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Crítica

Bloc Party

: "Alpha Games"

Ano: 2022

Selo: BMG / Infectious

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Interpol e Franz Ferdinand

Ouça: Traps e If We Get Caught

5.8
5.8

Bloc Party: “Alpha Games”

Ano: 2022

Selo: BMG / Infectious

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Interpol e Franz Ferdinand

Ouça: Traps e If We Get Caught

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2022

A essa altura, depois de uma década de lançamentos esquecíveis, ninguém mais busca por uma grande obra do Bloc Party. Contudo, um trabalho descente é o mínimo que se espera de uma banda que fez de Silent Alarm (2005) e A Weekend in the City (2007) dois importantes registros na cena inglesa dos anos 2000. E é exatamente isso que Kele Okereke (voz, guitarra) e seus parceiros de banda, Russell Lissack (guitarra), Justin Harris (baixo) e Louise Bartle (bateria), garantem ao público com a chegada de Alpha Games (2022, BMG / Infectious), primeiro álbum de inéditas do quarteto em um intervalo de seis anos.

Alavancado pela potência de Traps, música escolhida para anunciar a chegada do material, o sucessor de Hymns (2016) se apresenta ao público como um típico registro do Bloc Party. São guitarras e batidas rápidas, momentos de maior calmaria e quebras bruscas que garantem movimento ao trabalho. É como uma extensão natural de tudo aquilo que o grupo britânico tem produzido em mais de duas décadas de carreira. A diferença está na forma como Okereke concede ao disco uma dose extra de intensidade, direcionamento bastante explícito logo na composição de abertura do álbum, a urgente Day Drinker.

Essa mesma força no processo de criação acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São músicas como Rough Justice e In Situ em que Okereke parte de um misto de canto e rima para capturar a atenção do ouvinte. Mesmo as guitarras de Lissack, sempre marcadas pelo refinamento melódico, se entrelaçam de forma dinâmica, rompendo com a morosidade explícita nos dois últimos trabalhos de estúdio. Um precioso cruzamento de informações, ritmos e vozes que ecoa de maneira explícita mesmo nos instantes em que o grupo desacelera para investir em temas contemplativos.

Exemplo disso acontece em If We Get Caught. Localizada próxima ao encerramento do trabalho, a faixa traz de volta a essência de músicas como This Modern Love e The Pioneers, investindo na construção de guitarras carregadas de efeitos, íntimas do som produzido por veteranos como U2. São estruturas labirínticas que ganham ainda mais destaque no lirismo confessional de Okereke, como um regresso aos primeiros registros autorais. “Vamos acertar, onde você for, eu irei / Em detalhes forenses, eles seguem a trilha / E isso leva direto para nós“, cresce a letra da composição, sempre adornada pelo coro de vozes.

Pena que nem todas as composições apresentadas ao longo do disco utilizam do mesmo refinamento estético e entrega da banda. Da letra profundamente estúpida que toma forma em Callum Is a Snake, passando pelo acabamento moroso de Of Things Yet to Come, música que ganha forma em meio a guitarras atmosféricas, quase arrastadas, sobram momentos em que o Bloc Party parece desnorteado em estúdio. Surgem ainda registros como The Girls Are Fighting, canção que parte de uma discussão interessante, caso das máscaras sociais e diferentes identidades adotadas pelos indivíduos em sociedade, mas que acaba se perdendo ao mergulhar em um pop rock barato que emula as criações de veteranos como Depeche Mode.

Embora instável, Alpha Games invariavelmente acaba se revelando como o trabalho mais consistente do Bloc Party desde o material entregue no divisivo Intimacy (2008). Parte desse resultado vem do longo intervalo que separa o último registro de inéditas da banda do presente disco, garantindo ao quarteto britânico a oportunidade de criar e testar novas possibilidades dentro de estúdio. A própria interferência dos produtores Nick Launay e Adam Greenspan, dupla que já colaborou com nomes como Yeah Yeah Yeahs e Arcade Fire, parece contribuir para esse resultado, reforçando o equilíbrio sutil que rege o álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.