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Crítica

beabadoobee

: "Beatopia"

Ano: 2022

Selo: Dirty Hit

Gênero: Indie Rock, Indie Pop

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Jay Som

Ouça: Talk, 10:36 e Sunny Day

7.8
7.8

beabadoobee: “Beatopia”

Ano: 2022

Selo: Dirty Hit

Gênero: Indie Rock, Indie Pop

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Jay Som

Ouça: Talk, 10:36 e Sunny Day

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2022

Livre da urgência explícita nas composições que marcam o introdutório Fake It Flowers (2020), a voz de Beatrice Laus, a beabadoobee, se projeta como um mantra: “é impressão minha ou recentemente o tempo está passando devagar?“. Partindo desse movimento contido, porém, sempre detalhista e íntimo do próprio ouvinte, a cantora e compositora filipina abre passagem para o segundo e mais recente trabalho de estúdio da carreira, Beatopia (2022, Dirty Hit). São canções em que a artista mergulha na construção de versos existenciais, desilusões amorosas e tormentos sentimentais compartilhados por qualquer jovem adulto.

Não por acaso, toda a porção inicial do trabalho se sustenta no uso das vozes e completa honestidade expressa pela artista radicada inglesa. “Eu sei que você pensou que éramos só nós / Eu não pensei que você iria se apaixonar / Você é apenas um corpo quente para segurar / À noite, quando estou me sentindo solitária“, canta em 10:36, música em que oscila entre o desejo e o desapego, indicando parte dos temas e direções exploradas ao longo da obra. É como uma extensão natural de tudo aquilo que beabadoobee tem produzido desde o início da carreira, porém, de forma ainda mais complexa e liricamente aprofundada.

E isso fica ainda mais evidente na sequência composta por Sunny Day, See You Soon e Ripples. São pouco mais de nove minutos em que a artista desacelera consideravelmente de forma a potencializar os próprios sentimentos expressos dentro de cada canção. Instantes em que reflete sobre a vida a dois (“Talvez amanhã estejamos bem, quando for um dia ensolarado“), desaba emocionalmente (“Eu queria ser tudo que você vê“) e busca por libertação (“Eu me sinto sozinho novamente, preso entre meus amigos / Acho que vou descobrir o meu caminho através deles“) de forma bastante sensível, estreitando a relação com o ouvinte.

Mesmo quando se distancia desse resultado e traz de volta as guitarras incorporadas ao trabalho anterior, beabadoobee em nenhum momento rompe com o lirismo confessional que serve de sustento ao presente disco. Exemplo disso acontece em Talk. Primeira composição do álbum a ser apresentada ao público, a faixa concentra o que há de melhor e mais característico no som produzido pela cantora. São blocos consideráveis de ruídos, quebras e batidas rápidas, estrutura que se completa pela poesia angustiada da artista. “Uma silhueta que está na minha cabeça / Você não existe, você é minha imaginação“, canta.

Entretanto, para além dessa estrutura contrastante que se divide entre momentos de maior calmaria e caos, Beatopia evidencia o esforço da cantora em testar os próprios limites em estúdio. Sexta faixa do disco, The Perfect Pair funciona como uma boa representação desse resultado. Assim como Billie Eilish, no ainda recente Happier Than Ever (2021), beabadoobee flerta com a bossa nova em um curioso exercício criativo que rompe com o restante da obra. A própria Tinkerbell Is Overrated, parceria com PinkPantheress, transporta o álbum para um novo território, aproximando a artista ainda mais da produção eletrônica.

Dessa forma, beabadoobee garante ao público uma obra que preserva tudo aquilo que tem sido explorado desde os primeiros registros autorais, porém, pontuada por momentos de maior transformação. Parte desse resultado vem da decisão da própria cantora em assumir a co-produção do trabalho e estreitar relações com um time seleto de novos colaboradores, como os músicos Matthew Healy e George Daniel, integrantes do grupo The 1975. Mesmo a construção dos versos evidencia a necessidade em garantir novo significado a diferentes temas e conceitos há muito incorporados de forma bastante desgastada por diferentes artistas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.