Image
Crítica

BADBADNOTGOOD

: "Talk Memory"

Ano: 2021

Selo: XL / Innovative Leisure

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Thundercat e Madlib

Ouça: Love Proceeding e City of Mirrors

8.0
8.0

BADBADNOTGOOD: “Talk Memory”

Ano: 2021

Selo: XL / Innovative Leisure

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Thundercat e Madlib

Ouça: Love Proceeding e City of Mirrors

/ Por: Cleber Facchi 22/10/2021

É impressionante o processo de transformação e amadurecimento do BADBADNOTGOOD ao longo de toda a última década. Se em início de carreira o grupo canadense parecia interessado em replicar a obra de artistas como Flying Lotus, Tyler The Creator e Kanye West a partir de uma base jazzística, com o passar dos anos, a banda não apenas conquistou a própria identidade, como estabeleceu conexões com nomes importantes da cena norte-americana. E isso fica bastante evidente em cada uma das canções IV (2016), precioso ponto de ruptura e casa de composições como as delicadas Time Moves Slow e Lavender.

Esse mesmo exercício criativo acaba se refletindo em Talk Memory (2021, XL / Innovative Leisure). Quinto e mais recente trabalho de estúdio do grupo de Toronto, o álbum que conta com produção assinada pelos próprios integrantes, Chester Hansen (baixo, piano, guitarras), Alexander Sowinski (bateria, percussão) e Leland Whitty (saxofone, guitarra, pianos), segue exatamente de onde a banda parou há cinco anos. São composições que preservam o forte aspecto colaborativo, porém, substituindo o uso das vozes pela interferência direta de um time seleto de instrumentistas vindos dos mais variados campos da música.

E isso fica bastante evidente na série de faixas assinadas em parceria com o compositor e arranjador brasileiro Arthur Verocai. Depois de colaborar em uma apresentação ao vivo durante a última passagem da banda pelo Brasil, o trio canadense decidiu estreitar a relação o músico carioca que assume parte dos arranjos em algumas das composições mais expressivas do disco. É o caso de City of Mirrors, faixa que se espalha em meio a ambientações sublimes, abrindo espaço para os improvisos de cada integrante. Um precioso exercício de criação que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como na já conhecida Beside April e Love Proceeding, faixa que resgata a atmosfera de homônimo registro de estreia de Verocai.

Esse mesmo caráter colaborativo, porém, partindo de um direcionamento estético completamente distinto, acaba se refletindo logo nos minutos iniciais da obra, em Signal From The Noise. Completa pela produção de Sam Shepherd, o Floating Points, artista britânico que lançou há poucos meses o elogiado Promises (2021), parceria com o jazzista Pharoah Sanders, a canção de mais de nove minutos mostra a capacidade do grupo em lidar com os instantes. São incontáveis camadas instrumentais, improvisos e quebras que surgem e desaparecem durante toda a execução do material, capturando a atenção do ouvinte.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como o trio extrai o que há de melhor no material entregue por cada colaborador. Exemplo disso acontece na criativa colagem de ritmos que embala a derradeira Talk Meaning, música completa não apenas pelas orquestrações de Verocai, sempre suntuosas, como pelo saxofone de Terrace Martin e harpa cristalina de Brandee Younger. Mesmo a reducionista Unfolding (Momentum 73), encontro com Laraaji, um dos grandes nomes da música ambiente, reflete a capacidade do multi-instrumentista em investir na formação de um som mágico e transcendental.

Claro que essa busca por um repertório marcado pela permanente sobreposição de ideias e diálogos com diferentes artistas não interfere na produção de faixas assumidas em totalidade pelo trio. É o caso da brilhante Timid, Intimidating. São pouco mais de seis minutos em que o grupo parte de uma base essencialmente atmosférica, mas que ganha novos contornos à medida em que cada instrumento assume uma posição de destaque. Mesmo quando cercados por diferentes colaboradores, Hansen, Sowinski e Whitty nunca perdem o controle da obra, indicativo da completa força criativa que rege o trabalho.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.