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Crítica

Big Thief

: "Dragon New Warm Mountain I Believe in You"

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Phoebe Bridgers

Ouça: Little Things e Time Escaping

9.0
9.0

Big Thief: “Dragon New Warm Mountain I Believe in You”

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Phoebe Bridgers

Ouça: Little Things e Time Escaping

/ Por: Cleber Facchi 16/02/2022

Não existem artistas hoje que deem conta de replicar o mesmo volume de entrega e qualidade explícita no material produzido por Adrianne Lenker. Em um intervalo de pouquíssimos anos, a cantora, compositora e produtora norte-americana não apenas deu vida a uma série de obras importantes em carreira solo, caso de Abysskiss (2018), Songs (2020) e Instrumentals (2020), como fez do Big Thief, grupo formado em parceria com Buck Meek, Max Oleartchik e James Krivchenia, um dos mais importantes da cena norte-americana, feito reforçado com a chegada de Dragon New Warm Mountain I Believe in You (2022, 4AD).

Sequência ao material entregue em Two Hands (2019), o trabalho de 20 faixas e pouco mais de 80 minutos de duração se revela ao público como uma obra viva. Assim como havia testado em U.F.O.F. (2019), Lenker e seus parceiros de banda se concentram na produção de um repertório totalmente imersivo e orgânico, fazendo de cada mínimo fragmento que surge por entre as brechas do disco um precioso componente criativo. Da corda estridente, meio bamba, utilizada como elemento rítmico em Time Escaping, aos estalos com os dedos que atravessam o coro de vozes e flautas em No Reason, todo e qualquer ruído, mesmo o mais discreto, exerce uma função específica dentro do ambiente proposto pelo quarteto norte-americano.

Não por acaso, durante toda a execução do material é possível sentir como se você estivesse dentro do disco. São diálogos ocasionais, texturas e atravessamentos que garantem maior profundidade ao álbum. Muito desse resultado vem da escolha de Krivchenia, baterista e produtor do registro, em deixar que pequenos vazamentos alaguem toda a superfície da obra, como uma transposição para dentro de estúdio das apresentações ao vivo do quarteto, sempre catárticas. Exemplo disso fica bastante evidente em Love Love Love, composição em que a voz desesperada de Lenker busca respirar em meio a camadas de distorções e batidas tortas. “Eu já morri / Estou cantando do outro lado / Por baixo do amor“, confessa.

Entretanto, para além do forte caráter ruidoso e atmosfera particular do registro, Dragon New Warm Mountain I Believe in You encanta pelo refinamento técnico e permanente busca do quarteto por novas possibilidades dentro de estúdio. Perfeita representação desse resultado acontece logo nos minutos iniciais do trabalho, em Spud Infinity, música que incorpora elementos do cancioneiro norte-americano, porém, dentro de uma linguagem própria do Big Thief. O mesmo esmero, porém, partindo de uma abordagem completamente distinta, fica bastante aparente em Flower of Blood, composição que rompe com a base acústica do disco para mergulhar em um ambiente soturno e denso, ainda pouco explorado pela banda.

São justamente essas trilhas pouco usuais dentro da produção do Big Thief que tornam a experiência de ouvir o trabalho bastante satisfatória. Do som festivo que toma conta de Red Moon, música que parece pensada para as apresentações da banda, passando pelo flerte com a produção eletrônica, marca de composições como Heavy Bend e Blurred View, evidente é o esforço do grupo em se desafiar a cada novo movimento. E isso fica bem representado no extenso repertório despejado pelo quarteto, mas que em nenhum momento ecoa de maneira arrastada, rompendo com o inchaço típico de obras tão volumosas.

Parte expressiva desse resultado vem do claro equilíbrio conquistado pela banda durante toda a execução do material. Entre momentos de maior experimentação e ruptura, músicas como a potente Little Things, Certainty e Simulation Swarm trazem de volta o disco para o mesmo território criativo que tem sido explorado pela banda desde a estreia com Masterpiece (2016). São momentos de maior vulnerabilidade, porém, tratados de forma grandiosa, como uma tentativa de Lenker em arrancar os próprios sentimentos, conflitos e vivências. Um misto de dor e libertação que conduz com naturalidade a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.