fala em códigos e quebra-cabeças / Que tenho tentado resolver minha vida toda” –, musicalmente, a canção transporta a artista para um novo território criativo. São orquestrações e harmonias de vozes que evocam as produções de Phill Spector, porém, partindo de uma linguagem essencialmente atualizada. A própria música de abertura, Strangers by Nature, utiliza de uma abordagem similar, como um interpretação futurística de uma canção esquecida dos anos 1960.

Parte desse resultado e da perceptível busca por novas possibilidades vem da escolha da própria cantora em estreitar a relação com um time seleto de novos colaboradores. Mesmo que a porção inicial do registro conte com a produção de Greg Kurstin, com quem tem trabalhado desde o disco anterior, não são poucos os momentos em que Adele se permite testar os próprios limites ao lado de compositores como Ludwig Göransson e Max Martin. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do álbum, quando o cada vez mais requisitado Inflo (Sault, Little Simz) amplia consideravelmente os horizontes musicais do disco.

Isso não quer dizer que 30 esteja livre das habituais baladas que abastecem o trabalho de Adele desde o início da carreira. E isso fica bastante evidente na devastadora To Be Loved. Reencontro com Tobias Jesso Jr, a faixa não apenas destaca a força dos vocais, lembrando as criações de Whitney Houston, como detalha a completa vulnerabilidade da cantora. “Tudo que eu faço é sangrar em outra pessoa / Pintando paredes com todas as minhas lágrimas secretas / Enchendo quartos com todas as minhas esperanças e medos“, desaba sentimentalmente, reforçando a forte caga emocional que parece consumir o disco.

Se por um lado essa evidente melancolia garante alguns dos momentos de maior impacto do registro, por outro, amarga faixas pouco inspiradas. É o caso de Woman like Me, música que, mesmo bem executada, acaba se perdendo no vale entre All Night Parking e Hold On. O mesmo acontece com I Drink Wine, uma balada que emula de forma pouco interessante as canções de amor dos anos 1970. Independente desses momentos de maior instabilidade, 30 acaba se revelando como o trabalho mais consistente de Adele. São composições que transitam por diferentes estilos e formas instrumentais, porém, estabelecem na força dos sentimentos e permanente entrega da cantora britânica um importante componente de aproximação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.