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Crítica

Bemti

: "Logo Ali"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Indie Folk, MPB

Para quem gosta de: Marcelo Jeneci e Castello Branco

Ouça: Se Entrega e Livramento

7.5
7.5

Bemti: “Logo Ali”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Indie Folk, MPB

Para quem gosta de: Marcelo Jeneci e Castello Branco

Ouça: Se Entrega e Livramento

/ Por: Cleber Facchi 12/10/2021

A melancolia expressa em Era Dois (2018), primeiro álbum de Luís Bemti em carreira solo, parece longe de chegar ao fim. Três anos após o lançamento do último trabalho de estúdio, o cantor e compositor mineiro está de volta com um novo registro de inéditas marcado pelo mesmo direcionamento sentimental. Em Logo Ali (2021, Independente), cada mínimo fragmento da obra se espalha em meio a memórias de um passado ainda recente, versos consumidos pela saudade e uma agridoce combinação de elementos que se divide entre a necessidade de seguir em frente e o permanente desejo de regressar a um antigo amor.

E eu que não me arrependo de muito / Me vi correndo atrás de um perdão / Que eu não posso mais ter, mas que eu posso tentar“, detalha na confessional Livramento, logo nos primeiros minutos do disco. É como uma síntese das pequenas oscilações e incertezas que orientam a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. Um doloroso exercício sentimental que parte das vivências e desilusões amorosas de Bemti, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com o ouvinte, tratamento explícito desde o álbum anterior, vide composições como Eu Te Proíbo de Ter Esse Poder Sobre Mim e Gostar de Quem.

Se por um lado essa base romântica funciona como um componente de fortalecimento da obra, por outro, evidencia o que talvez seja um dos principais problemas de Logo Ali: o forte caráter monotemático. Do momento em que tem início até alcançar a derradeira De Tanto Esperar, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias e experiências sentimentais, muitas delas já resolvidas e exploradas pelo músico no disco anterior. É como um delicado exercício de reapresentação do artista, proposta que encanta pelo cuidado no trato dos versos, mas que pouco avança em relação ao material entregue em Era Dois.

Nesse sentido, sobrevive na fina tapeçaria instrumental que cobre o disco o principal elemento de transformação de Logo Ali. Para além dos temas acústicos detalhados no álbum anterior, Bemti se permite brincar com a maior inserção de ruídos eletrônicos e delicadas camadas de sintetizadores, estrutura que se completa pela sobreposição de arranjos de cordas, metais e entalhes percussivos. É como um delicado labirinto de sons e sensações, conceito reforçada pela produção minuciosa de Pedro Altério, membro do 5 a Seco, e Luis Calil, líder do grupo goiano Cambriana, parceiros durante toda a execução do trabalho.

A própria interferência de diferentes colaboradores garante ao trabalho um fino toque de ineditismo, capturando a atenção do ouvinte. Enquanto alguns são apresentados de forma bastante explícita, como Jaloo, na teatral Catastrópicos, e Fernanda Takai, no já conhecido dueto de Quando o Sol Sumir, outros assumem parte dos versos e instrumentos que correm ao fundo do registro. São nomes importantes como Paulo Santos (Uakti), Hélio Flanders (Vanguart), Roberta Campos, Rodrigo Kills (Cyberkills) e Marcelo Jeneci, esse último, responsável por parte das vozes, arranjos e co-produção da já citada Livramento.

Uma vez imerso nesse ambiente marcado pelas possibilidades e colaborações momentâneas, Bemti aproveita para confessar alguma de suas principais referências criativas. São canções que evocam nomes como Beirut, Laura Marling e Milton Nascimento, porém, preservando a identidade criativa do músico mineiro. A própria imagem de capa do trabalho, uma reinterpretação da tela O Derrubador Brasileiro (1879), de Almeida Júnior (1850 – 1899), sintetiza parte desse precioso cruzamento de informações e ideias que vão da música caipira ao pop de forma a estimular e brincar com a interpretação do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.