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Crítica

Bala Desejo

: "Sim Sim Sim"

Ano: 2022

Selo: Coala Records

Gênero: MPB, Pop Rock

Para quem gosta de: Orquestra Imperial e Novos Baianos

Ouça: Baile de Máscara e Lambe Lambe

7.5
7.5

Bala Desejo: “Sim Sim Sim”

Ano: 2022

Selo: Coala Records

Gênero: MPB, Pop Rock

Para quem gosta de: Orquestra Imperial e Novos Baianos

Ouça: Baile de Máscara e Lambe Lambe

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2022

Estreia do Bala Desejo, coletivo formado por Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra, Sim Sim Sim (2022, Coala Records) é uma obra de limites geográficos, temperatura e sensações bem definidas. Iluminado pela luz dos trópicos, o registro que se divide em dois lados, como um antigo disco de vinil, estabelece na temática carnavalesca um precioso componente de aproximação entre as faixas, porém, está longe de parecer um trabalho hermético, talvez limitado a um som ou conceito específico. São canções que transitam por entre estilos de forma sempre ensolarada, transportando o ouvinte para diferentes cenários.

Não por acaso, durante o processo de feitura da obra, o quarteto, que segue em seus respectivos projetos em carreira solo e trabalhos paralelos, contou com a colaboração dos roteiristas Bruno Jablonski e Maria Santos, co-responsáveis pela músicas incidentais e pequenos atravessamentos que concedem ao registro um caráter cênico. O resultado desse processo está na entrega de um repertório que mostra a travessia de uma Kombi conceitual, a Bala Desejo, levando o “recarnaval” proposto pelos quatro integrantes para diferentes cidades do país. São composições que tratam de chegadas e partidas, desejos e conexões de forma entusiasmada, como uma fuga do ambiente cinzento a que fomos confinados durante a pandemia.

E isso fica bastante evidente na introdutória Baile de Máscaras (Recarnaval). Inaugurada pelo minucioso coro de vozes dos quatro integrantes, a faixa rapidamente arrasta o ouvinte para um cenário marcado pelas cores, formas e ritmos que encolhem e crescem a todo instante. Pouco mais de cinco minutos em que é possível visualizar as ruas de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, ou as ladeiras de Olinda em uma criativa combinaçãode ideias que sintetiza tudo aquilo que o grupo busca desenvolver ao longo do trabalho. Um misto de passado e presente, resgate e reinterpretação, proposta que fica ainda mais evidente em Lambe Lambe, música que aponta para a obra de Rita Lee, porém, preservando a própria identidade e frescor.

Parte desse resultado vem da escolha do próprio quarteto em trabalhar ao lado de Ana Frango Elétrico para refinar a estética empoeirada que serve de sustento ao registro. De fato, muitos dos elementos apresentados em Sim Sim Sim dialogam com o material apresentado pela co-produtora do disco em Little Electric Chicken Heart (2019), proposta que reduz o impacto e sensação de ineditismo esperada de um registro de estreia, mas que em nenhum momento diminui a força do trabalho. Exemplo disso acontece nos momentos de maior comoção do álbum, quando o grupo desacelera para tratar dos próprios sentimentos.

Não consigo te esperar / Já não me sinto zen / Sendo assim me acostumar / É o que me vem“, cresce a letra de Muito Só, preciosidade que contrasta com o restante da obra, porém, evidencia a potência do quarteto para além da trilha carnavalesca apontada logo nos momentos iniciais do trabalho. Produto das ideias e experiências vividas pelos próprios integrante, Sim Sim Sim faz de cada composição um objeto de estudo, combinando referências, sentimentos e interpretações de forma a mergulhar em diferentes territórios criativos, muitos deles inusitados. Canções que vão do reggae ambientalista de Clama Floresta ao samba de Lua Comanche, música que parece saída de algum disco produzido por de Jorge Ben Jor nos anos 1970.

Obra de convergências, Sim Sim Sim parte da relação de cumplicidade entre os quatro integrantes, que decidiram viver juntos durante o período de produção do trabalho, porém, estabelece no diálogo com diferentes colaboradores um importante reforço criativo. São nomes Jaques Morelenbaum, Diogo Gomes, Tim Bernardes e o time de instrumentistas formado por Alberto Continentino (baixo), Daniel Conceição (percussão e bateria), Marcelo Costa (percussão) e Thomas Harres (bateria e percussão),que garantem maior profundidade ao material. São incontáveis camadas instrumentais, ritmos e vozes, proposta que faz do primeiro disco da Bala Desejo um campo aberto às possibilidades e permanente troca de informações.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.