Image
Crítica

Bárbara Eugênia

: "Crashes n’ Crushes"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Indie, Rock, Folk

Para quem gosta de: Pélico e Tatá Aeroplano

Ouça: O Amor Se Acabou e Estrela da Noite

6.5
6.5

Bárbara Eugênia: “Crashes n’ Crushes”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Indie, Rock, Folk

Para quem gosta de: Pélico e Tatá Aeroplano

Ouça: O Amor Se Acabou e Estrela da Noite

/ Por: Cleber Facchi 28/01/2022

Cantora e compositora fluminense, Bárbara Eugênia passou parte expressiva do último ano imersa em sintetizadores empoeirados que pareciam apontar diretamente para a década de 1980. São faixas como Hold Me Now, To Know The Odds e a releitura de The Best, eternizada na voz de Tina Turner, que serviram para apresentar a nova identidade criativa da artista, Djane Fonda. Entretanto, quem esperava por um novo registro de inéditas que utilizasse do mesmo direcionamento estético, com suas ambientações nostálgicas, encontrou nas canções de Crashes n’ Crushes (2021, Independente) uma completa fuga desse resultado.

Concebido e gravado em Lisboa, capital de Portugal, o sucessor do excelente Tuda (2019), de onde vieram faixas como Perfeitamente Imperfeita e Bagunça, utiliza de uma abordagem totalmente reducionista e acústica. São delicadas camadas instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses, como um complemento aos versos que tratam sobre memórias de um passado ainda recente, relacionamentos conturbados, chegadas e partidas. Instantes em que a artista resgata a mesma atmosfera do introdutório Journal de Bad (2010), porém, de forma ainda mais contida, estreitando a relação com o ouvinte.

Perfeita representação desse resultado acontece no que talvez seja a composição mais significativa do registro, O Amor Se Acabou. Enquanto os versos evidenciam o lirismo melancólico que serve de sustento ao trabalho – “O amor se acabou / E eu nem vi / Nem te vi partir / Já não importa mais / Levo o que é meu” –, ambientações enevoadas correm ao fundo da canção, dando maior profundidade ao material. É como um doloroso e libertador exercício de entrega sentimental, dualidade que estampa a imagem de capa do disco e acaba se refletindo em cada mínimo fragmento instrumental e poético que abastece Crashes n’ Crushes.

Uma vez imerso nesse ambiente consumido pela vulnerabilidade dos versos, cada composição explora um aspecto específico da vida amorosa. São canções marcadas pela necessidade de seguir em frente, porém, sempre buscando por um novo relacionamento. “Tente entrar em contato com esses sentimentos / Você pode descobrir que você está pronta / Pronto para amar“, detalha em Ready To Love, música que sintetiza parte das experiências e temas explorados ao longo da obra. Mesmo canções assinadas por outros artistas, como Estrela da Noite, de Jorge Mautner, parecem perfeitamente adaptadas ao contexto do registro.

Se por um lado essa maior aproximação entre as faixas evidencia o domínio criativo e intensa carga emocional da cantora, por outro, transparece um forte aspecto monotemático, tornando a experiência de ouvir Crashes n’ Crushes bastante custosa. Parte desse resultado vem da base instrumental que pouco evolui ao longo do trabalho. São canções ancoradas em ambientações acústicas e inserções discretas, por vezes de forma excessiva. É como uma fuga do material entregue no disco anterior, onde cada composição parecia transportar o ouvinte para um território completamente novo, sempre de maneira imprevisível.

Entretanto, na mesma medida em que torna a audição arrastada, Crashes n’ Crushes exerce um estranho fascínio. Co-produzido em parceria com Bianca Godoi, com quem a cantora havia colaborado no álbum passado, o trabalho de essência reducionista serve de passagem para um universo particular. É como um refúgio para as noites de solidão e carência afetiva. Canções talvez incapazes de replicar o mesmo domínio técnico explícito em alguns dos principais registros da cantora, como É o Que Temos (2013) e o já citado Nuda, porém, marcadas pela incontestável força dos sentimentos e entrega explícita dentro de cada versos.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.