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Crítica

ANNA

: "Intentions"

Ano: 2023

Selo: Mercury KX / Universal

Gênero: Eletrônica, Música Ambiente

Para quem gosta de: Jon Hopkins e Stars of The Lid

Ouça: I See Miracles Everywhere e Receiving

7.6
7.6

ANNA: “Intentions”

Ano: 2023

Selo: Mercury KX / Universal

Gênero: Eletrônica, Música Ambiente

Para quem gosta de: Jon Hopkins e Stars of The Lid

Ouça: I See Miracles Everywhere e Receiving

/ Por: Cleber Facchi 30/05/2023

Conhecida pela forte relação com as pistas, Ana Lidia Flores Miranda, a ANNA, decidiu investir em uma abordagem diferente no mais recente trabalho de estúdio da carreira, Intentions (2023, Mercury KX / Universal). Com as batidas em segundo plano, a produtora brasileira que hoje reside em Barcelona se concentra na formação de ambientações etéreas, melodias e texturas sintéticas que parecem pensadas para envolver o ouvinte. Um exercício contemplativo que ganha forma em uma medida própria de tempo, mas que em nenhum momento ecoa de maneira arrastada, evidenciando o domínio criativo da artista.

Inaugurado pela própria faixa-título, Intentions apresenta parte dos elementos que serão explorados logo nos minutos iniciais do trabalho. São delicadas camadas de sintetizadores e inserções cintilantes que convidam o ouvinte a flutuar. É como se a artista fosse de encontro aos mesmos temas minimalistas de Brian Eno, porém, partilhando do frescor e precioso senso de atualização explícito nas criações de um de seus maiores discípulos, o produtor Jon Hopkins, com quem ANNA colaborou em algumas ocasiões. Frações instrumentais que se revelam aos poucos, sem pressa, abrindo passagem para o restante da obra.

Essa mesma delicadeza no processo de criação fica ainda mais evidente com a chegada da composição seguinte, Receiving. Completa pela participação de Laraaji, um dos precursores da música ambiente, a faixa parte dos temas meditativos que embalam o registro, porém, ganha ainda mais profundidade nos pequenos acréscimos e arranjos sempre calculados que rompem com a frieza dos sintetizadores. Pouco mais de sete minutos em que cada mínimo fragmento tem sua função, como um lento e misterioso desvendar de informações, direcionamento que ainda abre passagem para a canção seguinte, It’s All You.

Excessivamente econômica quando próxima de outras músicas que integram o disco, a faixa regida pela lenta sobreposição dos sintetizadores pouco acrescenta ao trabalho, mas em nenhum momento deixa de encantar o ouvinte, vide as inserções cristalinas que surgem nos minutos finais. Nada que Washing Away, vinda logo em sequência, não dê conta de solucionar. Marcada pela riqueza das texturas, batidas submersas e pequenos acréscimos, a canção mais uma vez destaca o minucioso processo de criação de ANNA. Um labirinto sonoro que assume diferentes formatações à medida que avançamos dentro dele.

Passado esse momento de maior refinamento, ANNA segue inspirada e ainda abre caminho para uma das principais composições do álbum, I See Miracles Everywhere. Marcada pela estrutura ascendente, a faixa talvez seja a que melhor incorpora a fluidez dos antigos trabalhos da artista, porém, preservando a essência contemplativa de Intentions. São ambientações sutis que encolhem e crescem a todo instante, estrutura que ganha novo tratamento na canção seguinte, Ayni, música que destaca o uso dos pianos e bases que emulam arranjos de cordas, transportando o disco para um novo e inusitado território criativo.

Com as portas abertas para novas possibilidades, ANNA encerra o trabalho com Let You In. Produzida em parceria com o norte-americano Trevor Oswalt, do East Forest, a canção convence pelo minucioso processo de criação da produtora paulista, porém, ecoa de maneira deslocada em relação ao restante do trabalho, efeito do uso destacado das vozes e batidas que sutilmente conduzem o ouvinte em direção às pistas. É como um respiro após a jornada meditativa que tem início nos primeiros minutos da obra e um natural regresso da artista ao território dançante que há duas décadas tem embalado suas composições.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.