Cozinhando Discografias: Rita Lee

/ Por: Cleber Facchi 18/01/2024

Em janeiro de 2012, quando Rita Lee já havia anunciado sua aposentadoria dos palcos e fazia uma de suas últimas apresentações em Barra dos Coqueiros, no Sergipe, a cantora se revoltou com a atitude truculenta da polícia militar em relação ao público e partiu para o ataque. “Cafajestes! Vocês estão fazendo de propósito. Eu sou do tempo da ditadura, se pensa que eu tenho medo, porra! Venha aqui! Eu sou mulher. Mulher, queridos!”, disse a artista, na época com 64 anos, que teve o show interrompido e foi encaminhada à delegacia sob a acusação de desacato à autoridade. Ainda que seja um recorte muito específico da movimentada vida da compositora paulistana, difícil não pensar nessa confusão toda como uma boa representação de rebeldia, coragem, deboche e fino toque de bom humor que orientou a obra da Rainha do Rock brasileiro durante seis décadas.

Uma das personagens mais icônicas da nossa música, Rita Lee Jones de Carvalho segue como uma das maiores vendedoras de discos do país. São quase 60 milhões de cópias ao longo da carreira, além de embalar diferentes gerações com sucessos como Lança Perfume, Amor e Sexo, Ovelha Negra, Doce Vampiro e Baila Comigo. Uma extensa produção que vai da literatura ao cinema, mas que encontrou na música a passagem para um repertório de enorme impacto cultural. Seja como integrante dos Mutantes ou no trabalho em carreira solo, quando estreitou laços com o parceiro amoroso e criativo Roberto de Carvalho, sobram registros que destacam a força de Santa Rita de Sampa. Com a ainda recente partida da cantora, trago agora uma seleção organizando do pior para o melhor lançamento cada um dos álbuns de estúdio produzidos pela musicista paulistana em mais uma edição do Cozinhando Discografias.


#21. Rita Lee e Roberto de Carvalho
(1990, EMI)

Apático, o olhar de Rita Lee e Roberto de Carvalho na imagem de capa do disco de 1990 que leva o nome do casal sintetiza a sensação de desgaste que marca o repertório de dez faixas. Por mais entusiasmadas que as iniciais Perto do Fogo, parceria da cantora com Cazuza, e Coração em Crise possam parecer, o que se percebe é a atuação de uma artista pouco inventiva, talvez exausta depois de duas décadas ininterruptas de atuação, percepção também reforçada nos antecessores Flerte Fatal (1987) e Zona Zen (1988). São arranjos e temas repetidos, como se a cantora desse voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias. Mesmo canções como La Miranda, com seus momentos de maior experimentação, acabam se perdendo quando próximas do restante da obra. Esquecível, o trabalho seria o último antes da separação profissional de Rita e Roberto após uma década de enorme sucesso.


#20. Zona Zen
(1988, EMI)

Zona Zen (1988) é um desses discos que acabam passando quase despercebidos dentro da discografia de Rita Lee. Mesmo com boas composições, como o rock de Nunca Fui Santa, representando a essência rebelde da paulistana, e a balada Livre Outra Vez, uma das criações mais sensíveis da artista, prevalece a execução de uma obra repleta de ideias repetidas, como uma soma daquilo que a cantora havia explorado entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980. A própria mudança do cenário, agora dominado por novas bandas como Titãs, Os Paralamas do Sucesso e Legião Urbana, parecia contribuir ainda mais para essa sensação de desgaste. Mesmo a imagem de capa, mesclando uma fotografia da cantora com uma ilustração em preto e branco, torna tudo ainda menos interessante. Um estranho fechamento de década que pouco se assemelha à boa fase vivida pela cantora anos antes.


#19. Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar
(2001, DeckDisc)

Em 1970, quando deu vida a Build Up, primeiro álbum em carreira solo, Rita Lee deixava bastante claro o fascínio pela obra dos Beatles ao regravar a faixa And I Love Him. Mais de três décadas depois, esse interesse pelo quarteto de Liverpool não apenas se manteve bastante explícito na obra da compositora, como levou a artista paulistana a investir no primeiro registro de versões da carreira, Aqui, Ali, em Qualquer Lugar (2001). São sete releituras e quatro adaptações em estilo bossa nova para músicas extraídas de diferentes fases do grupo inglês. Entre as canções que abastecem o disco, Minha Vida acabou integrando a trilha sonora da novela Desejos de Mulher e se transformou em um dos maiores sucessos comerciais da carreira da artista, além, claro, da própria faixa-título, que ganhou teve enorme repercussão ao ser incorporada como uma das composições de Agora É que São Elas. Uma doce carta de amor da Rainha do Rock aos Reis do Iê, Iê, Iê.


#18. Build Up
(1970, Polydor)

Rita Lee ainda integrava Os Mutantes quando deu vida ao primeiro trabalho em carreira solo, Build Up (1970). Não por acaso, a cantora e compositora paulistana contou com o suporte de Arnaldo Baptista, com quem estava casada na época, para assumir a direção artística do material, além, claro, de outros membros e colaboradores frequentes da banda, como o maestro Rogério Duprat. Ainda assim, o álbum de onze faixas é uma criação bastante característica da musicista. Da profética Sucesso, Aqui Vou Eu (Build Up), à cômica receita em Macarrão com Linguiça e Pimentão, passando pelo estudo de personagem em José aos temas latinos de Prisioneira do Amor, sobram momentos em que a artista, por vezes acompanhada pela guitarra de Lanny Gordin, aponta a direção para o que ainda estava por vir. Embora recebido com frieza na época em que foi lançado, o registro seria redescoberto anos mais tarde, se transformando em uma peça essencial dentro da discografia da cantora..


#17. Bombom
(1983, Som Livre / EMI / Universal)

Em boa fase desde o final da década de 1970, Rita Lee passou por um período bastante delicado quando, em 1983, teve de lidar com a morte de um de seus principais incentivadores, o pai Charles Fenley Jones, o que resultou em um consumo ainda maior de bebidas alcoólicas e outras substâncias ilícitas. Após um período de reabilitação, a artista, sempre em companhia de Roberto de Carvalho, voou para a cidade de Los Angeles onde deu vida ao 11º trabalho de estúdio da carreira, Bombom. Embora irregular e repleto de faixas dotadas de um senso de humor questionável, como a escatológica Degustação, o álbum revelou acertos como Desculpe o Auê e a própria música de abertura do disco, On the Rocks, uma das favoritas da cantora. Mesmo recebido de forma negativa pela crítica, Bombom teve uma vendagem expressiva e ainda teve músicas como Raio X e Bobos da Corte sendo incorporadas em trilhas sonoras de diferentes novelas da TV Globo.


#16. Flerte Fatal
(1987, EMI)

Diferente do material entregue no disco anterior, o sombrio Rita e Roberto (1985), Flerte Fatal (1987) traz de volta o que há de mais acessível, divertido e dançante no som produzido por Rita Lee. Estreia da cantora na EMI, o trabalho inaugurado por Brazix Muamba, com seus sintetizadores e batidas pulsantes, lembrando o David Bowie do álbum Let’s Dance (1983), segue de maneira dinâmica até os minutos finais. São canções como Pega Rapaz, Bwana e Xuxuzinho que seduzem sem grandes dificuldades. A própria versão para Blue Moon e o resgate de Me Recuso, originalmente apresentada por Gal Costa no disco Caras e Bocas (1977), destacam o domínio pop da cantora. Um doce clima de euforia que contrasta com a vida pessoal da artista, mais uma vez afundada em problemas com o alcoolismo e sofrendo fortes ataques da imprensa, o que levou Rita Lee a trabalhar a divulgação do disco somente em programas de TV como Xou da Xuxa e Globo de Ouro.


#15. Reza
(2012, Biscoito Fino)

Primeiro disco de inéditas de Rita Lee após um intervalo de nove anos, Reza (2012) traz de volta uma série de elementos explorados pela artista desde o início dos anos 2000, como a relação com a música eletrônica, porém, preservando a força das guitarras. Com exceção da curiosa Bamboogiewoogie, com pouco mais de sete minutos de duração, tudo gira em torno de um repertório acessível, sempre embalado por letras que se conectam sem grandes dificuldades com o ouvinte. São baladas, estudos de personagens e momentos de maior agitação que seguem exatamente de onde a cantora havia parado anos antes, quando deu vida ao ótimo Balacobaco (2003), vide as bem-sucedidas As Loucas, Tô Um Lixo e a própria faixa-título do trabalho. Um exercício criativo livre de possíveis excessos e que viria a pontuar com acerto a carreira de um dos nomes mais importantes da música brasileira.


Menção Honrosa: Rita Lee em Bossa ‘n’ Roll
(1991, Som Livre)

Muito antes da febre do Acústico MTV se estabelecer no Brasil, Rita Lee surgia em formato desplugado com o lançamento do álbum ao vivo Rita Lee em Bossa ‘n’ Roll (1991). Como o próprio título do trabalho aponta, trata-se de uma reinterpretação de clássicos da paulistana em formato bossa nova, além, claro, de versões para faixas como Every Breath You Take, do grupo inglês The Police. Profissionalmente separada de Roberto de Carvalho, a cantora uniu forças com um amigo de seus filhos, Alexandre Fontanetti, e passou a circular em casas de shows e espaços menores, sempre lotados. Entretanto, a convite de João Araújo, na época presidente da Som Livre, a artista decidiu registrar o material em formato álbum, sendo o primeiro disco pela gravadora carioca desde Flerte Fatal. Verdadeiro respiro depois de uma sucessão de obras pouco expressivas, o registro teve uma boa circulação – foram mais de 400 mil cópias vendidas –, além de contar com a presença de Gal Costa na música de encerramento do disco, Mania de Você.


#14. Rita Lee
(1993, Som Livre)

Depois de circular pelo Brasil em formato acústico e ter um programa na MTV Brasil, o TVleezão, que contou com doze episódios e foi encerrado após um incêndio na sede da emissora, Rita Lee entrava em estúdio para dar vida a mais um novo trabalho de inéditas. Autointitulado, o registro parece dialogar com o período em que foi produzido, destacando o uso ruidoso das guitarras e outros elementos típicos do som explorado no início da década de 1990. Vem desse direcionamento o estímulo para faixas como Todas as Mulheres do Mundo, Benzadeusa e a introdutória Filho Meu. Nada que prejudique a inserção de faixas menos urgentes, como Mon Amour e Drag Queen. O destaque acaba ficando por conta de Só Vejo Azul, princípio da parceria com o cantor e compositor paulista Itamar Assumpção.


#13. Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida
(1972, Polydor)

Em janeiro de 1972, foi inaugurado no Estúdio Eldorado a primeira mesa de 16 canais do Brasil. Para testar o espaço, porém, limitados pelo contrato com a gravadora que restringia o número de lançamentos d’Os Mutantes a um disco por ano, o grupo que havia apresentado meses antes o álbum Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets (1972), decidiu registrar o experimento como um novo disco solo de Rita Lee. O resultado desse processo, que ainda contou com a produção de Arnaldo Baptista, está na entrega de Hoje É o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida (1972), último disco com a formação original do grupo paulistano e um espaço aberto à experimentação, vide faixas como Tapupukitipa. Ainda assim, estão lá composições icônicas do repertório da artista, como Amor Preto e Branco, confessa homenagem ao time do Corinthians, além da introdutória Vamos Tratar da Saúde, música que destaca a lírica debochada e as guitarras que seriam melhor exploradas nos trabalhos seguintes da artista.


#12. Atrás Do Porto Tem Uma Cidade
(1974, Phillips)

Mesmo que boas canções sejam encontradas aqui e ali, vide a boa repercussão em torno de Mamãe Natureza e Menino Bonito, difícil não pensar em Atrás Do Porto Tem Uma Cidade (1974), primeiro disco de Rita Lee longe d’Os Mutantes, como um ensaio para o que a artista viria a explorar de forma ainda mais interessante nos próximos anos. Concebido em colaboração com os membros da Tutti Frutti, grupo formado em parceria com Lúcia Turnbull (guitarra), Luis Sérgio Carlini (guitarra) e Lee Marcucci (baixo), o álbum de dez faixas destaca o fascínio da cantora pela obra de estrangeiros como David Bowie e The Rolling Stones, porém, passou por diferentes modificações nas mãos do produtor Marco Mazzola, contratado pela gravadora para tornar a obra mais palatável. O público acabou não comprando e a artista, revoltada com a interferência excessiva da gravadora, rompe com a Phillips e decide assinar com a Som Livre. Era o princípio de uma das carreiras mais bem-sucedidas da história da música brasileira. 


#11. Santa Rita de Sampa
(1997, Universal)

Quem hoje ouve Rita Lee cantando em Santa Rita de Sampa (1997), 17º trabalho de estúdio da artista paulistana, dificilmente poderia imaginar que, meses antes de dar vida ao registro, a cantora havia caído de uma varada de quinze metros de altura, teve parte da mandíbula esmagada, perdeu 40% da audição do ouvido direito e passou quase três meses impossibilitada de falar. Para a surpresa dos familiares e da equipe médica, a musicista não apenas regressou em boa forma, como deu vida a um de seus melhores álbuns em anos. Alavancado por conta do sucesso de Obrigado Não, o disco produzido por Roberto de Carvalho e Moogie Canazio mostra uma artista tão inventiva e potente quanto na década de 1970, postura que se reflete na própria faixa-título, Normal Em Curitiba, na divertida Dona Doida, que virou música tema da novela Zazá, protagonizada por Fernanda Montenegro, além de Ando Jururu, em parceria com os Raimundos. Rita Lee estava de volta e pronta para ser apresentada à uma nova geração de ouvintes.


#10. Rita e Roberto
(1985, Som Livre / EMI / Universal)

A sombria imagem de capa de Rita e Roberto (1985) funciona como uma boa representação de tudo aquilo que a artista busca desenvolver no 12º trabalho de estúdio da carreira. Na contramão dos registros que o antecedem, o álbum de nove faixas chama a atenção pela atmosfera soturna e esforço da dupla em transitar por elementos que vão do pop adulto à música produzida por estrangeiros como The Cure. São canções como Vírus do Amor, em uma clara referência à pandemia de HIV/AIDS, Nave Maria e Vítima que utilizam de uma abordagem completamente distinta quando voltamos os ouvidos para o som entusiasmado de canções como Lança Perfume e outros sucessos da rainha do rock. Mais uma vez recebido com frieza por parte da crítica, que não economizava nos comentários machistas, o trabalho seria redescoberto ao longo dos anos, vide a inserção de Vítima como música tema da novela A Próxima Vítima, exibida dez anos depois, além de toda uma geração de novos ouvintes que se encantaram pela fase “gótica” da cantora.


#9. Entradas e Bandeiras
(1976, Som Livre)

Que direção seguir depois de uma obra tão impactante quanto Fruto Proibido (1975)? Na dúvida, Rita Lee decidiu manter o mesmo percurso em Entradas e Bandeiras (1976). Com produção de Pena Schmidt, que anos antes havia trabalhado com Os Mutantes, o registro talvez seja incapaz de replicar a mesma força arrebatadora do disco que o antecede, porém, está longe, muito longe, de decepcionar. A própria música de abertura, Corista de Rock, funciona como uma boa representação da potência criativa da artista durante o período. Surgem ainda canções como Bruxa Amarela, parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho, e a suingada Com a Boca No Mundo, destacando a riqueza do material. Entretanto, é no lirismo agridoce e forte aspecto sentimental de Coisas da Vida que reside a real beleza do álbum. Nessa época, a cantora ainda viria a conhecer o músico Roberto de Carvalho, com quem iniciaria uma relação amorosa que culminaria em uma das parcerias mais bem-sucedidas da história da música brasileira.


Menção Honrosa: Refestança
(1977, Som Livre)

Presos em 1976 por conta do porte de maconha, Rita Lee e Gilberto Gil decidiram celebrar a saída da cadeia em uma série de apresentações ao vivo em diferentes cidades brasileiras. O resultado desse processo está na entrega de Refestança (1977), trabalho que combina a força dos músicos da Tutti Frutti, na época já com Roberto de Carvalho, e os instrumentistas do Refavela, grupo montado pelo artista baiano para o disco homônimo que seria lançado no mesmo ano. Além da troca de repertórios, como a excelente versão da paulistana para Back in Bahia e a versão de Gil para Ovelha Negra, chama a atenção a releitura de É Proibido Fumar, criação de Roberto e Erasmo Carlos, mas que ganhava novo significado ao ser interpretada após a prisão dos dois artistas pela ditadura. Uma verdadeira festa de arromba!


#8. Balacobaco
(2003, Som Livre)

Mais de três décadas depois de lançar o primeiro disco solo, Rita Lee ainda era uma figura de enorme relevância artística. E isso ficou bastante evidente quanto a paulistana deu vida ao 20º álbum de estúdio da carreira, Balacobaco (2003). Tão inspirado quanto os antecessores Santa Rita de Sampa (1997) e 3001 (2000), o registro alterna entre canções que destacam a instrumentação orgânica e o uso de elementos sintéticos, conceito reforçado na própria faixa-título. Ainda que se sustente por conta própria, vide a boa repercussão em torno de músicas como Hino dos Malucos e Gripe do Amor, foi o uso na trilha sonora de duas novelas de enorme sucesso da época que serviram para catapultar as vendas do disco. De um lado, Amor e Sexo, inserida em Celebridade, de Gilberto Braga. No outro, Tudo Vira Bosta, composição de Moacyr Franco que foi aproveitada em Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva. Comercialmente bem-sucedido, Balacobaco vendeu mais de 500 mil cópias, teria um desdobramento no MTV ao Vivo de 2004, porém, seria o último disco de inéditas da cantora que só voltaria aos estúdios quase uma década depois.


#7. Babilônia
(1978, Som Livre)

Último registro da parceria com a banda Tutti Frutti, Babilônia (1978) foi concebido em um período bastante turbulento para Rita Lee. Presa pela Ditadura Militar por porte de maconha em 1976, a cantora, que na época esperava pelo primeiro filho, passou um ano em regime domiciliar. Apesar da repressão, a artista não se deixou abater e manteve o bom humor em alta, vide a parceria com Paulo Coelho na faixa Arrombou a Festa, compacto em que criticava o cenário musical da época e que vendeu mais de 250 mil cópias. Essa mesma leveza fica bastante evidente durante toda a execução de Babilônia, trabalho inaugurada pela divertidíssima Miss Brasil 2000 e que se completa pelas pegajosas Agora É Moda, Jardins da Babilônia, Eu e Meu Gato e Disco Voador, essa última, um dos primeiros registros da parceria com Roberto de Carvalho. Como indicado um ano antes, com o lançamento do registro ao vivo Refestança (1977), em parceria com Gilberto Gil, era o princípio da fase dançante da artista e uma despedida da roqueiragem iniciada no começo da década.


Menção Honrosa: Acústico MTV
(1998, Universal)

Rita Lee já havia se aventurado no formato acústico quando, no início da década de 1990, deu vida ao espetáculo Rita Lee em Bossa ‘n’ Roll, mais tarde transformado em disco. Entretanto, é no especial em vídeo lançado pela MTV Brasil que a artista paulistana alcança melhor resultado. Uma das performances mais icônicas do projeto, o trabalho produzido por Roberto de Carvalho acerta ao equilibrar velhas conhecidas no repertório da cantora, como Lança Perfume, Agora Só Falta Você e Eu e Meu Gato, com novidades como M Te Vê e a releitura para Gîtâ, de Raul Seixas e Paulo Coelho. Nada que prepare o ouvinte para a série de participações especiais, caso de Cássia Eller (Luz del Fuego), Titãs (Papai Me Empresta o Carro), Paula Toller (Desculpe o Auê) e Milton Nascimento, com quem divide uma das mais belas e emocionantes performances de Mania de Você. Com mais de 600 mil cópias vendidas, a boa repercussão em torno da obra ainda renderia um segundo registro com a emissora seis anos mais tarde, dessa vez no MTV ao Vivo (2004).


#6. 3001
(2000, Universal)

Entre o final da década de 1990 e início dos 2000, diferentes artistas brasileiros decidiram flertar com a produção eletrônica. De Adriana Calcanhotto a Lulu Santos, de Skank à Daniela Mercury, sobram nomes importantes da nossa música que não economizaram no uso das batidas e bases sintéticas. Com Rita Lee não foi diferente. Aproveitando a virada para o novo século, a cantora lança o futurístico 3001, obra em que se permite brincar com o uso de beats e outros componentes eletrônicos, porém, preservando a potência das guitarras sempre regidas pelo companheiro Roberto de Carvalho, com quem havia oficializado o casamento anos antes. Mais do que isso, o trabalho que atualiza a faixa composta por Tom Zé décadas antes é uma verdadeira coletânea de sucessos. Da releitura para Hera Venenosa, clássico dos Golden Boys na década de 1960, passando pelo encontro com Zélia Duncan, em Pagu, e os mineiros do Pato Fu, em O Amor em Pedaços, difícil não se deixar conduzir pelo registro que costura passado, presente e futuro de maneira totalmente única. 


#5. Flagra
(1982, Som Livre / EMI / Universal)

Desde o final da década de 1970, quando foi convidada a participar do especial Mulher 80, produzido pela TV Globo, Rita Lee havia se transformado em uma figura presente não apenas nas rádios e toca-discos de todo o país, mas também na tela da televisão. Décimo trabalho de estúdio da cantora, Rita Lee e Roberto de Carvalho (1982), hoje batizado de Flagra, funciona como uma boa representação desse resultado. Além de Só de Você, música que fez parte da trilha sonora da novela Louco Amor, de Gilberto Braga, o álbum conta com Cor-de-Rosa Choque, feita sob encomenda para a abertura do programa TV Mulher, além de O Circo, que deu nome ao musical da artista dirigido por Daniel Filho, também para a TV Globo. Entretanto, para além da relação com as telas, o disco conta com outros acertos, como a própria faixa-título e Brazil com S, composição que contou com a inusitada participação de João Gilberto. Uma coleção de pequenos acertos que vai da primeira à última canção.


Menção Honrosa: A Marca da Zorra
(1995, Som Livre)

A Marca da Zorra (1995) sintetiza de forma bastante eficiente a força de Rita Lee em cima dos palcos. Primeiro trabalho da cantora em parceria com Roberto de Carvalho desde o homônimo álbum de 1990, o espetáculo gravado no Rio de Janeiro captura parte da performance que contou com um castelo cenográfico, diferentes trocas de figurinos e uma combinação de estilos que vai do cinema de horror às histórias em quadrinhos, grande paixão da paulistana. Entretanto, para além da formatação estética, são as guitarras sempre em primeiro plano e o nítido entusiasmo da cantora que chamam a atenção ao longo da obra. E isso fica mais do que evidente em composições como Todas As Mulheres do Mundo, Ôrra Meu, Ando Meio Desligado, On The Rocks e demais criações que fizeram o público da época relembrar quem era a verdadeira rainha do rock no Brasil.


#4. Saúde
(1981, Som Livre / EMI / Universal)

Produto da época em que foi lançado, Saúde (1981) concentra o que há de mais característico no tipo de som produzido no início da década de 1980, como o uso destacado dos sintetizadores e a bateria eletrônica, porém, parece ter sobrevivido para além do período em que foi apresentado. Seguindo a trilha apontada no disco anterior, o trabalho não apenas reforça a parceria entre Rita Lee e Roberto de Carvalho, como evidencia o fascínio da cantora pela música pop. Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título, Tititi (Galinhagem), na marchinha futurística de Banho de Espuma, Atlântida e em Mutante, composição que seria redescoberta anos mais tarde ao ser gravada por Daniela Mercury. Pouco mais de trinta minutos em que somos presentados com uma sequência de canções que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição.


#3. Rita Lee
(1980, Som Livre / EMI / Universal)

Com o sucesso em torno do homônimo disco lançado em 1979, a crítica começava a se perguntar: será que Rita Lee teria fôlego para mais uma obra tão impactante? A resposta veio logo no ano seguinte, com o lançamento de outro registro também autointitulada, mas que acabou batizada pelo público por conta de uma de suas principais composições, a pegajosa Lança Perfume. E ela não foi a única. Cravejado de preciosidades, como Baila Comigo, Bem-Me-Quer, Caso Sério e Nem Luxo, Nem Lixo, o trabalho vendeu quase um milhão de cópias e apresentou a cantora ao mercado internacional, vide o bom desempenho em torno de algumas das principais faixas da artista. Reza a lenda que o próprio Rei Charles III, em uma festa comandada por Régine Zylbenberg, artista que inventou o conceito de discoteca na Europa, pediu que a DJ tocasse uma das músicas da brasileira, cantando a plenos pulmões a faixa Lança Perfume. Recebido de forma positiva, o álbum ainda rendeu uma turnê que se estendeu por mais de um ano e contou com nomes como Elis Regina e Gal Costa na plateia. A boa fase da paulistana estava longe de chegar ao fim.


#2. Rita Lee
(1979, Som Livre / EMI / Universal)

No final da década de 1970, Rita Lee havia se transformado na artista feminina que mais vendia discos no Brasil. Parte desse resultado vem da busca da cantora por uma proposta criativa cada vez mais acessível, pop e dançante, mas não menos interessante. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida no sétimo trabalho de estúdio da paulistana. Autointitulado, o registro de oito faixas conta com a presença de nomes importantes do período, como a dupla Robson Jorge e Lincoln Olivetti, além de outros como Jamil Joanes (Banda Black Rio), Jane Duboc (Bacamarte) e o ex-parceiro de banda Sérgio Dias (Os Mutantes). Toda essa movimentação, que ainda contou com a produção caprichada de Guto Graça Mello, resultou na entrega de preciosidades como Doce Vampiro, Chega Mais e a deliciosíssima Mania de Você, música em que se declara ao companheiro Roberto de Carvalho, que passou a exercer um papel de colaborador ainda vez maior, como um preparativo para o que ainda estava por vir nos anos seguintes. 


#1. Fruto Proibido
(1975, Som Livre)

Poucos artistas brasileiros souberam como dialogar com o público jovem com tamanha naturalidade quanto Rita Lee em Fruto Proibido (1975). Segundo registro da parceria com os membros da Tutti Frutti, o trabalho que marca a transição da cantora para a Som Livre é, de maneira incontestável, sua maior obra. E não poderia ser diferente. Além da liberdade criativa ofertada pelo selo e maior tempo para ensaiar as canções – o grupo passou meses em uma casa à beira da represa de Ibiúna, no interior de São Paulo –, o álbum ainda concentra algumas das melhores criações da paulistana. Da icônica Ovelha Negra, música que se transformou em hino para adolescentes de diferentes gerações, passando por Agora só Falta Você e Esse Tal de Roque Enrow, princípio da parceria com Paulo Coelho, sobram momentos em que a cantora, utilizando de uma combinação de hard rock, blues e glam rock, demonstra todo seu domínio criativo em estúdio. O resultado? Mais de 200 mil cópias vendidas na época em que foi lançado. Um feito inédito que garantiu à artista o título de Rainha do Rock Brasileiro e deu início a um dos períodos mais bem-sucedidos da carreira de Rita Lee.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.