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Crítica

Andy Stott

: "Never the Right Time"

Ano: 2021

Selo: Modern Love

Gênero: Experimental, Eletrônica, Dub

Para quem gosta de: Forest Swords, Actress e The Haxan Cloak

Ouça: Never the Right Time e The Beginning

6.8
6.8

Andy Stott: “Never the Right Time”

Ano: 2021

Selo: Modern Love

Gênero: Experimental, Eletrônica, Dub

Para quem gosta de: Forest Swords, Actress e The Haxan Cloak

Ouça: Never the Right Time e The Beginning

/ Por: Cleber Facchi 07/05/2021

Andy Stott é um desses artistas que tem feito de cada trabalho de estúdio a passagem para um novo território criativo. E não poderia ser diferente com Never the Right Time (2021, Modern Love). Mais recente lançamento do produtor original de Manchester, na Inglaterra, o álbum de nove faixas preserva a essência dos registros que o antecedem, porém, estabelece no diálogo com Alison Skidmore, cantora, compositora, pianista e parceira de longa data, um importante elemento de transformação. Canções que passeiam em meio a camadas de sintetizadores, reverberações ecoadas e texturas típicas do dub, mas que em nenhum momento deixam de valorizar as melodias etéreas e vozes cuidadosamente encaixadas pela convidada durante parte expressiva do material.

Como forma de ambientar o ouvinte nesse novo cenário, Stott abre o disco justamente com duas composições assinadas em parceria com Skidmore. De um lado, a atmosférica Away Not Gone, música que parece saída de algum disco do Forest Swords, produto da lenta inserção de cada novo componente. No outro, os temas eletrônicos e sintetizadores irregulares da própria faixa-título do álbum, composição que vai de encontro ao mesmo território criativo de obras como Faith in Strangers (2014) e Too Many Voices (2016), efeito direto do desenho torto dado às batidas. É como se o produtor de Manchester e a parceira apresentassem parte das ideias, preferências e conceitos que serão aprofundados de maneira ainda mais expressiva pelos dois artistas até a derradeira Hard to Tell.

Exemplo disso acontece em Don’t Know How. Uma das músicas mais acessíveis já produzidas por Stott, a canção parte de uma sobreposição de batidas e sintetizadores menos herméticos, porém, estabelece nas vozes quase instrumentais de Skidmore um importante componente criativo nas mãos do produtor inglês. É como se o artista brincasse com a fragmentação dos elementos em uma abordagem quase rítmica, como uma fuga do pop etéreo que marca os minutos iniciais. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo em The Beginning. Escolhida para anunciar a chegada de Never the Right Time, o registro cresce na bem-sucedida combinação de vozes e temas eletrônicos que quase convidam o ouvinte a dançar, lembrando parte das criações de Jessy Lanza e Tirzah.

Outro elemento bastante característico em Never the Right Time diz respeito ao uso destacado dos instrumentos, principalmente a guitarra, em parte expressiva da obra. Perfeita representação desse resultado acaba se refletindo na derradeira Hard to Tell. Longe dos temas industriais que marcam os antigos trabalhos, Stott mergulha em uma canção marcada pelo uso de ambientações psicodélicas e arranjos que se conectam diretamente às vozes de Skidmore. A própria When It Hits, minutos antes, mesmo regida pela abordagem experimental do produtor inglês, garante novo acabamento ao uso dos sintetizadores, como uma interpretação pouco usual do repertório entregue em It Should Be Us (2019), registro em que se permite trilhar por vias pouco usuais dentro da própria discografia.

Mesmo imerso em novas possibilidades, Stott em nenhum momento se distancia do fino repertório entregue nos primeiros registros autorais. E isso fica bastante em Answers, sétima composição do disco. São pouco mais de quatro minutos em que o produtor utiliza de ambientações ruidosas, quebras e manipulações metálicas. É como se fossemos convidados a provar das mesmas experiências detalhadas em Faith in Strangers, porém, partindo de uma abordagem completamente inexata. Mesmo Dove Stone, minutos à frente, se projeta como uma extensão do material entregue em Luxury Problems (2012), porém, livre do mesmo refinamento estético e harmonias de vozes de Skidmore, componente responsável por trazer maior notoriedade e beleza ao repertório entregue pelo artista.

São justamente esses pequenos excessos e músicas talvez desconexas que prejudicam o desenvolvimento de Never the Right Time. Observado de maneira atenta, Stott parece incapaz de se decidir criativamente que direção seguir dentro de estúdio, minando a colaboração com Skidmore por conta do volume abusivo de músicas avulsas que distanciam uma parceria e outra. Mesmo que apresente uma série de novos conceitos criativos, o descontrole do produtor torna o processo de audição da obra bastante confuso. Curiosamente, foi a homogeneidade de registros como We Stay Together (2011), Passed Me By (2011) e o já citado Luxury Problems que fizeram do produtor inglês um artista conhecido, esmero que está longe de ser replicado nas canções do presente álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.