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Crítica

Beirut

: "A Study of Losses"

Ano: 2025

Selo: Pompeii

Gênero: Pop de Câmara

Para quem gosta de: Andrew Bird e Fleet Foxes

Ouça: Caspian Tiger e Guericke’s Unicorn

7.3
7.3

Beirut: “A Study of Losses”

Ano: 2025

Selo: Pompeii

Gênero: Pop de Câmara

Para quem gosta de: Andrew Bird e Fleet Foxes

Ouça: Caspian Tiger e Guericke’s Unicorn

/ Por: Cleber Facchi 20/05/2025

Quando convidado pelo circo sueco Kompani Giraff para produzir a trilha sonora do espetáculo A Study of Losses (2025, Pompeii), o desconforto tomou conta de Zach Condon. Por conta do grande sucesso em torno da faixa Elephant Gun, no final dos anos 2000, o artista temia que o Beirut mais uma vez fosse visto como uma espécie de “circo excêntrico”, como o projeto acabou interpretado por parte do público e imprensa.

Apesar do receio, Condon acabou aceitando o convite e o material entregue pelo norte-americano agrada. Naturalmente livre de grandes surpresas, o registro, que segue a cartilha dos últimos trabalhos do músico, como Gallipoli (2019) e Hadsel (2023), chama a atenção do ouvinte pela abordagem discreta. Canções que rompem com as orquestrações grandiosas de outrora para investir em um repertório de natureza serena.

E não poderia ser diferente. Ainda que parta de um direcionamento circense, o espetáculo de A Study of Losses foi concebido a partir de reflexões sobre o romance Inventário de Algumas Perdas (2021), da alemã Judith Schalansky, que trata justamente sobre temas como a morte e a perda da memória. Partindo dessa abordagem, Condon apresenta uma obra que atende ao próprio propósito, mas sobrevive para além dele.

Enquanto músicas como Disappearances and Losses e Mare Nectaris ajudam a estabelecer a atmosfera do espetáculo, outras, como Caspian Tiger, destacam a capacidade do músico em produzir grandes canções. São pinceladas instrumentais e versos sempre existencialistas que assentam em uma medida própria de tempo. Instantes em que Condon dialoga diretamente com o ouvinte, criando uma sensação de aconchego.

Interessante notar que, mesmo partindo de uma proposta criativa bastante específica, A Study of Losses é um trabalho repleto de acenos para os antigos registros do músico. Difícil ouvir Tuanaki Atoll e não pensar na canção como uma faixa perdida de obras como Gulag Orkestar (2006) e The Flying Club Cup (2007). Já Guericke’s Unicorn, com sintetizadores em destaque, parece extraída diretamente de The Rip Tide (2011).

Com A Study of Losses, Condon evidencia maturidade artística ao conciliar a introspecção de suas obras mais recentes com as memórias afetivas que cercam os primeiros trabalhos do Beirut. Trata-se de um exercício de síntese delicado, em que a ambientação circense jamais ofusca a densidade emocional das composições. Pelo contrário, funciona como pano de fundo para que o instrumentista explore perdas — reais, simbólicas e imaginadas — com sensibilidade. Uma trilha que, mesmo concebida para conduzir um espetáculo, ganha vida própria ao revelar um artista em plena harmonia com o tema, a forma e a essência.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.