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Crítica

André 3000

: "New Blue Sun"

Ano: 2023

Selo: Epic / Sony

Gênero: Jazz, Música Ambiente

Para quem gosta de: Pharoah Sanders e Laraaji

Ouça: I Swear, I Really Wanted to Make a 'Rap' Album...

8.5
8.5

André 3000: “New Blue Sun”

Ano: 2023

Selo: Epic / Sony

Gênero: Jazz, Música Ambiente

Para quem gosta de: Pharoah Sanders e Laraaji

Ouça: I Swear, I Really Wanted to Make a 'Rap' Album...

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2023

André 3000 não poderia ser mais claro. “Eu juro, eu realmente queria fazer um álbum de ‘Rap’, mas foi literalmente assim que o vento soprou desta vez“, afirma o artista norte-americano no título da canção que inaugura o primeiro trabalho em carreira solo, New Blue Sun (2023, Epic / Sony). Conhecido pelas criações como um dos integrantes do Outkast, além, claro, de colaborações ao longo da última década com nomes como Frank Ocean, James Blake e Beyoncé, o compositor deixa as rimas temporariamente de lado para investir em uma obra marcada em essência pelo uso de temas atmosféricos e delicado diálogo com o jazz.

Com a flauta como principal ferramenta de trabalho, André abre passagem para um ambiente marcado pelo forte aspecto contemplativo. São criações essencialmente longas, em sua maioria com mais de dez minutos de duração, como um lento desvendar de informações que se revela ao público em uma medida particular de tempo. Instantes em que o músico aponta com naturalidade para a obra de veteranos do jazz espiritual, como Pharoah Sanders e Alice Coltrane, porém, partindo de uma abordagem meditativa, por vezes íntima da suavidade que orienta as criações de Laraaji e outros idealizadores da música ambiente.

Toda essa suavidade no processo de composição do material resulta na entrega de uma obra que avança aos poucos, sem pressa, mas que em nenhum momento economiza nos detalhes. Do uso complementar da percussão, passando pela presença dos sintetizadores e vozes sempre tratadas de forma instrumental, cada mínimo fragmento do registro destaca o esmero de seu realizador em estúdio. Parte desse resultado vem da escolha do artista em fazer de New Blue Sun um trabalho tão autoral quanto colaborativo. São canções que abrem passagem para a chegada de parceiros criativos vindos dos mais variados campos da música.

É o caso de Carlos Niño, percussionista californiano que assume a produção do trabalho junto de André e o grande responsável pelo andamento rítmico dado ao disco. Juntos, os dois artistas apresentam ao público algumas das principais canções do registro. É o caso de BuyPoloDisorder’s Daughter Wears A 3000® Shirt Embroidered, criação que equilibra o caráter transcendental dos sopros com a estrutura ritualística da percussão, aterrizando sempre que o flautista começa a se perder pelo cosmos. Surgem ainda nomes como o tecladista Surya Botofasina e o músico Nate Mercereau, ampliando consideravelmente os limites da obra.

Sexta faixa do disco, Ghandi, Dalai Lama, Your Lord & Savior J.C. / Bundy, Jeffrey Dahmer, And John Wayne Gacy funciona como uma excelente representação desse precioso cruzamento de informações e diferentes colaboradores que surgem durante toda a execução do trabalho. São pouco mais de dez minutos em que camadas de sintetizadores, entalhes percussivos, sopros e guitarras atmosféricas se entrelaçam enquanto abrem passagem para as vozes de Mia Doi Todd. É como se cada elemento fosse encaixado no tempo certo, culminando em uma experiência catártica que naturalmente justifica a longa duração das composições.

De fato, quanto mais tempo passamos imersos nas composições de New Blue Sun, mais o trabalho se torna atrativo, evidenciando o refinamento estético e esmero do artista durante toda a execução do material. Dessa forma, mesmo pequenas repetições estruturais, principalmente na porção inicial do disco, acabam servindo de passagem para um ambiente marcado pelos detalhes e incontáveis camadas instrumentais que transportam o ouvinte para um mundo mágico. Canções que funcionam como o princípio de uma nova fase na carreira de André 3000, mas que a todo momento destacam a potência típica de um veterano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.