Ano: 2025
Selo: Sujoground
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Servo e LEALL
Ouça: Plano, Renascer e Sonhos na Despensa
Ano: 2025
Selo: Sujoground
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Servo e LEALL
Ouça: Plano, Renascer e Sonhos na Despensa
A mensagem de Babidi em Depois Que a Água Baixou (2025, Sujoground) não poderia ser mais clara: “Só o povo unido, forte, é que vai conseguir mudar isso”. Lançado na mesma semana em que a força implacável das chuvas mais uma vez deixou suas marcas em diferentes cidades brasileiras, o registro de doze canções propõe uma reflexão sobre o racismo climático e negacionismo ambiental que o produtor carioca sentiu na pele quando uma enchente alagou a região onde vivia, no Parque Columbia, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Inaugurado pela voz de Seu Gerê, pai do produtor, o disco pinta um retrato realista, por vezes documental, sobre a vida nas periferias, o descaso do governo e a força da população que, mesmo desamparada, luta pela própria sobrevivência. São canções que deixam de lado as conquistas, sorrisos e todo um universo de pequenos excessos celebrados em outros trabalhos recentes em que esteve envolvido, como o álbum Eu Ainda Tenho Coração (2023), do rapper LEALL, para destacar a consciência social incorporada aos versos.
Marcado pelo forte aspecto colaborativo, Depois Que a Água Baixou abre passagem para a chegada de uma série de parceiros vindos dos mais variados campos da música. É o caso de Até Quando?, canção que não apenas destaca a força dos versos assinados por Bonsai, dialogando diretamente com o tema central da obra, como evidencia o capricho na produção das batidas e bases. São fragmentos jazzísticos completos pela interferência de Ciano, proposta que concede beleza e melancolia ao material entregue pelo artista.
Claro que nem todas as composições orbitam o mesmo universo criativo. Em Cabelo de Pivete, Faca e Fé, por exemplo, sobrevive na força das rimas assinadas pelo rapper Yung Vegan uma preciosa reflexão sobre o sentimento de deslocamento interno combinado com a ascensão social detalhada nos versos. Outra que chama a atenção é Sonhos na Despensa, parceria com VND que enche o trabalho com esperança, porém, preservando a sobriedade dos versos, direcionamento também explícito na introdutória Plano, com Killa Bi.
Sobrevive justamente nessa capacidade do produtor em equilibrar momentos de gritante descrença com faixas de essência transformadora, a real beleza de Depois Que a Água Baixou. Exemplo disso fica mais do que explícito na sequência formada pela própria faixa-título do disco e a posterior Renascer. Enquanto a primeira, potencializada pelas rimas de Servo, evidencia a crueza temática que consome o material, com a música seguinte, junto de Meg Pedrozzo, Babidi cai no R&B em uma canção que parece confortar o ouvinte.
Ainda que muitos desses elementos voltem a se repetir com menor impacto na segunda metade do disco, vide canções como Súplica Fluminense, prevalece durante toda a execução do álbum o capricho e atenção aos detalhes de Babidi em fazer de cada composição um objeto precioso. Seja na atmosfera opressiva de O que Sobrou do Céu, com Matheus Coringa, ou na crescente Tempo de Deus, parceria com Mmoneis, cada fragmento da obra reflete o olhar cuidadoso do produtor em traduzir experiências pessoais e coletivas em música.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.