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Crítica

Ale Sater

: "Tudo Tão Certo"

Ano: 2024

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Terno Rei e Raça

Ouça: Quero Estar, Final de Mim e Ontem

7.7
7.7

Ale Sater: “Tudo Tão Certo”

Ano: 2024

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Terno Rei e Raça

Ouça: Quero Estar, Final de Mim e Ontem

/ Por: Cleber Facchi 23/09/2024

Como vocalista e um dos principais compositores da Terno Rei, Ale Sater sempre manteve o forte aspecto confessional na elaboração dos versos. Entretanto, é com a chegada de Tudo Tão Certo (2024, Balaclava Records), primeiro álbum em carreira solo, que o músico se expõe por completo. De conflitos pessoais a relacionamentos incertos, cada composição montada em colaboração com o produtor Gustavo Schirmer destaca a sensibilidade do artista que usa das próprias experiências para estreitar laços com o ouvinte.

Estou meio bêbado aqui / Alguém me diz quando parar / Há alguma chance de ficar? / Ah, eu sei que não dá”, canta em Final de Mim, composição que evidencia parte das angústias partilhadas por Sater, porém se encerra de maneira sóbria, evidenciando o equilíbrio que embala o registro. “A tristeza pode rir / Mas não passa do portão”, conclui o artista. São versos que alternam entre a dor e a libertação, como um acúmulo natural das experiências coletadas pelo músico ao longo da vida e agora moldadas em formato de canção.

Dessa forma, Sater transita por entre momentos de calmaria e caos com uma delicadeza única. Enquanto músicas como Vejo, com suas guitarras que evocam o Radiohead da fase The Bends (1995), evidenciam a parcial crueza do material, outras, como a já conhecida Quero Estar, suavizam para destacar o que há de mais sensível no trabalho. “Eu quero estar onde você estiver / Pois não represento mais perigo”, confessa o artista em meio a arranjos radiantes, como um aceno para o pop radiofônico produzido na década de 1990.

Pena que, entre uma canção e outra de maior destaque, algumas músicas parecem incapazes de causar a mesma sensação de impacto, diminuindo a força do trabalho. São composições como Girando em Falso e Cidade que mais parecem esboços ou ideias ainda incompletas. Parte dessa sensação é reforçada pelo uso de arranjos acústicos e estruturas bastante similares. A própria Desvencilhar, marcada pelo incontestável apuro lírico de Sater, não dá conta de traduzir nos arranjos a riqueza expressa na montagem dos versos.

Esses contrastes dentro do trabalho ficam ainda mais evidentes quando esbarramos em composições que destacam a potência da obra de Sater. É o caso de Ontem. Enquanto os versos funcionam como um passeio pela mente e sentimentos do próprio artista (“O tempo passou tanto / Você não sabe o quanto eu esperei”), arranjos cuidadosamente elaborados e até a inserção de um saxofone ampliam os limites do material sem necessariamente ferir o acabamento acústico que caracteriza as criações do compositor em carreira solo.

Independente da direção percorrida, admirável é a capacidade do artista em construir um repertório que, mesmo íntimo dos temas explorados com a Terno Rei, segue um percurso completamente distinto. Salve exceções, como Alguma Coisa, essa sim, similar às criações com a própria banda, tudo gira em torno de um universo bastante particular. São composições que equilibram de maneira eficiente o reducionismo dado aos arranjos com a grandeza de alguns dos melhores e mais delicados versos já apresentados por Sater.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.