A imprevisibilidade talvez seja uma das principais marcas do som produzido pelo Can. Fundado em 1968, na região de Colônia, na Alemanha, o grupo formado por Holger Czukay (baixo), Irmin Schmidt (teclados), Michael Karoli (guitarras), Jaki Liebezeit (bateria) e os vocalistas Malcolm Mooney (1968–1970) e Damo Suzuki (1970–1973), fez da criativa combinação de ideias a passagem para algumas das obras mais inventivas e imprevisíveis do século passado. Do experimentalismo psicodélico de Tago Mago (1971) e Ege Bamyasi (1972), passando pelas ambientações de Future Days (1973) e Soon Over Babaluma (1974), sobram registros que evidenciam a força da banda que influenciou nomes como Radiohead, Sonic Youth, David Bowie e LCD Soundsystem. Em um esforço de organizar a discografia do grupo do pior para o melhor lançamento, trago uma revisão de cada um dos trabalhos de estúdio e outras obras essenciais dentro do vasto catálogo produzido pelo coletivo germânico. Qual é o seu favorito?
#12. Rite Time
(1989, Mute / Spoon)
Dez anos após o último trabalho de estúdio, os integrantes do Can decidiram investir em um novo registro de inéditas, Rite Time. Com Malcolm Mooney, primeiro vocalista do grupo, mais uma vez assumindo a função, o disco gravado em dezembro de 1986, no Sul da França, foi naturalmente recebido com grande expectativa por parte do público, porém, acabou se revelando como uma obra tão decepcionante quanto os álbuns que o antecedem. Salve composições como a delirante Like a New Child, música que poderia facilmente ser encontrada em trabalhos como Future Days (1973) e Soon Over Babaluma (1974), não há nada que parece capaz de atrair a atenção do ouvinte. Mesmo a bateria de Jaki Liebezeit, sempre versátil, parece estranhamente amortecida, proposta que torna a experiência de ouvir o material ainda mais arrastada. Era hora do Can encerrar de vez as atividades em estúdio e limitar aos palcos os encontros cada vez mais raros entre os membros da banda.
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#11. Out of Reach
(1978, Harvest / Spoon)
É difícil pensar em Out of Reach como um disco do Can. Mesmo que traços do som produzido pelo coletivo germânico sejam percebidos em momentos específicos da obra, como na alucinante Seven Days Awake, parte expressiva do registro gira em torno de elementos bastante característicos dos dois novos membros da banda, o percussionista Rebop Kwaku Baah e o baixista e vocalista Rosko Gee, ambos ex-integrante do grupo de rock psicodélico Traffic. E isso ficou ainda mais evidente quando Holger Czukay, então limitado aos efeitos e edição do trabalho, decidiu deixar a banda logo no início das gravações. Tamanha instabilidade no processo de composição do material está na entrega de uma obra marcada pelo forte caráter exploratório, porém, totalmente irregular. São canções que apontam para novos territórios criativos, potencializam o uso da percussão e flertam de maneira inusitada com a música latina, mas que pouco lembram o Can. Fragmentos de ideias, delírios e momentos de confusa experimentação que evidenciam uma banda em pleno processo de ruptura.
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#10. Landed
(1975, Virgin / Spoon)
Depois de cinco álbuns marcados pelo completo experimentalismo e busca por novas possibilidades, não seria uma surpresa se Can tropeçasse em uma obra menor. E isso acontece justamente com o lançamento de Landed. Primeiro trabalho do quarteto pela Virgin, o disco chama a atenção pelo maior refinamento dado aos arranjos e busca por novas técnicas de gravação, porém, ecoa de maneira previsível, como uma fuga do repertório imaginativo que a banda havia explorado até as gravações do antecessor Soon Over Babaluma (1994). São canções como Full Moon on the Highway e Hunters and Collectors que crescem nas guitarras de Michael Karoli, mas que pouco se distanciam de outros trabalhos lançados no mesmo período. É como uma permanente reciclagem de ideias e tendências, estrutura que se reflete mesmo nos momentos de maior provocação do registro, como na extensa Vernal Equinox. Era o princípio de uma sequência de obras pouco inspiradas que o grupo viria a produzir até o encerramento da carreira.
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#9. Flow Motion
(1976, Virgin / Spoon)
Mesmo seguindo pela trilha linear iniciada em Landed (1975), Flow Motion, sétimo álbum de estúdio do Can, está longe de parecer uma obra tão decepcionante quanto o registro que a antecede. Logo de cara, o grupo entrega ao público uma de suas composições mais conhecidas, I Want More, música que alterna entre guitarras carregadas de efeitos e estruturas dançantes, antecipando uma série de conceitos que seriam melhor explorados pelo Talking Heads em Fear of Music (1979) e Remain In Light (1980). Entretanto, sobrevive no inusitado flerte com o reggae, marca de músicas como Cascade Waltz e Laugh Till You Cry, Live Till You Die, o que talvez seja o elemento mais significativo do trabalho. São canções que rompem com qualquer traço de experimentalismo para mergulhar em uma abordagem totalmente acessível. Mesmo a derradeira faixa-título, com quase dez minutos de guitarras psicodélicas, parece incapaz de alcançar o mesmo caráter provocativo dos primeiros discos da banda. Curioso pensar que em janeiro do mesmo ano, antes mesmo de dar vida à famigerada Trilogia Berlim, David Bowie fez de Station to Station (1976) uma obra mais próxima do Can em seus momentos de glória do que o próprio quarteto em qualquer uma das faixas de Flow Motion.
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#8. Saw Delight
(1977, Virgin / Spoon)
Passada a entediante sequência composta por Landed (1975) e Flow Motion (1976), os integrantes do Can conseguiram se restabelecer, mesmo que momentaneamente, com o lançamento de Saw Delight. Embora incapaz de igualar o brilhantismo a forte caráter provocativo dos principais registros da banda, o trabalho entregue em março de 1977 encanta pela fluidez dos elementos e esforço do grupo em tensionar o próprio processo de gravação. Parte desse resultado vem da inserção de dois ex-integrantes do grupo de rock psicodélico Traffic, o percussionista Rebop Kwaku Baah e o baixista Rosko Gee, assumindo o posto de Holger Czukay, agora concentrado na produção e efeitos do álbum. Com a nova formação, o sexteto se concentra na montagem de faixas que resgatam a essência do introdutório Monster Movie (1969), porém, preservando o caráter acessível e sonoridade que orienta as criações da banda na segunda metade dos anos 1970. São canções como Don’t Say No, com vozes assumidas por Gee e Baah, e a extensa Animal Waves, que refletem a capacidade do Can em transitar por entre estilos de forma sempre inventiva, jogando de forma instigante com a interpretação do público.
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Menção Honrosa: The Lost Tapes
(2012, Spoon)
Parte expressiva do som produzido pelo Can sempre dependeu das longas sessões de improvisos do coletivo germânico e do minucioso processo de edição adotado por Holger Czukay. Por conta disso, a banda acumulou um vasto repertório de faixas e momentos de maior experimentação que sequer foram apresentados ao público. Em uma busca pelos arquivos do grupo, Irmin Schmidt e o colaborador de longa data, Jono Podmore, encontraram mais de 30 horas de registros que acabaram de fora de trilhas sonoras e registros oficiais. Em uma tentativa de organizar esse vasto acervo, foi lançado em junho de 2012 a coletânea The Lost Tapes. São mais de três horas de duração que concentram desde fragmentos da boa fase do grupo, entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970, até composições que evidenciam o declínio da banda. Um precioso e necessário olhar para o passado do Can, mas que acaba pecando pelos excessos, percepção reforçada quando observamos o fino repertório organizado décadas antes no empoeirado Delay 1968 (1981).
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#7. Can
(1979, Harvest / Spoon)
Se levarmos em consideração os trabalhos lançados após Soon Over Babaluma (1974), o autointitulado disco de 1979 acaba se revelando como uma obra bastante consistente. Livre da euforia que marca a chegada do percussionista Rebop Kwaku Baah e o baixista Rosko Gee, o registro de oito faixas chama a atenção pela economia dos elementos e uso calculado dos arranjos, pelo menos na sequência de abertura do material. São canções como All Gates Open e Safe que emulam a boa fase do grupo, como uma fuga do repertório entregue no caótico Out of Reach (1978). O próprio Michael Karoli volta a assumir os vocais integralmente, detalhando camadas de guitarras que se completam pelos sintetizadores cósmicos de Irmin Schmidt e bateria cirúrgica de Jaki Liebezeit. Mesmo Holger Czukay, que havia se desligado da banda no ano anterior, regressa para a edição e efeitos da obra. Era o último suspiro da banda em estúdio antes do encerramento das atividades e retorno temporário com Rite Time (1989).
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Menção Honrosa: The Peel Sessions
(1995, Strange Fruit / Spoon)
Com sessões realizadas entre 1973 e 1975, a passagem do Can pela cultuada série The Peel Sessions, comandada pelo radialista inglês John Peel (1939 – 2004), da BBC Radio, concentra o que há de melhor no som produzido pela banda. Perfeita representação desse resultado acontece logo nos minutos iniciais da obra, em Up the Bakerloo Line with Anne, música que mostra um Damo Suzuki completamente insano, sempre acompanhado pelas guitarras de Michael Karoli. Essa mesma força criativa acaba se refletindo em outros momentos ao longo do trabalho. São canções marcadas por improvisos, delírios instrumentais e momentos de maior experimentação, como uma combinação natural de tudo aquilo que o grupo viria a produzir até o lançamento de Soon Over Babaluma (1974). O destaque acaba ficando por conta de Geheim (Half Past One), música que desacelera quando próxima do bloco inicial do registro, porém, surpreende pela capacidade da banda em testar os próprios limites dentro de estúdio.
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#6. Soundtracks
(1970, Liberty / United Artists)
Entregue ao público em setembro de 1970, Soundtracks é, antes de qualquer coisa, um documento. Pensado como uma coletânea de músicas produzidas para diferentes filmes, o trabalho funciona como um importante ponto de ruptura estética na carreira do quinteto germânico. De um lado, composições que refletem a essência psicodélica da banda em seus anos iniciais, ainda com Malcolm Mooney como vocalista, caso de Soul Desert e a conhecidíssima She Brings The Rain. Do outro, criações como as delirantes Mother Sky e Tango Whiskyman, já com Damo Suzuki nos vocais, abrindo passagem para tudo aquilo que viria a ser produzido em obras como Tago Mago (1971) e Ege Bamyasi (1972). O resultado dessa estranha combinação de elementos está na entrega de um material naturalmente confuso, mas não menos interessante, típico do Can. Pouco menos de 40 minutos em que o grupo vai de um canto a outro de forma sempre provocativa, torta, direcionamento que se reflete tanto nas guitarras de Michael Karoli como na bateria de Jaki Liebezeit, componente central em grande parte das canções que integram o registro.
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#5. Soon Over Babaluma
(1974, United Artists / Spoon)
Soon Over Babaluma é um trabalho diferente de tudo aquilo que o Can havia testado anteriormente. Com a saída de Damo Suzuki, o grupo passou a investir em um repertório que dependia cada vez menos dos vocais, agora divididos entre o guitarrista Michael Karoli e o tecladista Irmin Schmidt. Não por acaso, as vozes, quando utilizadas, se revelam ao público em uma abordagem quase instrumental, como um complemento ao delirante exercício criativo do quarteto. Exemplo disso acontece na introdutória Dizzy Dizzy, música que vai do pop psicodélico ao jazz de forma sempre imprevisível, torta, como um avanço em relação ao material entregue no antecessor Future Days (1973). Composições sempre abertas às possibilidades, proposta que vai do uso destacado de novos instrumentos, como a inserção do violino elétrico, ao esforço do quarteto em romper com a ambientação enevoada do registro anterior. E isso fica bastante evidente na imprevisível Chain Reaction, música que antecipa uma série de conceitos que seriam melhor explorados na música eletrônica dos anos 1980/1990. Pouco menos de 40 minutos em que o grupo esbarra na fase elétrica de Miles Davis, transita por entre ritmos e estilos, porém, preservando a própria identidade de forma bastante significativa.
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Menção Honrosa: Delay 1968
(1981, Spoon)
Dois anos após o encerramento da banda, os integrantes do Can decidiram vasculhar os próprios arquivos e presentear o público com uma verdadeira raridade, a coletânea Delay 1968. Originalmente intitulado Prepared to Meet Thy Pnoom, o registro pensado como o primeiro álbum do grupo acabou arquivado por conta da série de recusas das gravadoras que viam no álbum uma obra excessivamente complexa e pouco comercial. De fato, o registro marcado pelo uso torto das guitarras, ainda íntimas do som produzido pelo The Velvet Underground, parece seguir uma trilha bem diferente do material entregue no sucessor Monster Movie (1969). São pouco mais de 30 minutos em que o grupo, na época completo pelo vocalista Malcolm Mooney, parece brincar com as possibilidades dentro de estúdio. Um misto de jazz e rock psicodélico que ganha contornos melancólicos em faixas como Thief, música que seria regravada pelo Radiohead anos mais tarde, mas que segue de forma deliciosamente imprevisível até a música de encerramento do trabalho, Little Star of Bethlehem, composição que evidencia a potência criativa da banda.
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#4. Monster Movie
(1969, Music Factory / Liberty / Spoon)
Em 1968, enquanto se decidiam entre os nomes de Inner Space e The Can, Irmin Schmidt (teclados), Holger Czukay (baixo), Michael Karoli (guitarra), Jaki Liebezeit (bateria) e o norte-americano Malcolm Mooney (voz), foram recusados por diferentes gravadoras ao apresentar o experimental Prepared to Meet Thy Pnoom. Arquivado e lançado somente em 1981, como parte da coletânea Delay 1968, o trabalho forçou o grupo germânico a investir em um repertório minimamente acessível, estímulo para a produção do introdutório Monster Movie. Naturalmente intenso, como tudo aquilo que define os primeiros anos de atuação da banda, o registro inaugurado pela pulsante Father Cannot Yell, com suas guitarras e batidas cíclicas, sintetiza parte da entrega e força criativa do quinteto durante toda a execução do material. São canções como Mary, Mary So Contrary e Outside My Door que evidenciam o fascínio de Schmidt pela obra de Frank Zappa e The Velvet Underground, porém, partindo de uma abordagem sempre particular, torta. E isso fica bastante evidente na derradeira Yoo Doo Right. Com mais de 20 minutos de duração, a faixa que ocupa todo o lado B ganha forma em uma delirante combinação entre guitarras, teclados, batidas e vozes ritualísticas. É como um labirinto de sons e sensações que não apenas amplia o campo de atuação da banda, como abre passagem para toda a série de obras que seriam apresentadas ao longo da década de 1970.
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#3. Future Days
(1973, United Artists / Spoon)
De todos os trabalhos produzidos pelo Can nos primeiros anos de atuação, Future Days talvez seja o mais equilibrado. Passada a turbulência explícita no antecessor Ege Bamyasi (1972), o grupo decidiu investir em delicadas paisagens instrumentais, como uma fuga do direcionamento frenético que vinha sendo incorporado desde Monster Movie (1969). E isso fica bastante evidente logo na introdutória faixa-título. São pouco menos de dez minutos em que o quinteto se reveza na produção de melodias enevoadas, texturas e sintetizadores cósmicos, dialogando com as criações de Brian Eno, Cluster e outros nomes em ascensão na época. Mesmo a voz de Damo Suzuki, conhecido pelas interpretações pouco usuais, parece estranhamente contida, brilhando em momentos estratégicos da obra. É como se cada componente assumisse uma função específica no desenvolvimento do trabalho, estrutura que ganha contornos pouco usuais em músicas como Spray e na curtinha Moonshake, mas que invariavelmente regressa ao mesmo território contido. O ápice desse processo acontece justamente na derradeira Bel Air. Ocupando todo o segundo lado do registro, a canção de essência labiríntica ganha forma e cresce de forma a valorizar cada mínimo fragmento apresentado pela banda. Do uso de captações de campo às guitarras cristalinas de Michael Karoli, poucas vezes antes o grupo pareceu tão coeso em estúdio. Último disco com a participação de Suzuki – o músico viria a se converter como Testemunha de Jeová –, Future Days, como o próprio título aponta, abre passagem para uma nova fase na carreira do Can, muito mais inclinado ao jazz e experimentos com a música eletrônica.
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#2. Ege Bamyasi
(1972, United Artists / Spoon)
Com o sucesso em torno de Spoon, música produzida especialmente para a trilha sonora do filme Das Messer (1971), o Can alcançou a sexta posição nas paradas de sucesso da Alemanha e vendeu mais de 300 mil cópias da canção. Financeiramente abastecidos, os integrantes do grupo germânico alugaram um antigo cinema na região de Weilerswist, próximo à cidade de Colônia, para dar vida a um novo registro de inéditas, Ege Bamyasi. Entretanto, o que tinha tudo para ser um processo tranquilo, acabou se transformando em uma experiência totalmente caótica. Entre delírios lisérgicos e partidas compulsivas de xadrez entre o tecladista Irmin Schmidt e o vocalista Damo Suzuki, a banda se viu forçada a finalizar o álbum às pressas, investindo na produção de um repertório torto e urgente. Vem justamente dessa aceleração na montagem do disco o estímulo para a construção de faixas como Pinch, perfeita comunhão entre as guitarras funkeadas de Michael Karoli e a bateria Jaki Liebezeit. A própria Vitamin C, equilibrada quando próxima do restante da obra, encanta pela forma como o quinteto, completo pelo baixo de Holger Czukay, também responsável pela engenharia do álbum, brinca com o uso de acréscimos e subtrações durante toda a formação do registro. Um turbulento exercício criativo que vai da construção do repertório à icônica imagem de capa, reforçando os temas “orgânicos” destacados em faixas como I’m So Green e a já citada Vitamin C. Canções que encolhem e crescem a todo instante, sempre de maneira imprevisível, estrutura que não apenas viria a inspirar nomes como Stephen Malkmus (Pavement) e Thurston Moore (Sonic Youth), como garantiria ao grupo evidente destaque em um ano abastecido por outras obras também emblemáticas como The Rise And Fall Of Ziggy Stardust (1972), de David Bowie, e o autointitulado registro de estreia dos conterrâneos da Neu.
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#1. Tago Mago
(1971, United Artists / Spoon)
Tago Mago é uma viagem. Primeiro disco do Can com Damo Suzuki como vocalista, o trabalho concentra o que há de mais inventivo e delirante na obra do quinteto germânico. E não poderia ser diferente. Convidados pelo colecionador de arte Christoph Vohwinkel a gravar o disco no Schloss Nörvenich, um castelo localizado próximo à região de Colônia, o grupo, encabeçado pelo baixista Holger Czukay, aproveitou do amplo espaço para investir em novas técnicas de gravação. Utilizando apenas de dois gravadores e três microfones posicionados de forma a captar os instrumentos e reverberações que ecoavam pela arquitetura do ambiente, o grupo passou mais de três meses imerso em longas sessões que duravam até 16 horas. E isso fica bastante evidente em Halleluhwah. Uma das melhores e mais complexas criações do quinteto, a faixa ganha forma em um intervalo de quase 20 minutos onde cada mínimo acréscimo assume uma posição de destaque. Das guitarras deliciosamente fluidas de Michael Karoli à bateria de Jaki Liebezeit, tudo parece pensado para capturar a atenção do ouvinte. Mesmo os teclados de Irmin Schmidt, quase imperceptíveis na urgência do disco anterior, Monster Movie (1969), brilham durante toda a execução da obra. A própria Aumgn, com vozes cósmicas assumidas pelo tecladista, torna isso ainda mais evidente. É como um campo aberto à experimentação, estrutura que se reflete tão logo o álbum tem início, na sequência composta por Paperhouse, Mushroom e a misteriosa Oh Yeah, com seus vocais reversos, mas que acaba orientando a experiência do ouvinte até a derradeira Bring Me Coffee or Tea. Instantes em que o grupo preserva e perverte tudo aquilo que havia testado no disco anterior, porém, de forma ainda mais provocativa, imprevisível e louca.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.