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Crítica

Arooj Aftab

: "Night Reign"

Ano: 2024

Selo: Verve

Gênero: Jazz, Folk

Para quem gosta de: Shabaka Hutchings e Vijay Iyer

Ouça: Aey Nehin, Raat Ki Rani e Bolo Na

8.0
8.0

Arooj Aftab: “Night Reign”

Ano: 2024

Selo: Verve

Gênero: Jazz, Folk

Para quem gosta de: Shabaka Hutchings e Vijay Iyer

Ouça: Aey Nehin, Raat Ki Rani e Bolo Na

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2024

Arooj Aftab é uma dessas artistas em que a força da música transcende questões idiomáticas e de estilo para encantar pela beleza das formas instrumentais e sempre meticuloso processo de criação da cantora paquistanesa naturalizada norte-americana. Exemplo disso fica mais do que evidente com a chegada de Night Reign (2024, Verve), trabalho em que amplia tudo aquilo que foi revelado em Vulture Prince (2021), disco responsável por apresentar o som produzido pela musicista à uma parcela ainda maior de ouvintes.

A exemplo do registro que o antecede, Night Reign ganha forma aos poucos, combinando elementos que vão do folk de câmara da década de 1970 ao jazz enquanto utiliza da voz de forma meditativa, como um olhar para a música produzida na Ásia Meridional. A própria Aey Nehin, logo na abertura do disco, com seus movimentos sempre calculados, funciona como uma boa representação daquilo que será explorado ao longo da obra, direcionamento reforçado gradativamente na posterior Na Gul, ainda mais meticulosa.

Com a chegada de Autumn Leaves, com sua percussão presente e linha de baixo que parece ocupar todo e qualquer espaço da canção, Aftab se aventura pela língua inglesa na mesma medida em que estreita laços com James Francies e seu piano elétrico. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante e provocativa na posterior Bolo Na, música que contrasta a densidade do discurso político da poetisa Moor Mother com o vibrafone de Joel Ross, criando uma combinação única dentro de Night Reign.

Passado esse momento de maior turbulência, Aftab desacelera para dar vida à delicada Saaqi, música em que se reencontra com o pianista Vijay Iyer, com quem lançou há poucos meses o colaborativo Love In Exile (2023), registro completo pelo multi-instrumentista Shahzad Ismaily. Vem justamente desse olhar para a própria criação a escolha de revisitar Last Night, composição que, diferente da versão original, pontuada por elementos de reggae, agora partilha do mesmo som minimalista que rege o repertório de Night Reign.

Sempre interessada em testar os próprios limites dentro de estúdio, Aftab faz de Raat Ki Rani a música mais curiosa de Night Reign. Das vozes maquiadas pelo uso do auto-tune, passando pela percussão marcada que concede à faixa um caráter quase eletrônico, cada fragmento da canção destaca o esforço da musicista em não se repetir criativamente. A mesma tentativa acaba se refletindo na posterior Whiskey, criação talvez incapaz de causar um impacto similar, mas que acaba chamando a atenção por aproximar a artista do pop.

Por conta dessa propositada ruptura em Raat Ki Rani e Whiskey, ao esbarrar em Zameen, composição de encerramento do trabalho, somos confrontados com uma faixa que parece totalmente deslocada. Nem a presença de Marc Anthony Thompson e seu Chocolate Genius, Inc. dá conta de salvar a música que, não necessariamente diminui a força do material apresentado por Aftab, porém, parece incapaz de igualar o som meticuloso que se instala nos minutos iniciais e acompanha o ouvinte em parte expressiva da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.