Ano: 2024
Selo: Wonderfulsound
Gênero: Rock
Para quem gosta de: Bernardo Bauer e Chico Bernardes
Ouça: Álvaro Almeida e Do Colostro ao Osso
Ano: 2024
Selo: Wonderfulsound
Gênero: Rock
Para quem gosta de: Bernardo Bauer e Chico Bernardes
Ouça: Álvaro Almeida e Do Colostro ao Osso
Mirantes Emocionais (2024, Wonderfulsound) talvez seja o disco mais estranho já produzido por Arthur Melo. E isso está longe de parecer um problema. Livre do reducionismo que marca os primeiros registros autorais, como o EP Agosto (2017), o cantor e compositor mineiro parece interessado em ampliar os temas psicodélicos de obras como Nhanderuvuçu (2018), Metanoia (2019) e Adeus (2020), porém, partindo de uma abordagem totalmente transformada em que utiliza e interpreta a música pop à sua própria maneira.
Exemplo disso fica bastante evidente no que talvez seja uma das principais faixas do trabalho, a delirante Álvaro Almeida. Longe dos temas acústicos de outrora, Melo se aventura na construção de uma música que passeia de forma autoral pelo pop retrô da década de 1980. São camadas de sintetizadores, guitarras quase submersas e versos marcados pelo lirismo existencial. “Meu outro eu disse não / Interação cansa o coração / Qualquer um é intrusivo / Por favor não me olhe nos olhos / Eu olho nos seus“, confessa o artista mineiro.
São canções que funcionam como estranhos fluxos de pensamento, como um passeio nada delicado pela mente de Melo. “O Amor é dez / Amar é uma merda / O Amor é um barato / Amar é um absurdo“, despeja em Do Colostro Ao Osso, um rock torto que transita por diferentes estilos, encolhe e cresce de forma a jogar e tumultuar a experiência do ouvinte. É como se a todo momento em que o compositor mineiro tendesse ao conforto, um componente de ruptura fosse responsável por bagunçar o que parecia previamente alinhado.
Claro que isso não interfere na construção de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos de Melo. É o caso de Saídas, uma bossa reducionista, talvez contida em excesso, mas que cresce nos versos e inquietações compartilhados pelo mineiro. “Me diz / Como eu faço pra saber / Se eu gosto mesmo / De mim ou de você“, questiona. São contrapontos aos momentos de maior experimentação do registro e, ao mesmo tempo, uma manifestação poética do que há de mais precioso nos temas incorporados pelo cantor ao longo do material.
Pena que nem todas as composições que partilham desse direcionamento parecem capazes de causar o mesmo encantamento. São canções como De Toda Sorte e Maré que se arrastam de forma desgastante, comprometendo o andamento rítmico da obra e investindo e vozes dotadas de uma morosidade quase entediante. É na maior fluidez dos arranjos, batidas e vocais que Melo garante ao público algumas de suas melhores criações, caso de Na Avenida Com Benito, uma verdadeira viagem poética, sonora e emocional.
Independente da direção percorrida, prevalece em Mirantes Emocionais o esforço do artista em não se repetir. Mais uma vez acompanhado pelo coprodutor e multi-instrumentista Lucca Noacco, com quem já havia trabalhado anteriormente, além, claro, de membros da banda Ministério da Consciência, formada especialmente para o disco, Melo vai de um canto a outro sem medo de jogar com as possibilidades. São ideias talvez incompletas, como esboços em processo de desenvolvimento, mas nunca desinteressantes.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.