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Crítica

Artificial Brain

: "Artificial Brain"

Ano: 2022

Selo: Profound Lore

Gênero: Death Metal

Para quem gosta de: Blood Incantation e Faceless Burial

Ouça: Celestial Cyst e Glitch Cannon

8.2
8.2

Artificial Brain: “Artificial Brain”

Ano: 2022

Selo: Profound Lore

Gênero: Death Metal

Para quem gosta de: Blood Incantation e Faceless Burial

Ouça: Celestial Cyst e Glitch Cannon

/ Por: Cleber Facchi 29/12/2022

Embora longe de parecer uma banda iniciante, e os antecessores Labyrinth Constellation (2014) e Infrared Horizon (2017) deixam isso bem claro, difícil não pensar no terceiro e mais recente álbum da Artificial Brain como um recomeço. Mesmo a escolha em batizar o trabalho com o próprio nome funciona como um precioso indicativo desse direcionamento adotado pelos estadunidenses. É como se a banda formada pelos músicos Dan Gargiulo (guitarras), Oleg Zalman (guitarras), Jon Locastro (guitarras), Keith Abrami (bateria) e Samuel Smith (baixo, sintetizadores) transportasse para dentro de estúdio a mesma entrega e evidente visceralidade explícita nas apresentações ao vivo, porém, de forma ainda mais intensa e totalmente brutal.

E essa potência no processo de construção do álbum não se dá por acaso. Terceiro e último trabalho com a presença do vocalista original, Will Smith, o autointitulado registro de dez faixas encerra a trilogia iniciada com Labyrinth Constellation e ainda deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos da banda. Partindo desse fechamento de ciclo, o grupo demonstra todo seu poderio logo na homônima canção de abertura. Pouco mais de dois minutos em que guitarras dissonantes e a bateria explosiva de Abrami desabam sobre os versos que tratam sobre a robotização dos indivíduos em uma saga bélico-futurista.

É como um preparativo para o material que chega de forma ainda mais truculenta na canção seguinte, Glitch Cannon. Enquanto os versos se espalham em meio a paisagens descritivas, cenas e acontecimentos que tradicionalmente abastecem as criações do grupo, tudo converge para a formação de um denso bloco instrumental, quase intransponível. São paredões de ruídos que se completam pela metranca da bateria, tratamento reforçado na posterior Celestial Cyst. A diferença está na forma como as guitarras respiram momentaneamente, detalhando bases melódicas que rompem com a estrutura brutal adotada pelo grupo.

Essa mesma versatilidade fica ainda mais evidente com a chegada de A Lofty Grave. Enquanto o bloco inicial da composição segue a trilha do restante da obra, minutos à frente, o grupo parece brincar com a fragmentação dos elementos, destaca o uso dos sintetizadores e transita por vias pouco usuais. Vinda logo em sequência, Tome of the Exiled Engineer é outra que busca emular o dinamismo da música que a antecede, porém, perde fôlego e esbarra na repetição de ideias. Nada que a posterior Embalmed With Magma, sexta faixa do trabalho, não dê conta de resolver. De abertura atmosférica, flertando com os temas do black metal, a canção deixa os vocais em segundo plano para destacar a força dos instrumentos.

O oposto desse resultado acaba se refletindo na completa crueza de Parasite Signal. Da bateria espancada à rigidez das guitarras, cada fragmento da canção evidencia o que há de mais caótico e musicalmente instável no som produzido pelo grupo estadunidense. E essas pequenas alterações na estrutura do disco ecoam durante toda a porção final do trabalho, vide a mudança de direção que embala a música seguinte, Cryogenic Dreamworld, ou mesmo o acabamento apoteótico de Insects And Android Eyes, composição que transita por entre estilos, porém, sustenta na voz gutural de Smith um importante componente de amarra.

Passado esse intenso processo de criação, o grupo ainda reserva algumas surpresas com The Last Words Of The Wobbling Sun. Faixa mais extensa do disco, a canção ganha forma e cresce em um intervalo de mais de seis minutos onde o grupo continua a testar os próprios limites dentro de estúdio. Enquanto a bateria de Abrami mais uma vez aponta a direção, camadas de guitarras surgem e desaparecem a todo instante, desfigurando as vozes de Smith e jogando com a interpretação do público. É como um amontado retorcido de informações que concentra o que há de mais característico, torto e delirante no som do Artificial Brain.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.