Ano: 2025
Selo: RCA
Gênero: R&B
Para quem gosta de: Solange e Dijon
Ouça: The Field, Mind Loaded e The Train
Ano: 2025
Selo: RCA
Gênero: R&B
Para quem gosta de: Solange e Dijon
Ouça: The Field, Mind Loaded e The Train
Mesmo intimamente conectado à Nova Iorque, onde reside desde o fim dos anos 2000, Dev Hynes nasceu em Londres e viveu parte da infância e adolescência no condado de Essex, na região leste da Inglaterra. Vem justamente desse olhar para o próprio passado, além de um processo de luto experienciado após o falecimento da própria mãe, o estímulo para o delicado repertório revelado em Essex Honey (2025, RCA).
Quinto e mais recente álbum de estúdio do compositor britânico como Blood Orange, o sucessor de Black Swan (2018) se revela como o disco mais sensível e intimista de Hynes, porém, preservando o forte aspecto colaborativo do músico. São composições que utilizam de uma abordagem fragmentada, por vezes etérea, revelando elementos rítmicos, ambientações enevoadas e trechos de vozes gravadas por diferentes artistas.
Exemplo disso pode ser percebido em The Field, faixa que combina arranjos de cordas, batidas eletrônicas e o violão de Vini Reilly (The Durutti Column) com as vozes adicionais de Caroline Polachek, Tariq Al-Sabir e Daniel Caesar. Essa mesma riqueza de detalhes fica ainda mais evidente na composição seguinte, Mind Loaded, música que se completa pela delicada participação de Lorde e Mustafa, além da já citada Polachek.
Mesmo quando assume integralmente a elaboração das faixas, como em Somewhere In Between e The Last of England, o artista mantém firme a fluidez dos arranjos, melodias e vozes. Entre ecos de Julius Eastman e Arthur Russell, Hynes vai do R&B à música de vanguarda em uma proposta bastante particular, como uma interpretação ainda mais complexa do que vem sendo incorporado desde o álbum Freetown Sound (2016).
Partindo dessa irregular combinação de elementos, Hynes garante ao público um trabalho menos voltado à elaboração de faixas específicas e muito mais orgânico, como uma extensa composição. Claro que isso não interfere na entrega de músicas que funcionam isoladamente, como a dinâmica The Train (King’s Cross) ou mesmo Countryside, canção que ainda utiliza trechos de Saturday, do grupo norte-americano Yo La Tengo.
Ainda que Essex Honey se revele como a obra mais confessional de Hynes, sua natureza excessivamente abstrata dificulta a apreensão completa do que o compositor pretende comunicar. Há instantes de beleza incontestável, mas a densidade de camadas, o ritmo rarefeito e a multiplicidade de vozes podem afastar ouvintes menos dispostos a mergulhar nesse fluxo nebuloso. Essa opção estética, longe de comprometer a força do disco, exige uma escuta paciente, convertendo o álbum em uma experiência mais sensorial do que narrativa, onde o impacto emocional se constrói aos poucos, sem pressa ou concessões à previsibilidade.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.