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Crítica

Adrianne Lenker

: "Bright Future"

Ano: 2024

Selo: 4AD

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Angel Olsen e Jessica Pratt

Ouça: Ruined, Sadness As a Gift e Fool

8.8
8.8

Adrianne Lenker: “Bright Future”

Ano: 2024

Selo: 4AD

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Angel Olsen e Jessica Pratt

Ouça: Ruined, Sadness As a Gift e Fool

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2024

Existem artistas que, muito embora conhecidos pelo forte aspecto confessional de suas criações, como Phil Elverum, Sufjan Stevens e Thom Yorke, levaram uma vida inteira para se expor por completo em estúdio. Não é o caso de Adrianne Lenker. Desde que foi oficialmente apresentada ao público, durante a entrega de Hours Were the Birds (2014), a cantora e compositora norte-americana tem feito das próprias experiências sentimentais, muitas delas incorporadas de forma bastante expositiva, uma inesgotável fonte de inspiração.

Sexto e mais recente lançamento em carreira solo da também integrante do Big Thief, Bright Future (2024, 4AD) talvez seja o exemplo mais representativo disso. Marcado pelo reducionismo dos arranjos, o trabalho cresce na profunda sensibilidade dos versos e capacidade da musicista em comover por meio de cenas e acontecimentos simples do cotidiano. A própria canção de abertura, Real House, centrada em memórias da infâncias e momentos em que viu a própria mãe chorar, sintetiza de forma eficiente essa vulnerabilidade.

É como se Lenker partisse do banal, posicionando uma lupa poética no que talvez passasse despercebido para outros artistas, porém, fazendo disso a principal ferramenta de trabalho. A mera inversão da palavra “love”, na sétima faixa do disco, que de trás para frente pode ser lida como “evol”, ou “mal”, em português, funciona como uma delicada representação desses diferentes desdobramentos que a compositora busca desenvolver ao longo do material. Canções capazes de comover mesmo que não sejam pensadas para isso.

Claro que em alguns momentos essa naturalidade no processo de composição dá lugar ao surgimento de faixas marcadas pelo domínio poético de Lenker. “As estações passam tão rápido / Pensei que essa fosse durar / Talvez a pergunta fosse demais para ser feita“, canta em Sadness As A Gift, delicada criação em que trata das estações do ano como uma marcação temporal e metafórica para um de seus relacionamentos. São jogos de palavras e pequenas costuras líricas que meticulosamente ampliam os domínios da musicista.

Essa mesma riqueza no processo de composição dos versos acaba se refletindo na forma como a cantora articula a construção dos arranjos. Em geral, são canções que partem de uma base acústica, movidas pelo violão solitário de Lenker, porém, adornadas por camadas de pianos, ruídos e pequenos acréscimos que levam o trabalho para outras direções, tratamento reforçado na derradeira Ruined. Mesmo a percussão, sempre restritiva, cresce em pontos específicos da obra, como na já conhecida Vampire Empire, música originalmente apresentada pela artista no último ano, junto dos companheiros de banda no Big Thief.

Nesse sentido, Lenker faz de Bright Future uma combinação natural de tudo aquilo que tem explorado em mais de uma década de carreira, porém, partindo de um refinamento instrumental, lírico e estético que aos poucos transcende os limites da própria criação. É como um ponto de equilíbrio entre o material entregue nos antecessores Songs e Instrumentals, ambos de 2020, o que resulta em algumas repetições estruturais, mas que a todo momento perverte qualquer traço de linearidade e convence pela riqueza das emoções.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.